Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A violência política (rememorando 1968)


15/07/2017

Foto: autor desconhecido.

A violência praticada em conflitos politizados era comum na década de sessenta no Brasil, acentuando-se no ano de 1968, com flagrante
desrespeito aos direitos civis e humanos. Os movimentos estudantis continuavam sendo fortemente reprimidos pelo governo. As manifestações não se voltavam exclusivamente contra a ditadura, mas também contra a política educacional do governo. A juventude tomava consciência do seu papel crítico na busca de uma maior participação política.

Mobilizados, levantavam bandeiras de transformação social e comportamental, tais como feminismo, racismo, ecologia, orientação sexual, etc. Intérpretes da indignação do povo brasileiro, os estudantes, nas ruas, ganhavam a adesão dos artistas, profissionais liberais e religiosos.

A reação do governo vinha de forma truculenta, colocando a polícia contra os manifestantes, provocando atos de violência injustificáveis. Espancamentos, prisões, assassinatos, fizeram o registro desses incidentes. O governo buscava sufocar a mobilização estudantil através da força, utilizando serviços de inteligência e informação para perseguir, ameaçar, torturar, censurar.

Lideranças políticas e religiosas protestavam através da imprensa. O arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires, em entrevista coletiva concedida à imprensa paulista, fez duras críticas à forma como o governo reprimia o movimento estudantil.

“O povo brasileiro é pacato, mas não passivo. Nosso dever é ajudar esse povo marginalizado que se tornou passivo a se tornar ativo, sem perder a sua caracterização de amante da paz. Só considero governo democrático aquele em que o povo participa, em que os governantes são mandatários do povo, e em que todos os planos venham da base. O Brasil é um país em que dois terços da população estão marginalizados do processo de escolha, da possibilidade de se manifestar em relação ao governo, a começar pela impossibilidade de escolher seus mandatários.

O governo é exercido por pequena minoria, o que é uma violência política. O que se vê no momento é uma recusa ao diálogo. Assim como os filhos exigem dos pais o diálogo, os estudantes têm o direito de contribuir para a organização da escola que lhes diz respeito. Eles não podem aceitar uma estrutura universitária em que eles não participem. Enquanto defendem seus direitos, as greves e manifestações públicas são válidas e não é com pancadaria que se resolvem os problemas.

Do livro “1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO”.
 


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