Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O movimento cultural da Paraíba (1968)


08/07/2017

Foto: autor desconhecido.

 


Apesar da situação política, das fortes restrições às liberdades públicas, da rígida censura imposta aos canais de informação, o ano de 1968 foi um dos mais fecundos para a produção cultural de nosso país. A criatividade era estimulada a pensar a realidade brasileira e as relações sociais em conflito. Vivia-se um momento cultural politizado, um ambiente cultural claramente oposicionista. A contestação ao regime, dedicando atenção especial aos temas ideológicos, alimentava o espírito das expressões culturais, fossem escritas, cantadas, lidas ou representadas.

Na Paraíba, essa efervescência cultural era sentida nos eventos acontecidos em João Pessoa. Lançamento de livros, montagem e apresentação de peças teatrais e exposições de artes plásticas, fizeram do mês de julho rico nesse processo de renovação cultural, que o mundo inteiro experimentava esse novo comportamento da intelectualidade e suas manifestações.

O Departamento Cultural da Universidade Federal da Paraíba, dirigido pelo conceituado escritor Juarez da Gama Batista, foi o grande propulsor desse instante de agitação cultural de nosso estado.

Logo no início do mês, o escritor Antônio Freire lançava o livro FRUTO DA TERRA, uma coletânea de suas melhores crônicas, focalizando fatos, coisas e personalidades da Paraíba. Era a primeira promoção do departamento cultural da UFPb, por isso seu diretor fez a apresentação no evento, que aconteceu no hall da reitoria da universidade.

Outro livro que causou forte repercussão nos meios intelectuais paraibanos foi CINEMA E PROVÍNCIA, de Wills Leal. Seu lançamento aconteceu festivamente no clube Astrea, com a presença das mais destacadas personalidades do nosso mundo cultural. Em seu livro, Wills Leal comentava os bastidores cinematográficos da Paraíba, desde os tempos de Walfredo Leal, revelando fatos curiosos ligados às atividades do cinema paraibano. Prefaciado por Oscar de Castro, então presidente da Academia Paraibana de Letras, o livro foi apresentado por Virginius da Gama e Melo, presidente do Conselho de Cultura.

José Altino apresentou, na Galeria José Américo de Almeida, noTeatro Santa Roza, um álbum de xilogravuras intitulado DANAÇÃO.

Guy Joseph concluía um álbum composto por serigrafias, tendo como temática: “o homem diante das perspectivas criadas pela crise mundial”. A obra de Guy Joseph recebeu o nome de “América, América”.

Celene Sitônio, professora do Dpto. Cultural da UFPb, fazia a primeira exposição de artes plásticas naquele mês. Seus quadros foram apresentados também na Galeria de Artes do Teatro Santa Roza. Breno Matos expôs, no Santa Roza, peças executadas em chapa de ferro colorido e em acrílico, reconhecidas pela crítica nacional como arte de vanguarda brasileira.

Luis Ramalho classificava para a finalíssima do Festival Nacional da Música Popular Brasileira, na Tv Excelsior, no Rio de Janeiro, sua composição “Retiro da Lua”, defendida por Roberto Rabelo.

No teatro, Anco Márcio montava a peça “A Menina e o Vento”, de Maria Clara Machado, com um elende estreantes na dramaturgia paraibana, composto por Yara Janner, Edmilde Cyrilo, Martha Janner, Zélia Moura, Manoel Marrocos, Eriberto Dedeu e Niedja Amaral, com especial participação do ator Roosevelt Sampaio. O guarda-roupa e cenários ficaram a cargo de Raul Córdula, com música do maestro Pedro Santos.

Como se vê, foi um mês de intensa produção cultural, mas o fato mais marcante foi a montagem de uma peça escolhida e encenada pelo grupo de teatro da Faculdade de Filosofia da UFPb, com o apoio total do Dpto. Cultural daquela universidade, que contratou o consagrado teatrólogo carioca Rubem Rocha Filho para ser o seu diretor. Foi uma experiência inovadora no teatro paraibano. No próximo texto, maiores informações a respeito.

• Do livro “1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO”.


 


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