Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Porque a indiferença?


02/07/2017

Foto: autor desconhecido.

 

É preocupante ver o estado de indiferença da sociedade brasileira diante da crise que estamos vivenciando. Fico buscando encontrar as razões dessa apatia nacional, dessa passividade coletiva, dessa alienação geral.

Me assusta ver uma população manifestando-se desacreditada nas suas instituições, um povo desesperançado, sem vislumbrar uma saída triunfante desse quadro de desalento. Me entristece perceber, até entre pessoas de nível cultural, a afirmação de que é melhor abdicar do direito de tentar influir na condução dos nossos destinos, recusando-se a exercer a faculdade de votar na tentativa de escolher quem poderia nos oferecer uma gestão pública que promovesse uma reviravolta na postura política dos que assumem a responsabilidade de conduzir nosso destino. Me assombra encontrar jovens ignorando uma verdade histórica que nos penalizou, ao defenderem a volta dos militares ao poder, desiludidos com a democracia. Me causa estranheza observar, justificando a ausência de lideranças merecedoras da confiança, a opção radical de apoiar candidaturas que em seus discursos alimentam a violência, fazem a apologia da tortura, assumem posturas preconceituosas de desrespeito às diversidades culturais.

Interessante como a revolta dos tempos atuais, ao invés de produzir reações de protesto, indignação, rebeldia, está a gerar um clima de absoluta insensibilidade e frieza perante o caos instalado. O comportamento de alvoroço é silencioso, como se houvesse uma atitude de resignação. Está mais para desencanto do que para posição de insubmissão.

Os poderosos estão alcançando seus objetivos, levar a população ao desinteresse na participação política das questões que digam respeito ao seu futuro. Tudo o que eles querem: terem o domínio da situação, sem que sofram qualquer objeção ou resistência às suas decisões. Para tanto, têm contado com a colaboração da grande mídia, responsável por “fazer a cabeça” de muita gente, incultindo a ideia de que reagir é promover a desobediência civil e a anarquia. Há uma estratégica manipulação de consciências no sentido de convencer a todos de que, se não adianta mudar porquanto há uma generalizada conduta de desconsideração aos princípios éticos e morais, melhor deixar como está.

O país está adormecido. Urge despertá-lo, antes que só seja despertado pela constatação do pesadelo que não tem mais como vencê-lo. Temos a responsabilidade cívica de levantar bandeiras de luta, como se fez em épocas pretéritas da nossa história, em defesa da honestidade administrativa, da igualdade social, da inconformação com os desvios de comportamento que geram a corrupção, da justiça social, da recuperação da credibilidade no “fazer política”. Como diz a sabedoria popular: é melhor prevenir do que remediar.


 


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