Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A luta dos estudantes pela reforma universitária (1968)


01/07/2017

Foto: autor desconhecido.

 

O movimento estudantil brasileiro nos anos sessenta sempre colocou na pauta de suas reivindicações a necessidade de se promover uma reforma educacional no país, em especial, no ensino superior. O sistema de ensino nacional era considerado elitista e desvinculado da nossa realidade social. O acesso dos estudantes à universidade pública e de qualidade era uma das bandeiras de luta que estimulavam as manifestações da juventude naquela década.

Em 1968, quando os estudantes decidiram sair às ruas de forma
mais objetiva brigando por seus pleitos e protestando contra a ditadura militar, a luta pela reforma universitária ganhou mais força de pressão junto ao governo federal. Reclamavam de que as universidades não tinham autonomia e sofriam indébita intervenção do governo em todas as suas dimensões. Entendiam que uma maior inserção da juventude nos espaços universitários contribuiria para a formação da consciência política do povo.

Protestavam contra a Lei Suplicy, que colocou a UNE e as UEEs
na ilegalidade, e o acordo Mec Usaid, que permitia a ingerência dos
Estados Unidos no sistema educacional do país. O modelo americano sinalizava para um projeto de privatização do ensino universitário no Brasil e continuava excluindo boa parte das classes populares do ingresso nas universidades.

Preocupado com as reivindicações estudantis, o governo da ditadura decidiu, em momentos diferentes, instalar duas comissões com a
finalidade de apresentarem propostas de soluções para os problemas
universitários do país. No final de 1967, era criada a Comissão Meira
Mattos, que funcionou no período de 11 de janeiro a 08 de abril de
1968, presidida por um general que deu nome à comissão. Essa comissão foi criada muito mais para analisar a crise na educação, provocada pela agitação ideológica do período, do que propriamente apresentar propostas para a reforma universitária. Um problema grave da época eram os excedentes, aqueles que aprovados nos vestibulares não conseguiam matrículas nas universidades. Isso ensejou muitas greves e manifestações no início do ano, tensionando o clima no meio estudantil.

Concluído o relatório da Comissão Meira Mattos, o governo instalou o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária, o que veio a acontecer no mês de junho. De posse do diagnóstico da crise universitária brasileira, produzido pela Comissão Meira Mattos, o grupo de trabalho enfrentou os seguintes temas: autonomia universitária, institutos centrais, desenvolvimento da pesquisa na universidade, indissociabilidade entre ensino e pesquisa, os ciclos básico e profissional, o tempo integral e a instituição de carreira no magistério.

Entendendo, ou procurando simular o entendimento, que os debates são a forma mais adequada para buscar soluções de questões sociais, o governo, por seu Ministro da Educação, solicitou aos governos estaduais que colhessem sugestões para municiar o grupo de trabalho na formatação da proposta da reforma universitária brasileira. Na verdade, a intenção maior era conter a onda de agitações consequente da demanda dos estudantes em relação ao ensino universitário do país.

Na Paraíba, o governador João Agripino designou também o seu
grupo de trabalho para colher propostas a serem encaminhadas ao
ministro, presidido pelo secretário de educação. Encaminhou, portanto, cartas convidando figuras eminentes dos centros acadêmicos paraibanos, entre essas, os professores Kleber Cruz
Marques, Agnelo Amorim Filho, Luiz José de Almeida, Milton Paiva, Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, Evaldo Cruz, Atilo Augusto Freitas e Everaldo Lopes Ferreira. Dirigiu, também, correspondência de convite para participar do grupo de trabalho estadual ao presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Paraíba.

Nas cartas, o governador afirmava:
Embora tenham sido solicitadas sugestões ao governador, admito que o problema é demasiado complexo e exige participação de pessoas de alto nível profissional e moral, de forma que a contribuição expresse o consenso cultural da Paraíba.

Prevaleceu o espírito democrático que caracterizava o perfil
político do governador João Agripino, procurando socializar a discussão da matéria, consultando inclusive a representação estudantil, através do presidente do DCE.

• Do livro “1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO”
 


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