Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Uma tarde de sentimentos desagradáveis


08/12/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Fui dominado por vários sentimentos enquanto assistia pela tv a votação sobre o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, realizada ontem a tarde pelo Supremo Tribunal Federal.

O primeiro sentimento foi de surpresa, ao ver o decano Ministro Celso de Mello, retificar o seu voto proferido anteriormente, buscando encontrar uma solução conciliatória que atendesse aos interesses do governo. E tomou a iniciativa de se antecipar aos demais na proclamação do seu voto, talvez para encorajar os colegas a lhe acompanharem na estranha manifestação de julgamento.

O segundo foi de tristeza, quando me certifiquei de que a mais alta corte do país, passa a tomar decisões ditadas pelas conveniências. Antes da fundamentação jurídica, prevalecendo o atendimento a objetivos políticos traçados pelo poder vigente. Tirar Renan da presidência do Senado representaria risco à manutenção da pauta que interessa ao governo. Os ministros entenderam isso e se curvaram aos apelos do executivo. Judiciário, Legislativo e Executivo, irmanados, num só propósito, ainda que ferindo a ordem legal.

Também o sentimento foi de desesperança. Está cada vez mais difícil enxergar uma luz no fundo do túnel. A escuridão deixando a todos nós brasileiros numa cegueira que não nos permite ver as coisas com o olhar de percepção crítica. De quem esperávamos atuar como guardião da Constituição, postando-se como salvaguarda do Estado Democrático de Direito, verificamos posição inteiramente subserviente aos conchavos, aos acordos políticos fechados nas madrugadas, aos entendimentos escusos nos gabinetes dos três poderes.

Em suma, ficou o sentimento maior de decepção. Aquele momento em que baixamos a cabeça e ficamos entorpecidos pelo desencanto. Queira Deus que esse sentimento tenha sido apenas momentâneo. Espero que, vencido o trauma do acontecimento, possamos nos reanimar e prosseguir na luta pelo restabelecimento da justiça que encaminhará a nação para dias promissores. A postura não pode ser de passividade. O clamor público pelo respeito à ética e a seriedade no exercício da política, bem como à observância dos preceitos legais, deve ecoar forte, para que seja ouvido pelos que se recusam a cumprir bem as suas funções enquanto ocupantes de cargos de relevância na condução dos destinos desse país. Que Deus tenha piedade de nós.
 


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