Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A campanha do medo venceu


09/11/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Donald Trump começou brincando de ser candidato à presidência dos Estados Unidos. Acho que nem ele próprio acreditava que essa brincadeira se tornasse coisa séria. Não dá para pensar de forma diferente, ao ver alguém postular uma eleição para um cargo de tamanha importância com discursos tão polêmicos, cheios de ameaças e promessas que assustavam não só os eleitores, mas todo o mundo.

Explorou bem o sentimento nacionalista do povo norteamericano. O receio de perder a hegemonia como potência líder no planeta, a partir de sentimentos xenófobos e racistas, fez com que grande parte do eleitorado aceitasse bem o discurso do medo. Daí a repercussão do lema maior da sua campanha: “A América vai se tornar grande outra vez”. Dominava a sensação de que estava perdendo a condição de “xerife do mundo” e isso feria o orgulho americano. Trump tornava-se o portavoz dos que tinham medo de ver os Estados Unidos diminuídos. Apresentava-se como único a ter competência para promover a autodefesa da nação.

A invasão dos mulçumanos e imigrantes latinos foi colocada como causa do desemprego e da insegurança entre os americanos. O discurso que, num primeiro instante parecia algo improvável de ser assimilado, foi aos poucos ganhando força e adesão. E Trump viu que já não estava mais brincando de ser candidato, havia chances reais de conseguir a proeza de chegar à Casa Branca.

O medo então venceu. E, em consequência, causou outros medos, agora sentidos fora da área geográfica do país. Sua surpreendente eleição apavorou o mundo na madrugada de hoje. Há um temor global de que ele cumpra suas ameaças: expulsar onze milhões de imigrantes ilegais e mulçumanos, construir um muro na fronteira com o México, rever tratados comerciais assinados com o Canadá, México e países do Pacífico, aplicar impostos de quarenta e cinco por cento em todos os produtos importados da China, entre outras.

Entretanto, há de se lembrar que tem sido uma regra na política colocar a prática distante do discurso. Não será tão fácil cumprir o que prometeu. Seu primeiro pronunciamento após eleito já foi bem diferente, utilizando um tom conciliatório. Tenho a impressão de que esse cão raivoso não tem todos os dentes. Cachorro que ladra não morde. Vamos torcer para que, nesse caso, o ditado se confirme.

De qualquer forma é uma incógnita. Há um clima de tensão em todos os recantos do mundo. Homem de ideias conservadoras, impulsivo, sem experiência política, nascido em berço de ouro, destemperado, ultradireita, o novo presidente dos Estados Unidos tem um perfil que não nos dá tranquilidade quanto ao futuro que pode oferecer ao seu país e ao mundo. Só nos resta rezar para que suas excentricidades não afetem ainda mais o clima de desarmonia que impera mundialmente.


 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.