Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A inauguração do Hotel Tambaú


11/07/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Enfim o Hotel Tambaú estava pronto. Como dizia o governador Ernani Sátyro, “a Paraíba abria as portas para o turismo”. A cidade ganhava o seu mais novo cartão postal. O projeto arquitetônico, que levava a assinatura de Sérgio Bernardes, chamava a atenção, não só por sua singular forma arredondada, mas por ter sido construído nas areias da praia, algo inusitado.

Certamente na atualidade não se permitiria a sua construção. Na época João Pessoa não possuía ainda o seu Plano Diretor, que só veio a existir em 1974. Portanto, não havia ilegalidade na sua edificação. Hoje os ambientalistas se insurgiriam contra por considerá-lo uma agressão à natureza.

Depois de construído, o governo do Estado vendeu o equipamento turístico à Companhia Tropical de Hotéis. Também não se questionou a forma da operação de venda, mesmo sem concorrência pública.

A inauguração aconteceu na noite do dia onze de setembro de 1971, com uma festa em que só participaram personalidades convidadas. O povo não teve acesso, o que se entendia como conveniente para preservar a sua estrutura física. Não era um evento adequado à participação popular. Presentes o Governador que concluiu a obra, Ernani Sátyro, e o governador, que deu início e teve a idéia da sua construção, João Agripino. O hotel conta, por isso, com duas placas comemorativas de inauguração. Nessa noite o cinema, também inaugurado, exibiu o filme “O Aeroporto”.


Na véspera, os novos proprietários do hotel, ofereceram um almoço às autoridades. Ocorreu um fato que causou certo constrangimento. O Padre Zé Coutinho teria sido barrado à entrada do restaurante. Ao tomar conhecimento do que acontecera, o governador Ernani Sátyro manifestou seu desagrado e comunicou a decisão de levar o sacerdote que havia sido impedido de comparecer ao almoço, para a solenidade de inauguração, e que seria ele o responsável pela bênção religiosa do hotel, mesmo com a presença do arcebispo Dom José Maria Pires. Essa foi forma que a principal autoridade do Estado encontrou para desagravar o Padre Zé.

O quadro de empregados era quase na sua totalidade formado por paraibanos, selecionados pelos profissionais de recursos humanos da Companhia Tropical de Hotéis. Em frente se instalou uma praça de taxis, com dez opalas, cujos motoristas foram especialmente treinados para prestarem serviços aos turistas.

Para os que não tiveram a oportunidade de participar da festa da inauguração, só puderam conhecer a parte interna do Hotel dias depois, conforme agendamento ao público, de forma a evitar aglomerações que comprometessem o seu funcionamento normal, nem perturbassem os hóspedes. O Hotel Tambaú é classificado como uma das obras clássicas da arquitetura brasileira. Tornou-se motivo de orgulho para todos os paraibanos.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


 


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