Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A reunião com João Agripino


22/06/2016

Foto: autor desconhecido.

 

No segundo semestre de 1968, fui surpreendido com um convite para participar de uma reunião com o governador João Agripino. Ele manifestara interesse em conversar com alguns estudantes. Estava claro que queria compor uma força política jovem sob o seu comando. Imaginava ser essa a melhor maneira de enfrentar a reação da juventude ante o movimento que se intensificava em combate ao governo dos militares.

Dispus-me a ir, mesmo consciente das suas intenções, não só pela curiosidade, mas também pela oportunidade de conhecer pessoalmente aquela liderança política, por quem nutria respeito e admiração, apesar da sua ligação ao sistema dominante. João Agripino, em que pese a sua vinculação ao partido que dava sustentação política aos ditadores, impressionava por sua coragem ao tomar decisões que contrariavam o poder central. Assumia publicamente algumas divergências com o governo federal. Conhecia-o a distância, quando acompanhava meu pai nos comícios de sua campanha. Era um grande orador de convencimento, sem ser um tribuno de discursos onde se destacassem frases bem elaboradas que se perpetuassem como célebres na nossa história política. Seu poder de persuasão era, no entanto, bem perceptível.

O encontro aconteceu à noite na residência de José Medeiros Vieira, então secretário de educação do governo estadual, que se localizava na Praça da Independência. As vinte e trinta horas, quando já estavam presentes todos os convidados, entre os quais, lembro de, Geraldo Targino, Aldson Salgado, Levy Borges, Wilson Terroso, Nilo Feitosa, Johnson Abrantes, entre outros, chegou o governador, trazendo debaixo do braço um litro de uísque.

Estávamos ali muito mais para ouvir do que falar. Ele nos deixava informados da sua experiência política, procurando nos passar orientações interessantes de como deveria se comportar um líder na condução das atividades ligadas á vida pública. A sensação era de que estávamos assistindo uma aula prática de política.

Por volta de meia noite, entendi que era chegada a hora de ir embora, afinal de contas já estava empregado e a responsabilidade profissional me chamava ao trabalho logo cedo da manhã seguinte. Pedi licença para me ausentar, no que fui questionado sobre as razões da minha saída. Comuniquei que precisava acordar cedo para ir trabalhar. Perguntou onde eu trabalhava. Ao tomar conhecimento de que eu era funcionário do Banco do Estado da Paraíba, quis me tranquilizar dizendo: você amanhã diz ao gerente que estava reunido com o governador. Achei graça na sua colocação e rebati: difícil governador será o gerente acreditar nessa minha desculpa.

Foi a única reunião de que participei. Não sei se outras aconteceram depois. Entretanto, gostei de ter tido a chance de conversar pessoalmente com essa personalidade marcante da nossa história política estadual.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
 


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