Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

As matinês do Astréa


11/06/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Ontem quando entrei no Astréa para a festa de aniversário do prefeito Luciano Cartaxo, me lembrei que nas décadas de sessenta e setenta, tempo de minha juventude, nosso programa preferido nas tardes de domingo eram as matinês naquele clube.

Saiamos de ônibus, eu e Agnaldo Azevedo, meu vizinho na Rua Sérgio Dantas, em Jaguaribe, e companheiro das baladas da cidade, não possuíamos carro. Descíamos na Lagoa e íamos a pé até o Astréa. Procurávamos chegar bem antes do horário de início, de forma a que pudéssemos localizar uma mesa que nos favorecesse a visão de todo o salão, o que facilitava a escolha de parceria na dança.

Fazíamos sempre uma aposta. Quem “abrisse o salão”, estaria livre de pagar o rum e as coca-colas que consumiríamos na festa. Era uma disputa interessante, não tinha favorito, havia alternância do ganhador das paradas. Mas era uma frustração quando, por uma opção equivocada, levávamos um “fora” da primeira garota que convidávamos para dançar.

Só íamos embora quando a matinê se encerrava. Caminhar a noite, pelas ruas do centro de João Pessoa, não era tão perigoso quanto hoje. Não vivíamos amedrontados com a violência urbana, porque praticamente não existia. Dificilmente acontecia alguma briga. A juventude que para ali se deslocava, tinha os objetivos únicos de dançar e paquerar.

Estávamos em plena efervescência do movimento musical conhecido como “iê-iê-iê”. Em nossa capital existiam várias bandas de rock, elas se revezavam a cada domingo no clube de Tambiá. Os Quatro Loucos, The Gentlemen, Os Diplomatas, Os Selenitas, Os Tuaregs, eram os grupos mais conhecidos. Os sucessos dos Beatles, Rolling Stones, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis e os cantores da Jovem Guarda, faziam a animação da moçada.

O que me impressiona é que as músicas tocadas naquela época enchem os salões nas festas de hoje. E vemos os jovens dançando vibrantemente ao som do rock e do twiste dos anos sessenta. Para nós, que já ultrapassamos a faixa dos sessenta anos, essas tardes no Astréa ficaram como lembranças inesquecíveis, difíceis de serem apagadas da nossa memória.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO”

 


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