Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Getúlio: “O pai dos pobres”


24/02/2016

Foto: autor desconhecido.

 


O Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo cometeu o erro estratégico de colocar Getúlio Vargas como o “pai dos pobres”. A afirmação por si só poderia ensejar uma preferência por determinada classe social em detrimento de outras. Claro que esse tipo de atitude despertaria descontentamento dos que estavam acostumados à vivência nacional das segregações sociais, distinguindo a burguesia da população tradicionalmente menos assistida.


Getúlio ousou em promover uma série de reformas na sociedade brasileira, garantindo os direitos sociais das classes menos favorecidas. Instituiu o salário mínimo, a Justiça do Trabalho e a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, medidas que lhe valeram a conquista da adesão da grande massa trabalhadora do país. Procurou valorizar a participação política dos “excluídos”. Ele conseguia falar a linguagem do povo. Era tudo o que as elites não queriam.


Aí então na década de cinqüenta intensificaram-se os ataques ao seu governo, num processo em que se procurava formar uma consciência política nacional da inviabilidade de preservação do seu mandato. As forças econômicas e políticas mais conservadoras, aliadas à grande parte da imprensa falada e escrita, destacando-se o jornal “Tribuna da Imprensa” de Carlos Lacerda, a rádio Globo e a Rede Tupi de Televisão, deflagraram uma violenta campanha contra o presidente.


A massa silenciosa que assistia passivamente a essa ação ofensiva de uma minoria que se pretendia intérprete da vontade majoritária do povo, foi despertada pela tragédia que marcou o seu suicídio. A reação foi imediata. A população saiu às ruas para chorar a morte do “pai dos pobres”. Já era tarde, nada mais a fazer, a não ser lamentar a perda do seu benfeitor. Os inimigos conseguiram seu intento, tirar do poder quem eles enxergavam ser uma ameaça aos seus interesses.


Na sua Carta Testamento deixou claras as razões que o levaram a tão extremado ato. Eis alguns trechos: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente desencadearam uma campanha contra mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. O ódio, as infâmias e a calúnia, não abatem meu ânimo. Nada receio. Apenas dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.


• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”

 


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