Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A Fundação Casa de José Américo


10/02/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Tenho ido frequentemente à Fundação Casa de José Américo com o objetivo de pesquisar nas coleções de jornais da Paraíba, registros históricos que me fazem rememorar fatos que vivenciei e que se tornaram importantes para escrever a série de textos do “INVENTÁRIO DO TEMPO II”. Ali também tive oportunidade, por diversas vezes, de ficar frente a frente com José Américo de Almeida, quando das visitas que costumeiramente meu pai lhe fazia.

Hoje a casa de numero 3336, na Avenida Cabo Branco, é o local onde cultuamos a memória dessa grande personalidade da nossa história, destaque na política e literatura do Brasil. Nela encontramos todas as informações que nos fazem conhecer melhor esse ilustre paraibano. O governador Tarcísio Burity, em 1982, transformava-a na sede da entidade cultural FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ AMÉRICO.

Tive a alegria de participar do evento que marcou a sua inauguração, por convite de meu pai que se envaidecia em afirmar que fazia parte das amizades que o Ministro passou a considerar nos seus últimos anos de vida. Era manhã de onze de janeiro, com a presença de importantes figuras do mundo político e intelectual da Paraiba e do Brasil. Dentre elas, o vice-presidente da república, Aureliano Chaves. Na placa comemorativa de inauguração uma de suas célebres frases: “Nutrir o espírito é mais do que nutrir a fome”.

Romancista consagrado, advogado brilhante, político vitorioso, profundo conhecedor dos nossos problemas sociais, José Américo foi também um extraordinário construtor de frases. A título de exemplos, destacarei algumas a seguir:
Referindo á pobreza carregada de filhos e de necessidades que marcava a sina dos nordestinos vitimados pela seca, falou: “Viver assim não é viver. Viver assim é apenas deixar de morrer”.
“Existe uma miséria maior do que morrer de fome no deserto, é não ter o que comer na Terra de Canaã”.
 “O medo é instinto; não é raciocínio. Se raciocinasse, veria que fechar partidos, cassar mandatos, é a mais primária das soluções, como quem apaga a luz para se defender de inimigos e não se apavorar com fantasmas”.
“Para alcançar o ideal de felicidade coletiva basta tornar o Brasil mais produtivo. Criar a prosperidade que não se tira da boca dos pobres, mas do trabalho racional”.
“Os grandes abalos morais são como as bexigas, se não matam, imunizam. Mas deixam a marca ostensiva”.
“Ver bem não é ver tudo; é ver os que os outros não vêem”.
“Nunca na minha vida corri atrás da popularidade, como meio de subir, sabendo que não subiria sem a vontade do povo, porque essa escalada seria um passo em falso”.
“A plataforma ideal seria a tessitura de um pensamento político: cada palavra, uma convicção; cada princípio, uma profissão de fé; cada promessa um ponto de honra”.
E a mais atual das suas declarações: “Consciências inquietas profetizam, em vozes tremendas, adventos ruidosos. Atiçam a miséria impotente, as explosões da coragem coletiva, com risco dos choques desiguais. Não percamos a esperança. Poderemos, sem maldições, sem desforras sangrentas, na paz do Senhor, atingir o ideal democrático da inteligência, da cultura, das virtudes públicas, do bom governo que é a melhor propaganda contra as subversões”. Um oportuno  recado para a contemporaneidade.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
 


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