Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O denuncismo


04/02/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Estamos vivendo um tempo em que não se leva em conta um ensinamento popular que diz: “para que a estrela de cada um brilhe, não é preciso apagar a do outro”. É a onda do “denuncismo”, principalmente quando praticada pela falta de ética jornalística, interessada em promover escândalos e sensacionalismo.

Eu entendo que é condição principal para que se faça uma acusação contra alguém, a existência de provas concretas e certeza absoluta da conduta infratora aos princípios morais e éticos do denunciado. Trata-se de elemento básico do senso de responsabilidade. Afinal de contas há de se preservar acima de tudo a honra e a dignidade de qualquer pessoa, não se permitindo que a mesma seja atingida levianamente por cometimento de ação repreensível sem que se confirme a verdade da acusação.

O que estamos percebendo no momento atual brasileiro é que as diferenças de pensamento político estão estimulando a produção de denúncias pautadas unicamente no “animus” de prejudicar outros, com o desejo de produzir resultados que favoreçam estratégias arquitetadas. É aquela velha lógica de que “os fins justificam os meios”, mesmo que sejam construídos na mentira, na aleivosia, na injúria.

Não se pode jogar para “debaixo do tapete”, como já aconteceu em épocas pretéritas em nosso país, a sujeira que tem demonstrado o quanto está deteriorado nosso modelo político. Nada pode ficar no campo das impunidades. Tudo tem que ser investigado, esclarecido e penalizado exemplarmente. Mas tem que ser sem estabelecer seletividade nas apurações ou omissão nas diligências por meras conveniências políticas. Quero acreditar numa justiça em que a balança não penda só para um lado, assim como numa imprensa que se apresente isenta no exercício de sua atividade.

O que não é admissível é utilizar-se da denúncia vazia para criar factóides, sem qualquer preocupação em verdadeiramente desvendar fatos possivelmente desconhecidos, mas unicamente em promover o achincalhe moral, tentando fazer com que uma mentira muitas vezes repetida possa ser compreendida como verdade. Isso não é um serviço em benefício social, mas um ato de irresponsabilidade.

A versão desvirtuada de fatos é a maneira com que muitos fazem valer a intenção de convencer a maioria de que a mentira tornada pública se transforme em verdade a ser aceita sem contestação. O pior é que a força da divulgação midiática trabalha para dificultar a percepção dos interesses escusos que estão por trás do denuncismo, porque explora o campo das emoções ditadas pela paixão, pelo ódio, pelo fanatismo, pela falta do senso crítico.

Convém estarmos imunes a essas influências de pensamento direcionado, protegendo nossa capacidade de discernir conscientemente sobre a realidade do cotidiano, identificando as informações que nos são transmitidas pelo denuncismo desenfreado, sem assumir posturas de ataque ou defesa por impulsos emocionais.

 


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