Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O nascimento do Partido dos Trabalhadores


06/11/2015

Foto: autor desconhecido.

 

O amor e o ódio vão suscitar muitos comentários sobre o tema objeto do relato que faço a seguir. O momento político que estamos vivendo fará com que muita gente se manifeste movida pelas paixões políticas, deixando de raciocinar com o necessário equilíbrio emocional e bom senso. Meu propósito, todavia, nessa série “INVENTÁRIO DO TEMPO II” é fazer história, a partir de fatos dos quais fui protagonista e de outros que testemunhei no curso da minha vida. Procuro me restringir exclusivamente a relatar os acontecimentos como minha memória faz lembrar ou de acordo com registros obtidos em pesquisas, fazendo dessas reminiscências um exercício de consciência crítica do comportamento político contemporâneo.

Em 1980 o processo de transição política do Brasil avançou a partir da definição do pluripartidarismo. Os dois partidos tradicionais, ARENA e MDB se transformaram em PDS e PMDB, respectivamente. Mas outras agremiações foram fundadas. Uma delas merece destaque por sua condição diferenciada do que se concebia como partido político. O Partido dos Trabalhadores surgia como uma nova visão de atuação política, fundamentada num conceito ideológico do socialismo democrático.

No dia dez de fevereiro reuniam-se no Colégio Sion, em São Paulo, várias lideranças políticas que militavam no campo da esquerda, entre elas sindicalistas, artistas, intelectuais, estudantes, católicos ligados à Teologia da Libertação e às Comunidades Eclesiais de Base, com o objetivo de fundarem um partido que rompesse com a ação histórica do capitalismo imperialista e se mostrasse capaz de promover uma linha de atuação política voltada para a social democracia.

Na verdade sua origem se deu nos movimentos sindicais do ABC paulista, sob a liderança emergente de Luis Inácio Lula da Silva, que adotava um “novo sindicalismo” se insurgindo contra o “sindicalismo varguista” então vigente, fortemente vinculado ao governo. As mobilizações populares provocadas pelos sindicalistas, ganharam a adesão de outros segmentos da sociedade e se apresentavam como força de contestação à ditadura militar, que já vivia seus últimos anos de atuação.

Os promotores daquele evento no Colégio Sion perceberam o vácuo político que existia na composição partidária brasileira e entenderam oportuno tornar realidade a idéia de fundarem um partido constituído majoritariamente por trabalhadores. O PT nascia então com a marca da renovação, tanto nas idéias, quanto na prática política. A chegada ao poder, entretanto, fez com que esses princípios de origem fossem desvirtuados por alguns dos seus integrantes, assumindo um posicionamento muito semelhante ao que já conhecíamos na cultura política brasileira.

De qualquer forma não há como deixar de reconhecer que a chegada do PT ao protagonismo político do Pais, foi responsável por importantes transformações no quadro da administração pública, experiência parlamentar e mobilizações sociais no Brasil. A sua história de luta foi pautada na disposição de combater as injustiças e desigualdades sociais e nesse aspecto cumpriu o seu papel.

É notório que o PT de hoje não é o mesmo do seu nascimento. Ao tornar-se grande e forte, ficou parecido com os velhos e tradicionais partidos, maculados por vícios que desmoralizam os conceitos de ética e moral a que tanto pregamos e que desejamos ver como signos da nossa vivência política.

Mas é conhecendo a história que podemos construir os passos do amanhã. Espelharmo-nos em exemplos de coragem cívica e ideais republicanos de cidadania e respeito aos direitos iguais de todos os brasileiros, e fazermos dos erros observados, a experiência que nos motivará a corrigir caminhos na direção de uma Nação liberta das pragas da corrupção, da desonestidade e da desconsideração ao que se possa entender como ético e moral nas práticas políticas.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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