Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A proeza de Kay France


27/10/2015

Foto: autor desconhecido.

 

A data de dezenove de agosto de 1979 coloca a Paraíba num dos feitos históricos de repercussão internacional. Kay France, na época com dezessete anos de idade, alcançava a proeza de ser a primeira mulher latino-americana a atravessar a nado o Canal da Mancha.

Após uma tentativa sem sucesso no ano anterior, a jovem paraibana enfim realizou o desafio que havia determinado para si, cruzar, nadando, os trinta e seis quilômetros que separam a praia de Shakespeare, na Inglaterra, de Wissant, na França. A travessia foi cumprida após mais de onze horas de natação sem interrupção, documentada pela Tv Globo.

Kay France, hoje médica, aprendeu a nadar aos dez anos, e a partir daí não desistiu de concretizar esse sonho. Contou com o apoio e estímulo de seu pai, professor Sales Pontes, que a acompanhava nos treinos diários efetuados na orla marítima de João Pessoa. Em 1976 chegou a ficar por quatro horas perdida no mar, em pleno carnaval.

A façanha só havia sido executada por um brasileiro até então, o desportista Abílio Couto, que viria a ser seu treinador por dois anos, até 1976, quando se desentenderam e a nadadora paraibana decidiu continuar seus treinos orientada exclusivamente por seu pai.

Até chegar a esse momento de glória, Kay France teve que superar muitas dificuldades, principalmente por falta de patrocínio. Conseguiu, a muito custo, que o governo do Estado lhe desse as passagens para a Europa, ficando as demais despesas de estadia bancadas por empresas de Pernambuco, graças a intermediação da Tv Globo. Conquistado êxito na sua empreitada, declarou: “Foi mais difícil chegar na Inglaterra do que atravessar o Canal da Mancha”, numa crítica à falta de apoio ao seu desafio esportivo.

Seu retorno à nossa Capital, depois de receber homenagens no Rio e São Paulo, se deu num clima de muita festa e comemoração. Foi recepcionada no aeroporto Castro Pinto por mais de três mil pessoas que a acompanharam pelas ruas da cidade, num desfile em carro aberto (viatura do Corpo de Bombeiros). Nas ruas a população aplaudia a conterrânea que se dirigia para receber as honras do Governador Tarcisio Burity no Palácio dos Despachos, Centro Administrativo do Estado, em Jaguaribe.

Tive a satisfação, muitos anos depois, de desfrutar da amizade pessoal dessa paraibana que é motivo de orgulho para todos nós. Seu avô, o jornalista Barroso Pontes, era amigo de meu pai e por várias vezes estive com ele na residência em que morava no bairro de Manaira. Portanto, nossas famílias nutriam um relacionamento de boa amizade.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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