Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Burity enfrenta o conflito de Alagamar


15/10/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Poucos dias depois de assumir o governo, Tarcisio Burity foi posto à prova como a maior autoridade do Estado. O conflito entre agricultores e proprietários rurais nas Fazendas Reunidas Alagamar se agravou a ponto de exigir a intervenção do governador no sentido de por fim ao clima de intranqüilidade ali reinante.

Cerca de setecentos e cinqüenta famílias ocupavam as quatorze propriedades pertencentes ao Sr. Arnaldo da Silva Maroja, onde trabalhavam o cultivo da terra em regime de arrendamento. Ocorre que após sua morte, em 1975, seus herdeiros negociaram a venda sem qualquer comunicação aos agricultores, que passaram a ser pressionados a saírem de lá pelos novos donos. E o fizeram no uso da violência e do prestígio político, o que provocou reação dos trabalhadores rurais. A Igreja Católica, através da ação pastoral da Arquidiocese da Paraíba, decidiu apoiar a luta dos camponeses que reivindicavam o direito de ali continuarem tirando o sustento de suas famílias.

O processo de desapropriação negociado com o governo caminhava em ritmo de muita morosidade, impacientando os proprietários que não recebiam a indenização que lhe era devida e afligindo os trabalhadores rurais que também não podiam se apossar legalmente das terras. Essa insatisfação de ambas as partes gerou um perigoso ambiente de tensão.

Em março de 1979 chegou ao clímax esse estado de confronto. O governador Tarcisio Burity decidiu assumir pessoalmente a responsabilidade de tentar contornar a situação. Promoveu longas reuniões numa escola de Itabaiana, instalada na fazenda Maria Melo, que integrava o conjunto de terras conhecido como Alagamar. Fazia-se acompanhar do vice-governador, Clóvis Bezerra e do secretário de segurança pública, Luiz Bronzeado.

A primeira providência foi demitir sumariamente os delegados dos municípios de Itabaiana e Salgado de São Félix. No contato com as lideranças da contenda, comprometeu-se em promover gestões para agilizar a conclusão do processo de desapropriação.

Preocupado com o relato dos litigantes, os agricultores denunciando a violência com que estavam sendo tratados e os proprietários rurais atribuindo o clima de tensão que, segundo Heráclito Veloso Borges, “se deu em razão de um desvio ideológico da ação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba, quando ministravam palestras orientando o trabalhador a se rebelar contra o patrão”, o governador achou por bem determinar desarmamento geral naquelas localidades.

Disse ele ao justificar suas medidas: “Fiz isso para que todos possam trabalhar num clima de ordem. Se houver mais algum conflito, algum desentendimento, vocês devem recorrer às autoridades, pois elas existem para que a lei seja cumprida. Estamos proibindo todo mundo de andar armado e com isto concordaram proprietários e agricultores”.

Burity passou no primeiro teste de autoridade enquanto governador. Não fugiu de suas responsabilidades e comandou a negociação de paz.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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