Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Sivuca voltando à Paraíba


08/10/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Pesquisando jornais dos últimos anos da década de setenta me deparo com uma declaração do teatrólogo, cineasta e escritor José Bezerra Filho, sobre a personalidade do paraibano Severino Dias de Oliveira, internacionalmente conhecido pelo nome artístico de Sivuca. Assim ele se expressou: “Quero manifestar a enorme alegria em receber mais uma vez a figura simples de um gênio transformado em sanfoneiro que ainda não perdeu o sotaque do continente de Itabaiana. Tanto faz ele estar no Rio, em seu apartamento de Copacabana, oferecendo uma rede de franjas nordestina, como estar em Nova Iorque, ou aqui em minha casa, bebendo água de côco, que ele mesmo faz questão de tirar do pé, ou então comendo feijão verde com carne de sol, no alpendre da casa de Félix Galdino”. O que representava dizer que nunca se deslumbrou com o sucesso, mantinha o mesmo comportamento simples tão próprio dos nordestinos.

José Bezerra falava de Sivuca com a autoridade de quem desfrutava de uma relação muito próxima. Tomei conhecimento recentemente que ele e dona Aracy foram os responsáveis por promoverem o seu casamento com Glorinha Gadelha. A afirmação publicada na imprensa paraibana vinha a propósito da chegada de Sivuca à nossa Capital em dezembro de 1978 para um show artístico no Teatro Santa Roza. O famoso artista paraibano sempre que voltava à Paraiba ia visitá-lo.

Veio à lembrança de que me fiz presente àquele espetáculo musical que, como não poderia ser diferente, provocou em todos os que se encontravam no auditório um sentimento misto de admiração pelo extraordinário talento do sanfoneiro paraibano e de orgulhosa satisfação pela oportunidade de presenciar sua performance artística.

Nosso conterrâneo, em razão da sua excepcional desenvoltura no uso de um instrumento eminentemente nordestino, fez com que a sanfona se tornasse apreciada na Europa e nos Estados Unidos. Em fins dos anos cinqüenta decidiu aventurar-se no Velho Continente: “Fui só com a coragem. Não conhecia ninguém, mas não foi difícil porque estava no auge da bossa-nova e o artista brasileiro era muito bem recebido”. Fez enorme sucesso ao tempo em que morou na França, onde chegou a lançar cinco discos.

A saudade de sua terra motivou a volta ao Brasil em 1964. Chegou num péssimo momento, nosso país vivia a turbulência política consequente do golpe militar que atingia de morte nossa democracia. Isso fez com que aqui demorasse pouco. Mudou-se para os Estados Unidos, onde permaneceu por onze anos.

Em 1976 retornou em definitivo, período em que já se enxergava claras sinalizações de que estávamos a caminho da redemocratização. Passou então a vir mais vezes à Paraiba, uma vez que nunca perdeu sua identidade com as origens.

Alguns anos mais tarde, por ocasião dos eventos comemorativos do IV Centenário da Paraíba, quando atuei como Secretário Executivo da Comissão Organizadora da programação, sob o comando do historiador José Otávio de Arruda Mello, tive a honra de acompanhá-lo numa viagem a Campina Grande, oportunidade em que pude conhecê-lo mais de perto. Mas isso é assunto para quando relatar os acontecimentos do ano de 1985.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II"


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