Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A ansiosa espera do anúncio do futuro governador


16/09/2015

Foto: autor desconhecido.

Os meses de março e abril de 1978 foram de muita movimentação política na Paraíba, especialmente nas hostes do partido governista, a ARENA. Como não era permitida a eleição pelo voto popular para governador do Estado, era grande a expectativa de quem seria o escolhido pelo presidente Geisel para suceder Ivan Bichara. A agremiação partidária situacionista estava dividida entre duas opções: o senador Milton Cabral, que contava com o apoio do governador, e o deputado Antônio Mariz, que tinha a preferência dos ex-governadores João Agripino e Ernani Sátiro.

Lembro bem que essa disputa deixava meu pai numa situação muito incômoda, em razão da inclinação do governo pelo nome de Milton Cabral. Ele era um admirador do político Antônio Mariz, com quem havia trabalhado quando o mesmo exerceu o cargo de Secretário de Educação no governo João Agripino. No entanto, por fazer parte da equipe de auxiliares do governador Ivan Bichara, ocupando a Chefia da Casa Civil, por um dever de lealdade ao chefe, deveria seguir sua orientação naquela contenda política.

A medida que se aproximava a data da convenção, marcada para maio, os ânimos foram se acirrando e o nervosismo tomava conta dos dois grupos concorrentes. O deputado Otacílio Queiroz, em tom de crítica ao sistema, e com certa dose de ironia, falou: “Grupos de comando da ARENA lutam pela indicação de candidatos, apesar de saberem, de antemão, que tudo dependerá unicamente do Presidente da República. Esse é o único eleitor válido e o resto são ocupantes da banda de música arenista”.

Reuniões aconteciam em João Pessoa e Brasília na busca de uma solução conciliatória, mas nunca chegavam a um consenso. Enquanto os defensores da candidatura de Milton Cabral argumentavam de que possuíam dois terços dos votos dos integrantes do Diretório Regional da ARENA, os apoiadores de Antônio Mariz apresentavam pesquisas que indicavam uma preferência popular de mais de setenta por cento em favor do seu nome.

Essas divergências concorreram para que a escolha do nome para governar a Paraíba fosse um dos últimos a serem anunciados no país. Enquanto isso, os políticos de oposição assistiam a briga fratricida dos arenistas, sem poderem fazer nada, a não ser endurecerem o discurso contra o processo indireto da eleição. Alguns defendiam o lançamento de uma anticandidatura. Nessa idéia até o nome do arcebispo Dom José Maria Pires foi cogitado como alternativa, no que foi terminantemente recusado pelo mesmo.

Estava cada vez mais difícil compatibilizar os interesses e já surgiam indicações que poderiam figurar como “tertius” na tentativa de superar os desentendimentos. Entre eles, Dorgival Terceiro Neto, Lynaldo Cavalcanti, Clóvis Bezerra e Tarcisio Burity.

As especulações, os boatos, os discursos agressivos, dominavam a cena política paraibana. Ao povo só restava a oportunidade de torcer pelos candidatos que gostariam de votar, aguardando a proclamação oficial pela Presidência da República de quem seria o responsável por governar nosso Estado nos próximos quatro anos. Mas era uma espera nervosa para todos, a população e os políticos.

• Integra a série de textos ‘INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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