Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A invasão da PUC


14/09/2015

Foto: autor desconhecido.

O ano de 1977 marcou a volta dos atos públicos promovidos pelos estudantes. Os encontros secretos, burlando a vigilância policial, realizados em todo o Brasil na busca da reorganização do movimento estudantil, deram lugar a manifestações pelas liberdades democráticas feitas nas ruas. Acredito que a partir de então se iniciou o processo de transformação política que culminou com o fim da ditadura militar anos depois.

A juventude estava determinada a lutar pela legalidade da UNE- União Nacional dos Estudantes, proibida de atuar desde a instalação do regime ditatorial. Várias tentativas foram reprimidas pelas forças militares. O governo, ainda que anunciando a vontade política de atuar em favor do retorno do país à democracia, continuava agindo com truculência na repressão a qualquer movimento de contestação ao regime. A prática contrariava o discurso.

Não tenho lembranças, nem pude colher registros nos jornais da época, como se comportaram as lideranças estudantis na Paraíba, nesse movimento de retorno à atividade política. Até porque esses assuntos eram terminantemente proibidos de serem divulgados.

Mas em 22 de setembro aconteceu um evento histórico que marcou o início da efervescência política pela redemocratização com participação popular. Novamente os estudantes puxando o cordão da insatisfação coletiva. Realizava-se na noite daquela data o III Encontro Nacional dos Estudantes, na PUC – Pontifícia Universidade Cat[olica, de São Paulo. No salão beta do campus universitário se faziam presentes cerca de dois mil estudantes, com a finalidade de discutirem estratégias para reorganização da UNE.

Às vinte e uma horas foram surpreendidos pela invasão de policiais, com um efetivo calculado em torno de novecentos homens, que no uso de grande violência, a golpes de cassetetes e explosão de bombas, depredaram as dependências da universidade, agrediram e prenderam estudantes, professores e funcionários da PUC. Até o restaurante e a biblioteca foram cenários do furor policial. No estacionamento de automóveis foram colocadas, sentadas, mais de mil e quinhentas pessoas, que eram submetidas a uma rigorosa triagem no intuito de identificarem os “subversivos”. No final mais de setecentos foram presos.

Dom Paulo Evaristo Armas que se encontrava em Roma, ao tomar conhecimento do ocorrido, retornou imediatamente ao Brasil e protestou com veemência contra a invasão da universidade, hipotecando corajosamente total solidariedade aos estudantes alcançados pela truculência das forças policiais da ditadura.

Portanto, a repercussão desse fato gerou uma motivação a mais para que a população começasse efetivamente a vencer o medo e ir à praça pública dar seu grito de descontentamento com o governo e a manifestação, até então reprimida, do desejo de reconquistar as liberdades democráticas.

• Integra a série e textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
 


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