Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A simplicidade como marca da personalidade


05/09/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Meu pai, Deusdedit Leitão, tinha a humildade e a simplicidade como marcas de sua personalidade. Não gostava de aparecer. Fugia dos holofotes. Quem se der ao trabalho de pesquisar os jornais da época em que ocupou cargos na administração pública e na sua atividade cultural, terá dificuldades em encontrar fotos ou matérias que o colocassem em evidência. Tinha a convicção de que o importante era cumprir bem as missões que lhe foram confiadas, sem a necessidade de torná-las objeto de promoção pessoal.

Por isso, recebeu com naturalidade a convocação do governador Ivan Bichara para suceder o Doutor Fernando Milanez, na Chefia da Casa Civil do Governador, quando o mesmo decidiu se afastar da vida pública para se dedicar às atividades profissionais como tabelião. Isso aconteceu em julho de 1977. Meu pai tinha uma relação de amizade muito forte com o secretário que renunciava ao cargo para o qual estava sendo guindado. Na condição de sub-chefe estabeleceu com Milanez uma convivência muito boa, bastante para que nutrisse um sentimento de admiração e respeito por aquele colega de trabalho.

No seu livro de memórias relata o episódio da seguinte forma: “No exercício do cargo de Sub-Chefe da Casa Civil mantive excelente relacionamento com o Bacharel Fernando Paulo Carrilho Milanez, titular daquela pasta. Excelente figura humana, Milanez tratava a todos com urbanidade. Guardo dele gratas e confortadoras lembranças, principalmente pela forma harmoniosa com que trabalhávamos, ombro a ombro, no desempenho dos nossos encargos, na identidade de suas atribuições. Lamentei o afastamento daquele eminente paraibano que tanto honrou o cargo que exerceu como depositário da confiança do Governador Ivan Bichara, de quem era um amigo fraterno”.

Com o espírito desprovido de qualquer vaidade, recusou que a sua posse ocorresse em ato solene. Decidiu assumir e trabalhar, dispensando o protocolo oficial da cerimônia de posse. Antes, fez questão de ser portador de uma carta do governador dirigida a Fernando Milanez, onde Ivan Bichara registrava seu reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Paraiba, em especial na sua gestão. Transcrevo trecho da missiva assinada por Ivan Bichara, da qual meu pai concordava em seu inteiro teor. “Agradeço a ajuda, a atenção e o devotamento empenhado quando exerceu a Chefia da Casa Civil. O meu governo e a Paraíba devem à soma dos seus serviços no cargo que vinha ocupando desde o início de minha administração, ressaltando o cavalheirismo, a elegância e a dignidade com que se portou em todos os momentos, até mesmo no ato da renúncia”. Milanez, mesmo ao deixar o cargo, manteve a estatura moral e a correção que o faziam merecedor de louvores e estima dos paraibanos.

A meu pai não pesava a vanglória do cargo que assumia, mas a responsabilidade de suceder uma figura de tamanha competência e envergadura moral. Seu desejo maior era dar continuidade ao trabalho de excelência que Milanez vinha desenvolvendo à frente da Casa Civil e, ao mesmo tempo, corresponder às expectativas do seu amigo e conterrâneo governador Ivan Bichara. Fico feliz em ver que cumpriu bem esse seu objetivo. Vou me liberar da modéstia que caracterizava seu caráter, e proclamar meu orgulho em constatar o quanto ele era competente em tudo o que fazia, mesmo que despido de qualquer intenção de tornar essa qualidade um motivo de projeção social e política.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEM

 


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