Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Apito de Ouro”


31/07/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Existem pessoas que não nasceram para viver no anonimato. Nem procuram ganhar notoriedade. Destacam-se naturalmente por suas qualidades singulares, por serem diferentes, por se distinguirem no que fazem. A característica maior é o amor com que abraçam o exercício de seus atributos.

Um bom exemplo desse fenômeno era o inspetor de trânsito Antônio Augusto da Silva, que viria a ser conhecido como “apito de ouro” a partir de 1973 quando foi homenageado pelo delegado Marcilio Pio Chaves, ao receber um apito banhado a ouro, como símbolo de reconhecimento pelo extraordinário serviço prestado no controle do tráfego da cidade.

Ex=pedreiro, seu grande desejo era ser guarda rodoviário, sonho impossibilitado de realização em razão da sua pouca formação escolar. Vindo do interior, ao chegar à Capital, conseguiu se incorporar à Polícia Militar e, por definição do destino, foi convidado a exercer as funções de oficial de trânsito. Assumiu seu novo ofício com entusiasmo e extrema dedicação.

Nos seus trinta anos trabalhando nas ruas com a missão de organizar o trânsito, nunca aplicou uma multa sequer. Dizia que, antes de tudo, seu papel era de educador, orientar sem necessariamente punir. Impressionava a habilidade com que utilizava o apito e os braços para indicar aos transeuntes e motoristas como deveriam se conduzir no tráfego.

“Apito de Ouro” foi um ícone na educação do trânsito em João Pessoa, nas décadas de sessenta e setenta. Ganhou o respeito e a admiração, não só pela competência, mas também pela simpatia. Soube, como ninguém, fazer uso da fama sem se deixar influenciar pelo orgulho ou vaidade. Recebia os elogios com humildade, mesmo quando a homenagem vinha do seu chefe maior, o governador João Agripino, que fez questão de manifestar publicamente o reconhecimento da eficiência do seu trabalho em favor da população.

Sua atuação nas ruas era um espetáculo a parte, um show. Merecia ser mais lembrado, para que servisse de exemplo aos que na atualidade têm a delicada incumbência de dar organização ao tráfego de nossa cidade. Não sei se ainda está vivo, mas fica a minha reverência a esse profissional que honrou a farda que vestiu, tornando-se uma referência de disciplina, desvelo e responsabilidade na execução de suas tarefas.

• Integra a série de crônicas “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 

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