Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A pesca da baleia


25/07/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Nunca consegui compreender como o abate de baleias pudesse se tornar um espetáculo de atração turística. Na Paraíba essa atividade chegou a ser estimulada pelo governo do Estado, fazendo divulgação a nível nacional, inclusive com a produção de folhetos coloridos de propaganda do evento que chamavam erradamente “a pesca da baleia”. Não sendo um peixe, e sim um mamífero marítimo, o mais correto seria denominar essa ação de “caça à baleia”.

Em 10 de julho de 1972, o Governo do Estado da Paraíba, através do seu secretário de Divulgação e Turismo, Noaldo Dantas, promoveu festivamente a solenidade de abertura da temporada da “pesca da baleia”, na praia de Costinha, no município de Lucena. O acontecimento atraiu um público calculado em duas mil pessoas, incluindo autoridades convidadas, entre elas o Governador da Bahia e sua comitiva. O período de execução dessa matança de baleias estava compreendido entre os meses de julho e dezembro, exatamente quando elas saem do Pólo Sul a procura das águas quentes do litoral nordestino brasileiro.

O que justificava esse apoio oficial do governo do Estado era a importância que essa atividade tinha para a economia do município de Lucena, com oferta de emprego e renda para sua população. A operação de captura das baleias era comercialmente executada por uma empresa nipo-brasileira, a Companhia de Pesca Norte do Brasil – COPESBRA. Portanto, havia uma dependência econômica e social do município àquela atividade. Chegou a ser incluída no calendário turístico da Paraíba. As pessoas atraídas pela propaganda se deslocavam de Cabedelo para Lucena por via marítima. Havia no local uma arquibancada onde os turistas podiam assistir a chegada da baleia (caçada) e, o mais impressionante, testemunharem o seu retalhamento, num espetáculo cruel e insano. Ao lado do cenário da recepção e corte das baleias, existia um restaurante chamado “Minke”, cuja especialidade de sua cozinha era a carne de baleia. Nesse dia festivo da abertura da temporada de 1972, abateram uma baleia “Minke”, de sete toneladas.

Graças a uma campanha dos ambientalistas de todo o mundo, em 18/09/87, o Presidente José Sarney assinou a Lei que tornou ilegal a caça às baleias, encerrando assim esse ciclo de uma atividade turística da Paraíba que, apesar da contribuição econômica e social que oferecia ao município de Lucena, se constituía numa grave ameaça de extinção das espécies “Minke” e “Cachalote”, as mais caçadas no nosso litoral.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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