Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O primeiro emprego


18/06/2015

Foto: autor desconhecido.

Todo jovem é sonhador. Estava vivendo o sonho do idealismo político, quando fui surpreendido com a oportunidade do meu primeiro emprego. Os sonhos, naturalmente, passaram a ser outros também. O desejo era aproveitar aquela chance para me afirmar profissionalmente, ganhar amadurecimento e estabilidade financeira.

Em 03 de junho de 1968, num misto de emoção e nervosismo, compareci à Matriz do Banco do Estado da Paraíba para o meu primeiro dia de trabalho. Minha mãe, sem que eu soubesse, havia solicitado ao Dr. Oscar Sampaio Visgueiro, então diretor daquele estabelecimento de crédito, uma vaga no seu quadro de pessoal. Ela entendia que era chegada a hora de dar esse importante passo rumo à vida adulta. Desconfio que outro motivo, estimulou esse pedido: desviar-me do foco político estudantil, o que era visto por todos como uma atividade de risco, em face da repressão imposta pela ditadura.

Tornei-me bancário. Primeira providência: vestir-me conforme mandava o figurino, camisa de mangas compridas e gravata. Essa era a indumentária padrão dos empregados em estabelecimentos bancários naquele tempo. Lembro-me que, certa vez, o Dr. Visgueiro, numa visita inesperada à Agência de Cruz das Armas, exigiu que todos os que não estavam assim vestidos fossem em casa para se adequarem ao modelo recomendado.

O banco oficial do governo estadual ainda não era conhecido como PARAIBAN. Todos a ele se referiam como o BEP. Na época possuía em torno de oito agências, espalhadas pela Capital e cidades do interior do estado. Recebi o número de matrícula 141, o que demonstra que o seu efetivo de pessoal contava com apenas cento e quarenta funcionários.

Meu setor de trabalho foi o cadastro, onde os clientes, novos e antigos, atualizavam suas informações pessoais para obtenção de crédito. Como auxiliar de escrita coube a mim a tarefa de entrevistador, preenchendo as fichas cadastrais. Meus chefes, por ordem crescente de hierarquia, eram Maria Helena Cavalcanti de Albuquerque, chefe do setor da agência central; Ubiracy de Melo Lins, chefe da divisão de cadastro geral, e Carnot Vilar, gerente de crédito geral.

Aprendi muito com esses três profissionais. Absorvi experiência e conhecimento nessa relação de trabalho. Dois outros colegas tiveram igualmente grande valia nesse meu estágio inicial da vida profissional: João Machado, investigador de cadastro, aquele que saia às ruas coletando referências sobre a idoneidade moral e financeira dos clientes, pois a internet ainda não existia, e Geraldo Melo (Geu).

A partir daí, minha vida mudou completamente. Dediquei-me com entusiasmo às novas atividades, procurando avidamente aprender tudo o que dizia respeito às funções que me eram atribuídas.

O Banco do Estado da Paraíba foi, portanto, a minha grande escola, em todos os sentidos. Lá, não só me afirmei profissionalmente, como pude ampliar meu círculo de sociabilidade, agregando à minha personalidade valores, princípios e idéias que nortearam o meu caminhar pela vida. Nesse exercício de memorização dos acontecimentos vivenciados, a que venho diariamente me dispondo a escrever e publicar, muitos tiveram como cenários os ambientes de trabalho do nosso querido PARAIBAN e de entretenimento e lazer da AABE – Associação Atlética Banco do Estado.

Não há como deixar de registrar o sentimento de tristeza ao ver que esse patrimônio da história econômica da Paraíba tenha desaparecido. Aqueles que me prestigiam com a leitura dessas crônicas, acompanharão comigo o fortalecimento do nosso banco, até o fatídico dia em que um presidente da república, para atender interesses outros, decidiu decretar a liquidação extrajudicial de três bancos estatais, exatamente os pertencentes a estados pobres da federação e de menor representatividade política a nível nacional. Nunca foram dadas explicações convincentes para esse ato.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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