Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O QG do movimento estudantil secundarista


13/06/2015

Foto: autor desconhecido.

 

No final de março de 1968, todo o Brasil foi impactado pelo assassinato do estudante paraense, residente no Rio de Janeiro, Édson Luis, no restaurante Calabouço. Na manhã do dia primeiro de abril, quando chegava ao Liceu, encontrei um clima de mobilização para a realização de uma passeata em protesto pelo que acontecera na Guanabara. Os colegas que ainda permaneciam em salas de aula, foram convidados a se incorporarem ao movimento.

Saímos, então, em direção a Lagoa, onde nos encontraríamos com os estudantes universitários, reunidos no Restaurante Universitário, onde hoje funciona o Cassino. De lá caminhamos juntos até o Ponto de Cem Réis, portando cartazes contrários ao regime, faixas de luto, um esquife preto coberto com flores e bandeiras do Brasil.

Em frente ao Paraíba Palace Hotel foram pronunciados os primeiros discursos pelas lideranças estudantis, local em que foram queimadas duas bandeiras americanas. O ambiente ficava cada vez mais agitado e tenso. O comando da passeata decidiu caminhar até a Praça João Pessoa, e ali aconteceram novos inflamados pronunciamentos. Fotógrafos do Jornal A União tiveram suas máquinas ameaçadas de destruição, o que não aconteceu graças à intervenção das lideranças.

O ato público foi encerrado sem maiores incidentes, diferentemente do que ocorreu por ocasião da celebração da missa de sétimo dia da morte do estudante no Rio de Janeiro. (Contarei esse episódio no próximo texto).

Estava contagiado pelo entusiasmo cívico que dominava a classe estudantil brasileira e, anonimamente, me incluía entre os inúmeros companheiros que participavam daquelas manifestações de rebeldia e contestação à ditadura militar. O Liceu colocava-se como o Quartel General das lutas políticas da juvenude secundarista.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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