Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Os “excedentes” universitários


11/06/2015

Foto: autor desconhecido.

Cursando o terceiro ano do clássico vivia a ansiedade e tensão próprios de quem estava às vésperas de se submeter às provas do vestibular. Em 1968 a juventude brasileira enfrentava um grande problema de ordem educacional, o número de vagas oferecido pelas universidades não atendia a demanda dos estudantes interessados em dar continuidade a sua trajetória escolar, pretendendo obterem um diploma de nível superior, o que lhes ampliaria as oportunidades de ascensão na escala social.

Esse problema tornou-se então uma bandeira de luta que estimulava os movimentos políticos estudantis. As mobilizações pautadas nos atos de contestação ao regime ditatorial que o Brasil vivenciava, ganhavam uma nova causa.

Os vestibulares eram exames que avaliavam por médias e conceitos a capacidade do estudante para ingresso na faculdade. Ocorria então um fenômeno preocupante, os aprovados eram, quase sempre, em quantidade maior do que a oferta de vagas. Criava-se, portanto, a figura do “excedente”. Isso assustava os militares que estavam no poder, forçando-os encontrar uma maneira de fazer desaparecer mais essa bandeira de luta nas manifestações estudantis que tomavam conta do país. A saída foi transformar os vestibulares em concursos classificatórios, o que equivalia dizer que os aprovados seriam na conformidade do número de vagas existente.

Quando saía do Liceu, a caminho de casa, me deparava apreensivo com um acampamento de estudantes em frente à Reitoria da UFPb, que ficava localizada no início da Avenida Getúlio Vargas, no prédio onde hoje funciona a superintendência do INSS. Eram os “excedentes” daquele ano na batalha pela conquista do direito de garantirem matrícula nos cursos de Direito e Medicina.

Aquela cena me deixava incomodado e aflito. E me perguntava: será que no próximo ano estarei aqui, em igual situação, reivindicando minha oportunidade de estudar na universidade? Essa era a grande agonia experimentada por todos, estudantes e familiares dos que se colocavam na condição de vestibulandos.

• Integra a série de textos “IVENTÁRIO DO TEMPO II”.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.