Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A época dos “cabarés”


08/06/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Os cabarés não existem mais. Sua decadência começou a acontecer no final da década de setenta. Preciso adiantar que não estou me referindo aos locais de prostituição aos moldes dos que ainda sobrevivem atualmente. Falo das casas noturnas, com clientela exclusivamente masculina, onde empresários, autoridades, políticos, fazendeiros, universitários, profissionais liberais, gente que formava a elite freqüentava, não necessariamente para atender aos prazeres carnais, mas se divertirem, conversarem, beberem, assistirem a um show artístico.

Esse tipo de estabelecimento desapareceu. Os cabarés eram ambientes requintados, possuiam glamour, um cenário cuidadosamente organizado com luxo e elegância. As proprietárias eram tratadas por “madames”. As meninas, “damas da noite”, em nada se assemelhavam às meretrizes, profissionais do sexo, dos dias de hoje. Eram mulheres bem vestidas, simpáticas, conversavam bem, trabalhavam o visual para assim se tornarem mais atraentes para os clientes de suas preferências. Normalmente eram moças que haviam sido expulsas de casa porque desonraram a família com atitudes que afrontavam a moral burguesa da época. Portanto, não faziam uso de drogas, muitas sequer bebiam (simulavam ingerir alguma bebida alcoólica para garantirem receita para o estabelecimento), nem falavam palavrões. O padrão era o sexo convencional, se alguém propusesse algo diferente, era prontamente recriminado com a pergunta: “você pensa que sou o que?”. Havia também as “exclusivas”, garotas que só ficavam com o seu “homem”, geralmente abastado, com condições financeiras para bancar essa situação.

Nesse tempo as moças de família ainda não podiam ter relações sexuais com seus namorados antes do casamento, tinham que preservar a virgindade para a oportunidade do matrimônio. Em razão disso, a juventude buscava nos cabarés a forma de satisfazer seus desejos da luxúria. Os pais levavam os filhos adolescentes aos cabarés a fim de que se iniciassem na sexualidade.

Em João Pessoa dois cabarés competiam para serem mais atrativos na sua especialidade: Hosana e Irene. O primeiro na Avenida Maciel Pinheiro e o segundo na Rua da Areia. Ambos promoviam bailes animados por orquestras contratadas e traziam artistas consagrados para shows. Para se ter uma idéia, a casa noturna de Hosana foi inaugurada por Nélson Gonçalves. O estabelecimento de Irene realizava anualmente uma prévia carnavalesca chamada de verde e branco, tomando como referências os bailes dos clubes Cabo Branco (vermelho e branco) e Astréa (azul e branco).

Bem ou mal, certos ou errados, pecaminosos ou não, os cabarés se tornaram marcas culturais de uma época.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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