Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Brasil além da corrupção


23/12/2016

Foto: autor desconhecido.

No Brasil, a corrupção é coisa muito antiga. A novidade é o julgamento e punição dos corruptos, o que é muito bem-vindo. Caiu por terra o mito de que esse tipo de crime era exclusivo da administração pública. Veio à tona a atuação de grandes empresas privadas como fonte essencial e maiores beneficiárias da corrupção sistêmica.

A confusa situação institucional do país gera ondas de instabilidade e incerteza à sociedade e aos negócios em geral. Temos um sistema político anacrônico e antidemocratico, um presidente da República carente de legitimidade e choques de ações entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Mas o grande problema do país é a involução de sua economia, sem perspectiva de solução. Isto sim sintetiza fatos históricos inéditos relevantes: mais de dois anos seguidos de altos níveis de recessão e desemprego e a falta de um projeto capaz de viabilizar a recuperação socioeconômica.

É evidente que a reação à exitosa luta contra a corrupção, os desatinos políticos e a desarmonia institucional complicam o difícil quadro econômico nacional. Mas é preciso entender que, mesmo sem essas adversidades, o Brasil teria uma tarefa histórica monumental de reinvenção modernizadora do seu sistema produtivo.

Desde 2012, exauriu-se o modelo econômico baseado no consumo sem suficiente expansão da produção, e não nasceu outro contemporâneo e eficiente. Hoje colhemos os efeitos: desindustrialização, baixa produtividade, um setor público incompetente e um setor privado que não desenvolve as forças produtivas da Nação.

Já se sabe o que fazer para o Brasil ter um processo consistente de desenvolvimento: modernização da infraestrutura; reindustrialização; elevação da produtividade; boa educação para todos e avanço científico-tecnológico. O problema é que esse novo modelo não virá do céu e sim de ações públicas e privadas inovadoras.

Fazer o ajuste fiscal e levar a inflação para o centro da meta favorecerão a recuperação econômica. Mas o governo Temer aumentou o deficit público deste ano, o que repetirá em 2017. A queda da inflação é fruto de fortes golpes de recessão e aumento da taxa básica real de juro. Há claros equívocos nas práticas adotadas.

Urge que o governo e o Banco Central demonstrem que não vão jogar o país na depressão econômica até a deflação. Com efeito, é para aí que vamos, em se mantendo os juros nas nuvens, inviabilizando os investimentos e consumo privados, e as despesas públicas de capital no chão, com a queda contínua das receitas governamentais.
 


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