Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Do Sofá para as Olimpíadas


23/08/2016

Foto: autor desconhecido.

Remar é preciso!

Gosto desse evento! Tenho um pé na Grécia. E lá fui um dia. Ver os meus livros de História do tempo de colégio, ao vivo naquelas colunas e museus da Mesopotâmia. O túmulo de Zeus, a Acrópole, Isis, comer Moussaka, azeitonas, e me embriagar com a paisagem azul anil de Mikonos e Santorini. Mas nada de medalhas. Corri meu próprio tempo.

E desde que as Olimpíadas são transmitidas pela TV e à cores que gosto de acompanhar. O interessante é que nunca gostei de praticar esportes, mas o Atletismo me encanta, principalmente a corrida e o salto com vara. Chorei com o não conseguir de Fabiana Murrer e o voo de Thiago Braz; com a derrota das meninas do futebol e cantei o hino com o masculino (futebol e vôlei) e o ouro. Mas o mais emocionante mesmo foi ver os atletas pobres do Brasil, que, ao participarem de programas de inclusão do Governo Federal (Lula e Dilma), puderam chegar ao pódio e brilhar com suas medalhas. Parabéns Isaquias (Canoa), Rafaela Silva (Judô), Robson Conceição (Boxe – que era feirante) , Maicon Andrade ( Taekwondon – ajudante de pedreiro). A superação de vida, fome, pobreza, rumo à conquista, foi mais do que o meu sofá aguentava. O esporte e a arte tudo pode. O amor também!

E quando tudo termina, sim, tenho banzo. Banzo de quem ganhou. Perdeu. Os recordes. As frustrações. Os fracassos. Tudo faz parte desse acontecimento que neste ano fez o Rio se mostrar para o mundo com o que tem de melhor. E junto com ele o Brasil como um todo. Receber, festar, aplaudir, vaiar, ser simpático, cordial…já diziam os historiadores.

As Olimpíadas chegam ao fim . Assisti à muita coisa. Chorei com as medalhas do Brasil e de outros países. Cantei hino. Aplaudi, torci o nariz… Mas Torci alegre e ferozmente pelo Bolt demais da conta. Nadei com o Phelps. Voei junto com Thiago Braz. E canoei com Isaquias (sentindo amor e orgulho por você cara!), bati forte com Rafaela Silva, velejei com Martina Grael e companheira.

Mas gosto dos making off e bastidores. O arrepio com as imagens em câmera lenta. O cabelo de Isaquias e a sua mãe aflita na plateia; um pé em falso numa piscina; um olhar arregalado para o placar; um salto da ginasta; o giz que explode em partículas; os arremessos do Dream Team; a barba ruiva e suada do medalhista do volei praia; o choro do Schmidt; a sobrancelha egípcia de Marta quando faz gol; Formiga e sua tez negra cinza linda; um vento cais; o Francês que chora; as chinesas imensas do vôlei; os penteados das meninas do nado sincronizado, e Maria – uma querida; os bambolês, as fitas, as bolas da ginástica; a expressão de toda a força do mundo do brasileiro baixinho das argolas; as veias puladas e abertas de raiva e garra de Wallace do Volei; a dor de Lucarelli; o raio que o parta! e todas as mungangas de Bolt; os corpos suados e melados de areia das meninas do Volei de praia; os cortes inabaláveis das meninas da quadra; as expressões de raiva, de alegria, de superação, de estrondo, vitória, fracasso, incredulidade, êxtase, enfim…estou exausta de tantas modalidades e jogos. Muitas taças de vinho e/ou xícaras de café para dar caibo da minha aflição. Parabéns ao Rio de Janeiro, minha cidade maravilhosa do coração, que deu show.

E, quando pensei que já tinha visto todas as belezas do país na festa de abertura, eis que do meu sofá ainda, pude assistir à outra festa, a de encerramento, escutando a música Odeon me embalando o sonho; o pincel de Tarsila do Amaral passeando pelas nossas corres; as araras azuis , se não de Cátia de França, mas araras do norte, iluminando os hieróglifos da Serra da Capivara. Crianças que viraram estrelas na bandeira cantando o hino ao som dos atabaques e a evocação dos Orixás; Roberta Sá de Carmen Miranda; a alegria dos atletas eufóricos; os Britânicos que agradeciam em português estampando – Obrigado nas costas; Jackson do Pandeiro, Sebastiana e todas as rendeiras; o bilro e os bonecos de barro de Vitalino; o Grupo Corpo ; Martinho da Vila, Lenine, Tom Zé e a ema a gemer. Eu gemi. Contagiada pela alegria do ouro de pouco antes dos meninos do vôlei, Serginho, Peixinho! Aplaudi.

Nada tirou o brilho desse evento, nem mesmo a calhordice de um ou outro atleta iventador de mentiras, ou estuprador de camareiras, ou ainda autoridade que tentou vender ingressos inflacionados. Ou até mesmo uma nota zero para a torcida que vaiou nas horas erradas. Sempre há de existir os malfeitores. Mas a alegria de Iá Iá tem corpo fechado e o bastão foi passado para a cultura mais que organizada do Japão. Algo que ainda não temos. E nem sei se teremos. Temos outras coisas que eles não tem. Tapioca tapioca! Graça, beleza, criatividade, natureza, e a capacidade de fazer tremer por duas semanas sem terremoto. Só chuva de afeto e gozo. Chuva que poderiam ser lágrimas. De saudades.

Frevando e Sambando!

Que venha o Japão! Tomara que o meu sofá aguente!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa – 22 de agosto,2016
 


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