Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Todos Anjos Serão Azuis


02/02/2016

Foto: autor desconhecido.

Dia dois de fevereiro, dia de festa no mar…..

Acabo de me sentar ao computador, meio sem assunto para escrever, pois afinal é carnaval e não dá para falar de filosofia…ou cotidiano , ou verão e praia….Aí olho do lado e vejo um calendário que a agitadora cultural Ednamey Cirilo me deu, no último Sol das Letras, com sua foto linda envolta em plumas azuis. Azul com certeza é a cor mais quente. Indigo Blues!

O que falar do Carnaval? Já escrevi tantas crônicas, sobre As Muriçocas, As Virgens, Os Cafuçus, os carnavais da minha infância e o baile à fantasia em Areia Vermelha, nos tempos que só o papel crepom importava, sem lenço e sem documento. Também já escrevi sobre Máscara Negra (Zé Keti), cujos acordes nos salões da AABB, me fazia revirar os olhinhos para um rapaz por quem eu era apaixonada. E ele nem nem…. O Cabo Branco e os frevos, onde nos apaixonávamos e nos des-apaixonávamos conforme o som da corneta. A ordem era a alegria!

Leio nos jornais o esfuziante Marcos Pires e sua Baratona! Ano passado dei uma olhada, assim como Kubi Pinheiro, mas sem Old Parr! Estava meio borocoxô, e a melancolia que o Carnaval produz não é brincadeira! Este ano perdi! Queria ir nas Piabas, e não sou mais gente de dois blocos!!!! Mas nas Piabas não tinha frevo! E quem já viu Carnaval sem música? Um moço apareceu lá pelas tantas, perguntando pelo responsável, pois ele era a orquestra! Procura lá procura lá que eu vou! E eu fui! E um frevinho começou e lá se foi Fred Ferreira puxando o bloco até a Adega do Alfredo e o Emporium. Fiquei junto de uma certa Vaca Profana! Vaca Mocó! Vaca Maluca! Sei lá! Minha irmã Claude Peixoto que explique a sua linda e criativa fantasia. Mas As Piabas, que se concentra mas não sai do Appetito Tratoria, é um bloco de encontro. Encontrar Adroaldo Gomes, Luciano Bernardo, Marcos e Fátima Souto, Madalena Záccara e Cláudio Paiva, Bitu e Ana Lúcia, Rodolpho Athaíde e Selma, Saulo Londres e Silvana – este que quer conversar ! vamos vamos! e mais um montão de gente da minhas amizades, infância, ou depois. Vale por isso, e achei que ninguém nem sentiu falta do frevo.

Mas o frevo, quando a gente ouve em Recife, pelas mídias, na sombrinha, nas ruas estreitas, ou simplesmente num acorde, não tem quem pare quieto! Aí Claude me fala que tem um bloquinho de rua na sua quadra e que ela está sentindo algo esquisito, difícil de definir. Toda a tarde ouvindo frevo e a sentir calafrios e saudades! Nostalgia pelo passado? Pergunto. E eu na igual sintonia. Também tinha um bloco no meio da rua! No meio da minha rua tinha um bloco.

Desde muito cedo entendi o significado da palavra Melancolia: “Uma valsa triste que toca dentro da gente de repente” (Adriana Falcão). Palavra que remonta da antiguidade, a questão da bílis negra, dos humores e dos seus componentes (sangue, bile amarela e a pituíta). Um Sol Negro que Julia Kristeva tão bem retomou sobre as teorias freudianas. O próprio Freud com seu Luto e Melancolia, percorreu o caminho das nossas ” carências congênitas” por um carnaval perdido ao vento…nossa juventude, nossas fantasias, o proibido, o salão do Cabo Branco, o Corso, os pierrots e as serpentinas…. Nossos fragelos de papagús, e o nosso “conflito de ambivalência”. E nesse estado de ferida aberta, ouço os frevos que Gustavo Urquiza posta no facebook, ou ouço Antonio Nóbrega e Alceu Valença. Capiba! Aristóteles dizia que uma das principais características da melancolia era a propensão de nos deixar levar pela imaginação. E que lidávamos com uma situação ambígua de perigo mas também um estado de fermentação da alma, um instante de calmaria antes da explosão de novas ideias e formas. E do nosso olhar perdido sob o peso da existência (tela de Dürer), ou do nosso vazio interior de tododiatodo, me vi sob o signo de Saturno: Melancólica ao ouvir os frevos do mundo! Pensando no Mal Estar da Civilização, nas dores do mundo, ouvindo os frevos como essa Valsa Triste de que nos fala Adriana. De repente tudo ficou silêncio, e a alegria sólida do carnaval…se desmanchou no ar.

Tomara que As Muriçocas, As Raparigas de Chico, A Garagem, e Os Cafuçus , O Boi do Bessa, As Virgens da Torre, tenham frevos e cores, e que não deixem o anjo azul, Ednamay, mais nunca a frevar sozinha nas ladeiras da Malagrida!

Parabéns pelos 30 anos de Muriçocas – Vitória Lima, Gualberto, Thiago, Thais e Rodrigo (in memoriam), pelo zum zum zum que fizeram nas ruas desta cidade.

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa 2 de Fevereiro, 2016
 


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