Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Sexo, Mentiras e A-casa-lamentos


13/10/2015

Foto: autor desconhecido.

Zapeando com o controle remoto, eis que paro no Canal da BBC, e assisto a um programa sobre o acasalamento dos animais. Que espetáculo! várias espécies na luta pela procriação, a disputar a atenção das fêmeas para o belo jogo do encontro, com consequências de crias e preservação das espécies.

Não gosto de bicho. A não ser nos seus lugares habituais – na floresta bem dizendo. E também não sou adepta dos pets. Não tenho esse amor todo. Nem o desapego. Nem a generosidade necessária para cuidar de cachorro e gato. O meu negócio é gente! Mas, sempre gostei de filmes sobre a vida animal. E nunca esqueci um documentário sobre a vida das formigas que assisti no Cine-Tambaú, há décadas atrás. Encanta-me a vida de urso, na neve, leopardo, leão, répteis, e principalmente a vida dos bichinhos pequenos e esquisitos. As várias formas de vida, da luta e do amor e sexo.

Nesse documentário da BBC, a espécie que mais me impressionou foi um tipo de aranha. O macho, uma caranguejeira linda, toda colorida, enquanto a fêmea uma caranga bem feinha, com quatro olhos enormes para poder bem analisar suas escolhas. Os machos tinham que chamar muito à sua atenção para que ela se dispusesse ao acasalamento. Só vendo a esnobação que fazia. De quem sabia de onde vinha seu poder e força. Empoderada total!! Começava então a dança da sedução, e o macho bailava com muito jingado para seduzir a fêmea, e quando ela não gostava da apresentação, matava o caboclo sonhador num golpe certeiro, e quando sim, matava-o do mesmo jeito. E o pobrezinho lá dançando um rock de dar dó e piedade.

Uma outra espécie, de passarinho, arrumava um ninho impecável para mostrar-se um bom acolhedor para a fêmea. No meio dos galhinhos, uma coisinha colorida, como se fosse o bolo da cereja, para colorir o ninho. E depois de se exibir com altas coreografias, fazer sons guturais, e estar quase lá….aparecia um rival, e a fêmea ia simbora….Eu eu fiquei a pensar com meus botões: “Que trabalheira que é a luta pela conquista!” Com nós humanos também! E entre os bichos, é cabra macho quem garante a próxima geração da sua espécie! Bonito de se ver e fazer algumas analogias….

Depois veio um macaco velho, cego de um olho, mas dono de um harém de macacas. Ele cercando seu território. Mas, quando o velho dormia, os macacos jovens seduziam as macacas e elas, saltitantes de alegria, iam copular atrás das árvores com um olho no desejo e outro no macaco velho que quando descobria, não sobrava macaca quieta. Macaco violento! E quem ama mata! Para os macacos! E os homens aprenderam. Uma graça de ver as macacas assanhadas todas com a corte dos macacos jovens, e a suposta traição com o velho macaco do olho azul. Cena de filme francês!

Mas coitado do leão marinho, que quando cortejava uma leoa aparentemente solitária, logo surgia um pelotão daqueles bichos enormes e davam uma surra violenta no intrometido que, ferido de morte, sabia que não teria saúde de acompanhar a espécie para lugares distantes, e ali ficaria, sozinho e sem garantir sua prole. Triste mesmo. E fiquei a pensar na violência dos homens contra as mulheres. Que eu fico a me perguntar perplexa de onde vem e sem entender muito o ódio visceral, quem sabe possa vir daí, dos seus primatas ancestrais. E de outras profundezas marinhas.

E pensando nos humanos, a dança da conquista se dá justo ao contrário. Os homens são crianças mimadas e tão cheios de si! E as mulheres a se enfeitarem com batom, silicone, e saltos para com suas bundas sacolejarem a disputa amorosa, feito aquela aranha macho. E como somos piegas e arcaicos nesses quesitos! Subjugamos! Infantilizamos! E talvez por isso temos o desplante de justificar a traição e dizer: “mas foi somente sexo!” Ora e queremos mais? Sexo é tudo! Sexo é uma revolução nas nossas vidas! Uma explosão incendiária. Ficarmos completamente despidos (de tudo) diante de outro e nos entregarmos é um momento de êxtase e reconhecimento! Como só pode ser só? É Sempre tanto! Tanto muito! Mesmo que seja sexo na bananeira! Mesmo que seja ocasional! Selvagem! Quieto! Com o mesmo! Com o estranho! Rápido! Prolongado! Até mesmo sexo na internet! Tudo é entrega e consequência! E que consequências!

Mesmo se não matamos o macho como as aranhas, mas temos todos nossas pequenas mortes?; nossas perdas e danos? Ou ganhos? E por ele sofremos tanto também. Rejeições, traições, subversões, opressões, violências, nós também fazemos a guerra e não o amor! Invejamos, cobiçamos, mentimos. Somos mesquinhos, manipuladores, ambiciosos, autoritários e negligenciamos tanto nossos encontros sexuais, e/ou amorosos. E acho que o nosso desalento talvez seja porque não conseguimos viver com uma só experiência, e não sabemos lidar com as tantas pulsações que a vida nos brinda. Se nem os bichos sabem! Como as macacas! E queremos exclusividade! Imagine nós pobres humanos! E nos ferimos que nem os leões marinhos; nos despedaçamos que nem os macacos, e morremos que nem as aranhas. De amor! E de sexo, basta que a gente leia as tantas mortes que vemos no jornal todos os dias. A última, um homem que esfaqueou a mulher e a enteada de 15 anos, menina que ele desejava e não era correspondido. Não tenho? Pois não serás de ninguém!

Também assisti ao documentário Amores Livres (GNT) sobre o Poli Amor! Bonito de se ver. Tão complexo de se viver. O ser humano transcende tanta magnanimidade e altruísmo. Da minha geração já levitei experiências amorosas maiores do que o meu tão pequenino coração… Quem foi jovem nos anos 70 que atire a primeira pedra! E se espatifou na curva do rio. Para juntar os pedaços foi um mosaico para todas as artes. E falo das mulheres. Pois para os homens tudo sempre foi dado de graça, ao contrário dos animais que se retorciam para o jogo da sedução.

E mais recentemente, li que o amor não está na moda. A moda está intensa no mundo virtual e que estamos negligenciando o amor.

De volta para o futuro – De volta para o amor – De volta para o sexo ! Nem sempre nessa mesma ordem!

Ana Adelaide Peixoto – Domingo, 11 de outubro, 2015


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