Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Diferentes, Sim!


05/03/2014

Foto: autor desconhecido.

 

Para Nadilza, amiga de longas datas, aniversariante do dia 7, em nome de quem saúdo todas as mulheres no Dia Internacional da Mulher.

Em pleno domingo de carnaval e eu a pensar nas questões de gênero para escrever este texto.

Ontem, dirigindo pela BR, com meu filho Daniel, e ouvindo Frevo no rádio do Carro, conversamos sobre Hanna, minha sobrinha de 11 anos, que está naquela fase que as meninas vivem de descobrir a beleza, a sedução, e os apetrechos femininos. Ela é toda espelho. E mais rimel, gloss, cabelos esvoaçantes. E fiquei a pensar nos meninos de 11 anos que ainda são moleques, falam “Eca” para as meninas, e uma bermuda e um chinelo estão de bom tamanho. E Daniel exclamou: “Quanta diferença hein mãe?” E eu: “ Sim. Muita. Para mais tarde se encantarem com tudo isso. Mas claro, que, serão sempre incompatíveis nos seus mistérios”. E ele concordou assustado…

Demorei a vida inteira para entender que mulher gosta de mulher e homem de homem. Nos intervalos….aí sim, um encontro arrebatador. E os psicanalistas já falam desse paradoxo: Os melhores maridos, são exatamente aqueles por quem sentimos menos desejos, pois desejo não combina com o já conquistado, ou com parceria tranquila…Desejo é um tsunami desencontrado de tudo e sempre marcado pela falta. E as mulheres querem marido, tesão, amante, cúmplice, amigo solidário, matador de baratas, filósofos, pau para toda obra, e mais Leonardo di Caprio irresistível. Impossível!

Por coincidência, a Revista Veja da semana trás entrevista nas páginas amarelas com a polêmica Camille Paglia, quem por vezes discordamos pela sua misoginia paradoxal, mas quem também concordo em parte dos seus pensamentos, mais especificamente com nossas dificuldades em driblar o desejo de ser mãe e o sucesso na vida profissional. Camille fala das encruzilhadas do movimento feminista, da ilusão do sucesso profissional para algumas mulheres, mulher x política – uma equação ainda não resolvida , e de como nós mulheres dão de cara com a parede frente à pressão de se fazer sucesso no espaço publico, o que nem todas conseguem; e também da busca da felicidade, que para muitas mulheres está sim, na maternidade e na construção de grandes famílias. E ela diz: As mulheres pedem aos homens que eles sejam o que não são e, quando eles se tornam o que não são, elas não os querem mais” . Gostaria apenas de ampliar essa afirmação também aos homens. Basta que exemplifiquemos o típico caso do homem que gosta da mulher por certos atributos físicos e de personalidade, e aos poucos vai podando, podando, esses mesmos atributos, e, quando podam tudo, e tem junto de si uma mulher rente… de autoestima , e já uma outra mulher…eles vão embora. Ou seja, desejo, conquista, calma amorosa, e intimidade compartilhada, são coisas não excludentes, mas difíceis de equacionar de forma satisfatória para ambos os sexos. Adicione-se aí limites extremos de opressão, competição, relação de poder e em últimas consequência – Violência Doméstica, ou não.

Sábias são as que entendem desde cedo que uma coisa é uma coisa e …outra coisa é outra coisa. Tem seus maridos companheiros. Mas sabem guardar um certo mistério e incógnitas para as caladas da noite. E saber que, na hora da conversa, do tricô, não vamos generalizar, mas nem sempre temos ou gostamos dos muitos assuntos e das mesmas coisas. Vejo tantas mulheres sofrendo porque o marido não gosta de compartilhar o dia a dia; ou de aproveitar uma tarde de liquidação no shopping…., ou simplesmente dividir os silêncio , a subjetividade..Tem coisas que o máximo é vivencia-las sozinha!!! Nem com amiga divido certos prazeres….

Tenho dois filhos homens, e nesses 30 anos (idade de Lucas, meu filho mais velho), muito tenho aprendido sobre o mundo masculino. Acho até que deveria ter tido filho antes de me casar. Teria ajudado tanto….E como venho de uma casa feminina (4 irmãs), agora tudo vai se encaixando paulatinamente… Meninas brincam de boneca, se pintam, gosta de roupa, de enfeites, de conversar,….. Os meninos gostam de briga, de jogo, de brincar na rua. E claro que, esses papéis há muito que deixaram de ser estanques; e não quero aqui estereotipar esses papéis já há tantas décadas sendo des-construidos. Pois também brincamos de pega na rua, e puxamos os cabelos umas das outras. Como tem meninos que gostam de ficar em casa e conversar baixinho ou estridentemente. E mesmo quando esse modelos são quebrados e subvertidos, mesmo assim, as distâncias ainda são quase, digo quase, intransponíveis.

Mas acho que, cultural, biológica ou simbolicamente, desde as cavernas que é assim. Tem sido muito difícil des-construir as fronteiras. E o sofrimento é tanto na hora da relação, pois quando nos juntamos, ainda prevalece essas leis antigas. E o grande desafio é sim, criarmos nossas próprias estratégias e negociações.

Fico a pensar no Correio Feminino de Clarice Lispector, e como sua ghost writer, Helen Palmer, era sábia! Dando conselhos aparentemente bobos, só aparentemente.

Compartilhar é preciso. Mas nem tudo. Ou pouco. Ou aquele pouquinho que faz a diferença na hora do encontro dos fósforos (como no filme “Como Água para Chocolate”), mas sem queimar tudo de uma vez…Fazer a chama acender devagar e sempre, eis a questão.

Parceiros, amantes, paixões, cúmplices, conchinhas, basta que lembremos dos nossos onze anos de idade, e todos os espelhos que buscávamos. “Boat is Boat, fuck is fuck”, como bem disse a personage Shirley Valentine, no filme do mesmo nome.

Mas hoje é carnaval, e podemos ser tudo. E mais um pouco! Trans-meninos e trans-meninas. E trans-carnaval para todos!

Aliás, já quarta de cinzas. E sejamos Fenix, pois.

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa 2 de março de 2014

 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.