Economia & Negócios

Professor Paulo Amilton analisa a trajetória futura da economia brasileira pós-eleição


13/09/2018

O professor Paulo Amilton, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), analisa o futuro da economia ligado ao resultado das eleições presidenciais em novo artigo publicado nessa quinta-feira (13). O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

Confira na íntegra o artigo:

‘Uma situação ruim pode ficar pior?

Por Paulo Amilton Maia Leite Filho

Três eventos que aconteceram nas semanas que passaram têm potencial de afetar a economia de tal forma que a sua trajetória futura siga o princípio da incerteza de Heisemberg. De uma forma bem compreensível aos meus oito leitores, pode-se afirmar que na mecânica proposta por Newton um corpo tem sua trajetória prevista com certeza se sabemos sua posição inicial, velocidade e massa. No entanto, na mecânica quântica proposta por Einstein isto não é mais possível.  Para esta, dada a posição inicial de uma partícula e as informações de massa e velocidade não é possível se determinar sua coordenada linear futura. A razão desta incerteza não é um problema do mecanismo utilizado para medi-la, mas da própria natureza da partícula, que é errática.

A trajetória futura da economia esta intimamente associada ao resultado da eleição presidencial e os acontecimentos das semanas passadas tornaram a aceitação de seu resultado duvidoso pelos perdedores, envolvendo a trajetória futura da economia brasileira incerto. Vamos a eles.

O primeiro evento foi o anúncio, com certo estardalhaço, de que as associações de caminhoneiros pretendiam realizar um novo movimento paredista para ter início depois das festividades da independência, ou seja, nesta segunda-feira passada. Uma rede de postos de Pernambuco, inclusive, emitiu um comunicado nas redes sociais, também na semana passada, afirmando que o movimento começaria naquela semana, o que resultou em enormes filas nos postos da cidade.

O movimento que aconteceu em maio foi na verdade dois movimentos em um só. Aconteceu o dos caminheiros propriamente dito, com as reivindicações de diminuição no preço do diesel e dos pedágios junto com uma nova política para o frete, acompanhado por uma mobilização popular que reclamava dos aumentos nos combustíveis que se transformou posteriormente em apoio ao movimento dos caminheiros. A mobilização destes não teria o alcance que obteve sem o apoio popular. O movimento se transformou num protesto contra o mundo político.

No entanto, o público não sabe os custos que aquele movimento acarretou. As medidas tomadas pelo governo para por a cabo ao movimento tem pressionado os custos e ampliado sobremaneira as incertezas por que afetou a confiança na retomada da economia. As medidas tiveram várias consequências, tais como diminuição na disposição dos empresários de investir em infraestrutura, que dava sinais tímidos de melhoria. Com a solução encontrada para os fretes, o custo de produção se elevou por que o transporte é um item dos custos importantíssimo. Em alguns, é essencial. O gesso produzido em Araripina, sertão de Pernambuco, é o de melhor qualidade do mundo, mas tem no transporte seu principal item de custos. Com a tabela do frete negociada, se tornou inviável. Resultado, o movimento paredista aguçou as incertezas futuras. 

O caso das industrias siderúrgicas e de cimento é bem parecido, tanto que estas para mitigar o efeito do aumento do frete pensam em aumentar a frota própria ou utilizar o transporte ferroviário. A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) estima que o custo do frete represente 25% do custo total. E que das 64 fábricas de cimento existentes no Brasil, 15 encontram-se fechadas.

O setor agropecuário também reclama do aumento dos custos provenientes do aumento do frete. Tanto que entrou com ação de inconstitucionalidade contra a aprovação do congresso da nova política de preços dos fretes que estabelece um patamar mínimo para os mesmos. Nossa produção agropecuária é uma das que apresenta maior produtividade no mundo. Antes da porteira somos praticamente imbatíveis. Todas as vantagens correm o risco de serem perdidas depois que a produção passa da porteira. Nossas estradas são horríveis. Muitas delas ainda são de barro. Quando chega o inverno, ficam quase intransitáveis. Aí vem a tabela do frete para matar toda vantagem de vez.  Todo isto somado e dividido resultou num aumento no nível geral de preços. As taxas de inflação de junho e julho já captaram o aumento do nível geral de preços e interrompeu sua trajetória descendente.

Para não correr o risco de outro movimento paredista, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) anunciou um aumento de 3% no preço do frete e prometeu redobrar esforços para que o mesmo seja cumprido pelos agentes econômicos. Ou seja, os custos já estavam pressionados e o atual aumentou ainda mais a pressão.   

O segundo evento foi o desastre representado pelo incêndio do Museu Nacional. Este caso, para se ter uma pequena ideia, pode ter feito a pesquisa brasileira sobre a Antártica praticamente se inviabilizar.  Mas o que me chamou mais a atenção foi o fato de que o cinismo da esquerda brasileira tende ao infinito. Como certas pessoas conseguem elaborar a fantasia e transformá-la numa narrativa que se propõe verdadeira é algo que a psiquiatria deveria estudar. Agora o discurso é que o museu foi destruído por causa da lei do teto do gasto. Basta dar uma olhada em qualquer cidade brasileira que seja administrada por qualquer partido de qualquer viés político que se observa o patrimônio histórico brasileiro se degradando a céu aberto. Colocando a culpa na Lei dos gastos, pode existir a chance da mesma ser revogada logo no início do próximo governo. Abre-se a porteira para que os novos governadores eleitos em outubro façam uma romaria a Brasília pedindo o perdão de suas dívidas. O problema fiscal, que já é grave, explode de vez. Mais incertezas aí.

O terceiro evento foi o atentado contra o candidato Jair Bolsonoro, o nosso Malvado Favorito. Este evento também tem potencial de afetar a formação das expectativas futuras dos agentes econômicos. O general Eduardo Villas Bôas deu uma declaração à impressa escrita afirmando que a legitimidade do novo presidente eleito pode ficar danificada. Bom, O general chegou atrasado. A estratégia do PT de ficar insistindo que Lula deve ser passível de ser eleito indica que se este perder a eleição, a esquerda vai recomeçar a cantoria de golpe contra a democracia. Esquecem que foi uma decisão do STF, STE e do STJ, as mais altas cortes do judiciário brasileiro. Qual investidor colocaria dinheiro num país que não respeita as decisões das suas altas cortes judiciais? O atentado só reforçou isto, pois o candidato, e os seus bolsominions, vão afirmar que foram vítimas e agora vão dizer que se perderem a eleição, o foi por que Bolsonoro foi forçado a se retirar da campanha para se recuperar dos ferimentos. Aí nenhum dos lados aceitará o resultado. Temos aí um cenário de quatro anos de turbulência política com consequências no ambiente de negócios e, por consequência, na economia.  

A eleição que deveria ser o instrumento para dirimir as incertezas, agora tem potencial de aumentá-la. É aquela máxima, “uma situação ruim pode ficar pior”.’

 

 



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