Economia & Negócios

Professor da UFPB discute o papel da cultura no crescimento econômico

DEPT. DE ECONOMIA


21/12/2017



O professor de economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paulo Amilton, discute em novo texto, o papel da cultura no crescimento econômico. O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

Segundo o especialista, "a questão de por que algumas sociedades são mais pobres que outras está ligada a questão de por que algumas sociedades têm instituições econômicas piores do que outras".

Confira o artigo na íntegra:

O papel da cultura no crescimento econômico

Por Prof. Titular Paulo Amilton Maia Leite Filho

A pergunta mais batida em economia é, porque alguns países são mais pobres que outros? Várias explicações já foram dadas. Basicamente elas apontam para diferenças na acumulação de fatores de produção que acontece na economia. Nessas explicações, a diferença se dá por causa da insuficiência de poupança, nas preferências ou outros parâmetros exógenos, tais como crescimento da produtividade dos fatores, etc. Recentemente, colocam a responsabilidade nas diferenças nos níveis educacionais e no progresso tecnológico.

Na visão de North e Thomas (1973) a falta de poupança, de inovação, de economias de escala, de educação, de acumulação de capital, está justamente nas diferenças nas instituições de cada país, que não permitem o surgimento ou desenvolvimento das condições para que o crescimento esteja presente. Para North (1990) instituições são as regras do jogo na sociedade, ou mais formalmente, são os instrumentos construídos pela sociedade humana para moldar suas interações. Como consequência, elas organizam a estrutura de incentivos nas trocas humanas, no sentido político, social e econômico.

As instituições econômicas, tais como direito de propriedade e presença de mercados, são essenciais por que influenciam os incentivos econômicos da sociedade. Sem direitos de propriedades, os indivíduos não teriam incentivos para investir em capital físico e humano, ou adotar tecnologias mais eficientes. Sua presença influencia a alocação dos recursos escassos entre os vários usos alternativos. Ao fazer isto, determina a taxa de lucratividade, as receitas e controle dos fatores.
Quando inexiste mercado, ou eles são ignorados, as trocas não são exploradas e os recursos são mal alocados. Sociedades com instituições econômicas sólidas, que facilitam a acumulação de capital, a inovação e a eficiência nas alocações, são sociedades mais prosperas.

A questão de por que algumas sociedades são mais pobres que outras esta ligada a questão de por que algumas sociedades têm instituições econômicas piores do que outras.

As sociedades têm composição de raças e grupos étnicos e passado diferentes. Essas diferenças levam essas sociedades a terem culturas diferentes. A cultura é a variável que mais afeta os valores morais, as preferências, as crenças dos indivíduos e da sociedade. Então, o argumento é que diferentes culturas levam às diferenças no desempenho econômico.

Como Grief (1993) escreveu, culturas diferentes geram um conjunto de crenças diferentes sobre como as pessoas devem se comportar e isto pode alterar o equilíbrio para um dado conjunto de instituições. Por exemplo, algumas crenças permitem que certas estratégias de punição e recompensa possam ser utilizadas.
O mais famoso elo entre cultura e desempenho econômico é dado por Max Weber (1930) que assegura que a origem da industrialização no leste europeu, notadamente na Grã-Bretanha, se deveu a reforma protestante e o surgimento do Calvinismo. Por essa visão, o conjunto de crenças sobre o mundo que estava intrinsecamente ligada ao protestantismo foi crucial para o desenvolvimento do capitalismo.

O protestantismo de matiz Calvinista preconizava trabalho duro, vida frugal, valorização do mérito e incentivo a poupança. Em suma, são sociedades que valorizam o trabalho. Se um individuo é rico é por que ele trabalhou duro, teve o mérito de poupar e investir seu tempo em desenvolver uma ideia. Este individuo é visto nestas sociedades como verdadeiros heróis, por que a partir de seu esforço, empregos e rendas são gerados. Outras pessoas podem crescer a partir de seu esforço original. Eles são vistos como multiplicadores de sonhos de uma vida melhor.

Em contraposição, existem sociedades que veem o trabalho como um castigo. As sociedades de forte presença do catolicismo tendem a ver o trabalho como a penalização de Deus pelo fato de o homem ter cometido o pecado original. Nestas se valoriza o não trabalho, as férias, a aposentadoria o quanto mais cedo possível, ou seja, o ócio para que o indivíduo possa passar mais tempo na contemplação da obra de Deus. Estas tendem a ver aqueles que se dedicam a levar adiante uma ideia de trabalho como um explorador da mão de obra alheia. Um indivíduo que suga da classe trabalhadora tudo e não dar nada de bom em troca. Este é visto como o semeador de pesadelos nos outros e deve ser taxado por conta disto. Para constatar isto basta ler a obra de são Tomás de Aquino

Escrevo isto ao ver e ler as manifestações contrárias as reformas propostas pelo atual governo, a trabalhista e a da previdência são as vítimas atuais. Verdadeiras Genis. Vários aqui ficam horrorizados com a proposta de aumentar a idade mínima para a aposentadoria ou com a perspectiva de aumento do tempo de contribuição para a obtenção da integralidade dos benefícios. Dizem, “quem deve pagar mais são as empresas, estas é que nos exploram”. “Deve-se cobrar as dívidas das empresas junto ao INSS”. Subentende-se que o trabalhador já contribui e trabalhou o máximo.

Aqui o objetivo da arrasadora maioria dos recém-formados é estudar muito para passar num concurso público. Dentro do serviço público, se envolver na luta pela transformação das oito horas de trabalho com interrupção para almoço em seis horas contínuas e sem o estabelecimento de nenhum instrumento de verificação das horas trabalhadas, por que ponto é resquício do tempo da escravidão ou do capitalismo selvagem.

A cultura do não trabalho brasileira influência até a literatura. Muitos consideram Machado de Assis o maior escritor brasileiro. Sou da opinião de que é o maior escritor da literatura portuguesa. Procure na obra dele inteira um personagem principal que viva diretamente do trabalho braçal. Todos são rentistas. Provavelmente, para a época, trabalho braçal fosse associado a escravidão e não digno das classes abastadas.

No setor público brasileiro, que não cria riqueza, só redistribui a riqueza criada em outros setores da economia, deve ter inúmeros Bill Gates e Steve Jobs da vida frustrados no trabalho, mas com tempo de ir numa academia e levar seus filhos no colégio e ter a possibilidade de enforcar a sexta-feira de trabalho quando o feriado cair na quinta-feira, no judiciário então, deve ser uma infinidade. Talvez esteja na nossa cultura da não valorização do trabalho, do mérito, da poupança, a razão de nossa pobreza e desigualdade social. 



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