Economia & Negócios

Professor da UFPB explica o controle de armas à luz da teoria econômica

DEPT. DE ECONOMIA


03/10/2017

O professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Luiz Renato de Oliveira Lima, explica em novo artigo no Portal WSCOM, o controle de armas à luz da teoria econômica. O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

"A mensagem principal desse artigo é que uma discussão a respeito dos efeitos do porte de armas sobre o número de homicídios deve ser feita de forma mais séria."

Leia o artigo na íntegra:

A Crítica de Lucas

Roberto Lucas (ganhador do Nobel de Economia em 1995) ficou conhecido por desenvolver o que os economistas chamam de “Crítica de Lucas”, ou seja, que não se deve prever os efeitos da mudança de uma legislação apenas com base em resultados observados no passado. Por exemplo, suponha que um Banco que gaste anualmente R$ 5 milhões com segurança resolve eliminar totalmente esse gasto porque, ao se deparar com os dados históricos, percebe que nunca foi assaltado em toda a sua existência. Portanto, baseado nos dados históricos, o banco seria levado a concluir que não haveria mais necessidade de investir em segurança. A crítica de Lucas surgiu para mostrar que esse tipo de raciocínio está errado pois ignora o efeito da mudança de política (eliminação dos gastos com segurança) sobre o comportamento futuro dos bandidos. Em outras palavras, ao descobrirem que o banco não está mais investindo em segurança, os bandidos teriam um forte incentivo para assaltá‐lo pela primeira vez. Ou seja, o fato de que nunca houve assaltos não implica que nenhum assalto ocorrerá quando a nova política de segurança for implantada.

A crítica de Lucas nos ajuda a pensar sobre matérias publicadas na grande mídia. Por exemplo, um artigo recente divulgado pelo jornal “The Washington Post” usou dados históricos para afirmar que armas de fogo matam mais pessoas inocentes do que criminosos. Segundo o jornal, para cada criminoso morto, há 34 pessoas inocentes mortas por arma de fogo. Dessa forma, o jornal nos leva a concluir que armas de fogo matam mais pessoas inocentes do que criminosos e sugere que a proibição do comércio de armas traria benefícios, pois ela salvaria mais vidas de inocentes.

Claramente, a conclusão do parágrafo acima assume que o comportamento dos criminosos seria o mesmo após a proibição do porte de armas. Contudo, impedir o armamento de pessoas de bem pode incentivar o criminoso a mudar o seu comportamento, o induzindo a praticar mais crimes. De fato, com a proibição do porte, o criminoso conseguiria obter armas de forma ilegal ao passo que a vítima seria desarmada, reduzindo a sua capacidade de defesa. Em muitos casos, a falta de equilíbrio bélico entre a vítima e o criminoso induz o criminoso a agir de forma mais cruel e letal contra a vítima. Em outras palavras, por possuir maior domínio bélico, o criminoso impõe que tipo de reação da vítima é aceitável ou não. Em muitos casos, a simples afirmação de que não possui um telefone celular, pode levar o criminoso a executar a vítima. Portanto, a mudança de comportamento do criminoso após a proibição do porte de armas faria com que mais pessoas inocentes fossem mortas por arma de fogo, sugerindo um efeito exatamente oposto ao defendido pelo “The Washington Post”. Temos aqui, portanto, um caso clássico da crítica de Lucas.

A mensagem principal desse artigo é que uma discussão a respeito dos efeitos do porte de armas sobre o número de homicídios deve ser feita de forma mais séria. Algumas perguntas importantes seriam: (a) se armas de fogo não aumentam segurança, por que o atirador que matou dezenas em Las Vegas não praticou o mesmo crime dentro de um clube de proprietários de rifles ?; (b) por que a maioria desses tiroteios ocorrem em escolas ou em lugares onde a maioria das pessoas encontra‐se desarmada?; (c) por que os Estados Unidos não tiveram coragem para invadir a Coreia do Norte (detentora de bombas atômicas) mas foi capaz de invadir o Iraque (país não detentor de armas nucleares)?; (d) por que os palestinos não ousam em invadir Israel (país com alto potencial bélico)? Claramente uma resposta comum a todas essas perguntas é que o medo de reação por parte da vítima inibe a decisão do agressor de atacá‐la. Essa lógica foi desenvolvida num jogo conhecido como “stick and carrots”, o qual é usado em economia para entender a existência de cooperação entre potentiais oponentes através de um sistema de incentivo baseado na punição e na recompensa.

Luiz Renato Regis de Oliveira Lima. Ph.D. em Economia pela University of Illinois nos Estados Unidos e Professor Titular do Departamento de Economia da UFPB

Link para o artigo do “The Washington Post”: https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2015/06/19/guns‐in‐america‐for‐every‐criminal‐ killed‐in‐self‐defense‐34‐innocent‐people‐die/?utm_term=.b374baf3b256 



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