Economia & Negócios

Professor fala sobre a Teoria dos Jogos e a Operação Lava Jato

DEPTO. DE ECONOMIA


04/05/2017



O professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Luiz Renato de Oliveira Lima, analisa em novo artigo no Portal WSCOM, a teoria dos jogos e a operação lava jato.

"Claramente, a ausência de punição ao agente público, chefe do esquema criminoso, fazia com que este jogo delituoso existisse. Portanto, a interrupção do delito depende, em última instância, da capacidade da sociedade em prender o chefe da quadrilha".

Leia o artigo na íntegra:

Teoria dos jogos e a operação lava jato.

John Nash recebeu o prêmio Nobel de Economia em 1994 por sua contribuição à teoria dos jogos. Ele desenvolveu o que os economistas chamam de “equilíbrio de Nash”, um conceito que é utilizado para prever o resultado de um jogo não cooperativo, ou seja, uma situação onde muitos indivíduos tomam decisões ao mesmo tempo de forma não cooperativa. Um jogo não cooperativo é aquele em que as regras do jogo não são impostas por contratos legais, mas sim por ameaças críveis ou retaliação dos oponentes. O equilíbrio de Nash tem sido usado para estudar conflitos militares, formação de cartéis, acordos comerciais e mais recentemente para combater organizações criminosas.

De uma forma bem simples, tem-se um equilíbrio de Nash quando os participantes de um jogo não têm interesse em mudar a sua estratégia no jogo. Por exemplo, durante um depoimento prestado à Procuradoria Geral da República sobre o porquê das empreiteiras pagarem propina a agentes públicos, o empresário respondeu que se não pagasse a propina ele perderia a licitação para empresas que aceitaram pagar. Tem-se neste caso um equilíbrio de Nash porque o pagamento da propina era a condição necessária para ganhar a licitação (o jogo). Claramente, a ausência de punição ao agente público, chefe do esquema criminoso, fazia com que este jogo delituoso existisse. Portanto, a interrupção do delito depende, em última instância, da capacidade da sociedade em prender o chefe da quadrilha.

Surpreendentemente, John Nash também nos ensinou a prender o chefe da quadrilha através de um jogo conhecido como o “dilema dos prisioneiros”. Neste jogo, dois prisioneiros são colocados em salas separadas e eles têm a opção de confessar ou não o crime. Se um confessar e o outro não confessar, então o primeiro obtém uma pena mais leve do que o segundo. Nash mostrou que o resultado desse jogo é que ambos os prisioneiros confessam o crime. Pois bem, este mesmo conceito é aplicado para justificar a eficiência do mecanismo de delação premiada usado pela operação lava jato. Ao perceber que a estratégia de não delatar leva a uma pena maior, os envolvidos optam pela estratégia de delatar. Se as delações alcançarem as camadas mais altas da organização criminosa, então a chance de que o chefe do esquema seja delatado é muito alta.

A organização criminosa se tornou vítima (para o bem da sociedade) de um “equilíbrio de Nash” clássico. Ou seja, o incentivo criado pela delação premiada transformou um esquema criminoso num jogo onde os principais oponentes acabam sendo os próprios membros da organização criminosa. Note que a estratégia da organização criminosa em contratar os mesmos advogados para os principais membros da quadrilha se mostra inócua diante do incentivo inerente que cada jogador possui em delatar o seu oponente. Nem mesmo a decisão recente da segunda turma do STF de conceder Habeas Corpus ao réu José Dirceu poderá alterar essa dinâmica pois a pena terá que ser cumprida integralmente após julgamento em segunda instância. Portanto, a teoria dos jogos nos leva a crer que o Brasil está diante de uma oportunidade única para implodir uma quadrilha que, em troca de um projeto de poder, surrupiou o futuro de milhares de Brasileiros.

A história de John Nash foi retratada pelo filme “uma mente brilhante” (A Beautiful Mind) produzido em 2001 e ganhador de 4 Oscars. John Nash faleceu em 2015, vítima de um acidente de carro em Nova Iorque.

Luiz Renato Regis de Oliveira Lima – Professor Titular do Departamento de Economia da UFPB 



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