Economia & Negócios

Profª reflete sobre papel da família no desenvolvimento da sociedade

NA SOCIEDADE


22/12/2016



A professora Shirley Pereira de Mesquita, do Departamento de Economia da UFPB, analisou em coluna como o fortalecimento das estruturas familiares podem proporcionar benefícios sociais e econômicos à sociedade.

A publicação da coluna da professora é fruto de uma parceria com o WSCOM.

Leia na íntegra:

É possível melhorar o desempenho econômico fortalecendo a família?

Um dos grandes objetivos da sociedade moderna é a prosperidade econômica. Ao longo dos anos, vários economistas têm se dedicado ao estudo desse tema com o objetivo de desenvolver estratégias que promovam crescimento e desenvolvimento. Dentro desse contexto, qual seria a relação desse tema com a estrutura familiar? Poderia o fortalecimento da família biparental (família composta por um pai e uma mãe, e seus filhos) contribuir com o desempenho econômico de uma nação? Estudos científicos realizados em vários países têm mostrado que a resposta para essa pergunta é sim.
A estrutura familiar influencia significativamente o bem-estar econômico e social de um país e as crianças são um dos principais canais de transmissão desses efeitos. Alguns estudos apontam que um choque que provoca ruptura no núcleo familiar, como o divórcio, poderia alterar significativamente as escolhas dos pais sobre os filhos provocando efeitos na infância e na vida adulta. Em geral, as crianças que têm a experiência de viver em uma família com pais divorciados apresentam uma maior probabilidade de desenvolver problemas de ordem acadêmica, comportamental, emocional, socioeconômica e seriam mais propensas à entrada precoce no mercado de trabalho.
Um estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Biblarz e Gottainer da University of Southern California, destaca que a ausência da figura do pai e o estresse familiar provocado pelo divórcio afetam diretamente medidas de bem-estar das crianças. Segundo esses pesquisadores, o pai tem um papel importante no desenvolvimento emocional e cognitivo dos filhos. Os autores também mostram que a ausência paterna pode reduzir a motivação para a realização de atividades escolares, resultando em baixo desempenho, e que a exposição dos filhos aos conflitos familiares advindos do divórcio piora o desempenho escolar. Além disso, as crianças criadas pelos dois pais aprendem mais sobre a estrutura das relações de autoridade e sobre a forma de interagir com as figuras de liderança, fato que influencia positivamente no desempenho no mercado de trabalho durante a vida adulta. O pai e a mãe são considerados recursos importantes para as crianças, uma vez que ambos atuam como fontes de assistência prática em questões comportamentais diárias, de suporte emocional, de proteção, de orientação e de supervisão. O divórcio provoca a redução da convivência domiciliar dos filhos com um dos pais – na maior parte dos casos com o pai – e do acesso a essas fontes de apoio necessárias para o desenvolvimento adequado da criança.
Outro grupo de pesquisadores das universidades de Wisconsin, Princeton e Texas encontraram em seus resultados que uma criança que cresce em um lar monoparental com mãe di-vorciada tem maior chance de inserção precoce no mercado de trabalho. É importante lembrar que o trabalho infantil tem efeitos perversos sobre o desenvolvimento físico, mental e social das crianças, obstrução da acumulação de capital humano, e, consequentemente, menor mobilidade econômica na fase adulta.
Os efeitos negativos sobre a educação das crianças, saúde e o aumento do trabalho infantil são importantes canais de ligação entre a estrutura familiar e o progresso econômico de um país. Um breve comentário sobre a Teoria do Capital Humano do economista Gary Becker, da Universidade de Chicago, pode ajudar nessa compreensão. Primeiramente, o capital humano é definido como sendo todas aquelas características adquiridas pelo trabalhador que o tornam mais produtivo. Em segundo lugar, alguns modelos de crescimento mostram que o acúmulo desse capital melhora a produtividade, o acesso e a implementação de novas tecnologias, gerando crescimento econômico. Mas como um indivíduo adquire capital humano? Duas das principais atividades que compõem esse capital estão relacionais à saúde e à educação. Portanto, o rompimento do núcleo familiar gera um efeito negativo sobre os indicadores da educação e da saúde das crianças, e o trabalho infantil gera efeitos perversos sobre o bem-estar econômico do indíviduo e de toda a sociedade.
Nessa semana de Natal, período marcado por momentos de confraternização e de comunhão entre as famílias, uma mensagem importante em termos econômicos é que o fortalecimento da família biparental melhora a prosperidade econômica de uma nação.

* Aos interessados em ter acesso aos artigos científicos que tratam sobre esse tema, entrem em contato pelo e-mail: shirley_mesquita@yahoo.com.br

Shirley Mesquita
Professora do Departamento de Economia – UFPB

 



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