Economia & Negócios

Rio perde 17 mil postos de trabalho na construção civil desde janeiro

CONSTRUÇÃO CIVIL


02/08/2016

O final das obras para a Olimpíada pode piorar a situação de uma categoria que já enfrenta um momento complicado no Rio de Janeiro: a dos trabalhadores da construção civil. De janeiro a junho, a capital fluminense perdeu mais de 17 mil postos formais de trabalho no setor – o maior corte entre as cidades do país.

Somando os postos perdidos em 2015, são quase 30 mil vagas formais a menos em 18 meses. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

O cenário de hoje "é muito preocupante", diz o porta-voz do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Município do Rio de Janeiro (Sintraconst-rio), Guilherme Póvoas. De acordo com ele, a cidade só não sofreu um baque ainda maior em função das obras da Olimpíada.

“Agora que as obras estão acabando, e muitas já acabaram, esse rescaldo está vindo. A gente tinha até dois, três anos atrás, cerca de 200 mil trabalhadores na base. Hoje, no município do Rio, a gente está com 40% menos. E deve chegar a 50%. É possível que já seja 50% depois das Olimpíadas. Tem muita obra em reta final, de hotel, reforma, e as empresas vão passar em investir só quando sentirem confiança”, disse, em entrevista ao G1.

Salário menor
Para fugir do pesadelo do desemprego, o pintor de obra Jeferson Benete, de 35 anos, pai de um menino de seis, que está há dez anos no ramo, aceitou uma ocupação com salário 30% menor do que ele tinha antes de ficar sem trabalho. Ele procurava por uma oportunidade havia três meses.

“Tá bem crítico mesmo. A empresa pegou uma obra pequena de uma empresa que abriu em Edson Passos. A remuneração é bem mais baixa do que antes. Eu estava três meses batendo de porta em porta. Vou fazer um mês neste trabalho, mas quando essa obra terminar, vai [o futuro neste trabalho] depender da empresa continuar pegando obras, que tenha outras obras”, declarou.

Antes de ficar desempregado, o último trabalho de Jeferson foi de servente na Vila Militar. Ele trabalhou ainda como auxiliar de almoxarifado e servente, tudo para não ficar sem emprego. “O que tiver para trabalhar, eu trabalho”, disse.

Crise econômica
O sindicalista Póvoas explica que o cenário de intensa dispensa observado no setor da construção é resultado da união de dois componentes, “um esperado e outro que foi surpresa: o fim das obras olímpicas, o que já era esperado, e o outro é a crise econômica e política”.

“Essa crise que fez com que muitas construtoras, empresas do setor da construção civil, deixassem de investir. As empresas que tinham 10 obras para lançar, empreendimentos para iniciar, esse ano eles lançaram apenas dois. Tiraram pé e isso agravou ainda mais o cenário de desemprego”, garantiu.

De acordo com ele, é difícil saber o que é demissão por conta da crise e o que está relacionado à Olimpíada. "A redução de postos de trabalho foi gradual. Tanto que o Parque Olímpico chegou a ter mais de 10 mil operários, agora tinha uns 200 a 300. Eu não tenho como dizer o que é demissão das Olimpíadas e o que é por causa da crise”, afirmou.

“Para ter ideia, o serviço de homologação de contrato, demissões, a demanda quase que dobrou, aumentou 80%, de homologação de demissão. Isso porque as demissões dentro do sindicato são as dos trabalhadores que têm mais de um ano de trabalho. Quem tem menos de um ano, vai direto para o Ministério do Trabalho e Emprego, não passa por aqui”, completou. 



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