Política

‘Usar crise para chegar ao poder é versão moderna do golpe’, diz Dilma

'Golpe"


16/09/2015

A presidente Dilma Rousseff afirmou na manhã desta quarta-feira (16), em entrevista à Rádio Comercial, de Presidente Prudente (SP), que usar a crise pela qual o país passa para chegar ao poder é uma "versão moderna do golpe".

Mais tarde, durante a cerimônia de entrega de 2,3 mil moradias do programa Minha Casa, Minha Vida no município do interior paulista, a petista voltou a falar do assunto. Desta vez, ela declarou que "usar atalhos questionáveis" para alcançar o poder é golpe.

Nesta terça-feira, deputados de seis partidos da oposição (PSDB, DEM, PPS, SD, PSC e PTB)apresentaram uma questão de ordem indagando formalmente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre os mais de dez pedidos de abertura de processo de impeachment da presidente da República enviados à Casa.

A estratégia abre caminho para que se discuta oficialmente o tema na Câmara. Em agosto, Cunha já havia rejeitado quatro pedidos que não cumpriam requisitos formais. Outros pedidos, porém, ainda aguardam a sua apreciação, entre os quais o do advogado Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, que se afastou do partido em 2005, em meio ao escândalo do mensalão.

"Todos os países que passaram por dificuldades, você não viu nenhum país propondo a ruptura democrática como forma de saída da crise. Esse método, que é querer utilizar a crise como um mecanismo para você chegar ao poder, é uma versão moderna do golpe", declarou a presidente à rádio paulista.

Na questão de ordem apresentada nesta terça pela oposição – assinada pelos líderes Carlos Sampaio (PSDB-SP), Mendonça Filho (DEM-PE), Arthur Oliveira Maia (SD-BA), Arnaldo Jordy (PPS-PA), André Moura (PSC-SE), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Bruno Araújo (PSDB-PE) – os deputados fizeram uma série de perguntas sobre a tramitação do processo de impeachment no Congresso, entre as quais se a decisão sobre a abertura não deveria ficar com o plenário e quem pode recorrer contra a eventual rejeição do pedido.

Eles também indagaram se o presidente da República pode sofrer processo de impeachment por atos cometidos durante o mandato imediatamente anterior. O regimento interno da Câmara não estipula prazo para que o presidente dê uma resposta à questão.

Caso Cunha rejeite os pedidos de abertura de impeachment, a oposição pretende apresentar ao plenário um recurso contra a decisão. Para que o recurso seja aprovado, bastará maioria simples dos votos dos deputados em plenário. Se isso acontecer, estará dado o pontapé inicial para a tramitação do processo de impeachment.

Na entrevista concedida à rádio de Presidente Prudente na manhã desta terça, Dilma afirmou que há no país pessoas que não se "conformam" com o fato de o Brasil ser uma "democracia sólida", que tem a legitimidade dada pelo "voto popular". Ela disse que essas pessoas torcem pelo "quanto pior, melhor" para depois poderem "pescar em águas turvas".

"Eu acredito que tenham ainda no Brasil, infelizmente, pessoas que não se conformam que nós sejamos uma democracia sólida, cujo fundamento maior é a legitimidade dada pelo voto popular", disse a presidente.

"Essas pessoas geralmente torcem para o quanto pior, melhor. E aí é em todas as áreas. Quanto pior, melhor, na área da economia. Quanto pior, melhor, na área da política. Todas elas esperando uma oportunidade para pescar em águas turvas", completou.

Atalho democrático

Em meio à cerimônia de entrega das moradias do Minha Casa, Minha Vida, a presidente da República declarou, sem mencionar a oposição, que criar atalhos questionáveis para assumir o poder é "golpe". Segundo ela, "a base da democracia é a legitimidade dada pelo voto".

"Qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe, sim. É golpe! Principalmente, quando esse caminho é feito só de atalhos, de atalhos questionáveis", enfatizou.

De acordo com a presidente, "quem acha que tudo vai dar errado chama o erro para si mesmo". "A gente tem de ter primeiro tranquilidade para reconhecer onde está o problema", ponderou.

‘Instabilidade’

Nesta terça-feira (15), Dilma já havia elevado o tom contra a oposição em uma entrevista no Palácio do Planalto. Na ocasião, ela disse quefará "tudo" para impedir que movimentos não democráticos "cresçam e se fortaleçam no país.

Segundo a presidente afirmou na ocasião, o governo está “atento” a todas as tentativas de produzir “instabilidade” no Brasil.

Na semana passada, partidos da oposição e até da base governista – entre os quais PSDB, PPS, DEM, PSC, PMDB, PTB e SD –, lançaram, na Câmara dos Deputados, um "movimento" a favor da abertura de um processo de impeachmentda presidente da República.

Perda do grau de investimento

Dilma também comentou o rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Standard & Poor´s. Com o rebaixamento, anunciado na semana passada, o Brasil perdeu o selo de "bom pagador", na avaliação da agência.

"Muitos países nesta década passaram por situações difíceis e tiveram suas notas de risco rebaixadas. Isso aconteceu tanto com os Estados Unidos, em 2011, como também com a França, com a Itália e com a Espanha, em 2012. E agora aconteceu conosco.

Todos os países foram muito maiores do que as suas notas. O Brasil é muito maior do que a sua nota também. Todos voltaram a crescer e assim vai ser com o Brasil também", afirmou a presidente.

Dilma afirmou ainda que o país não tem problema de crédito internacional nem de investimento e ressaltou medidas que o governo vem tomando para a retomada do crescimento.
"Estamos honrando nossos compromissos e contratos. Não temos problemas de crédito internacional nem tão pouco problema para atrair investimento para o Brasil. Aliás, somos um dos países em que mais há entrada de capital pra isso", afirmou.

"Nós também estamos tomando dois tipos de medida: uma é de controle da inflação e de equilíbrio fiscal do nosso orçamento federal e as outras são de estímulo ao crescimento, como o programa de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos", continuou a presidente.

Para Dilma, o Brasil é uma economia "grande e diversificada", que vai conseguir "atravessar o período de crise".

"Nós somos a sétima economia do mundo e por isso vamos atravessar esse período de crise que muitos países passaram, que nós inclusive procuramos de todos os meios evitar, não foi possível. E vamos fazer todas essas medidas, tanto as de reequilíbrio ou ajuste fiscal e as de estímulo ao investimento, à agricultura para voltar a crescer e gerar emprego", afirmou a presidente.
 

 


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