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Menina com corpo coberto de pelos começa tratamento nesta semana

Esperança


03/12/2013

{arquivo}O tratamento da menina Kemilly Vitória Pereira de Souza, 2 anos e 8 meses, que tem o corpo coberto de pelos, será iniciado na próxima quinta-feira (5) no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia. A boa notícia foi dada à família pelo cirurgião Zacharias Calil, que confirmou o diagnóstico de hipertricose. “O caso é raro, mas felizmente ela não tem manchas na pele. Isso facilitará muito no resultado final”, explicou o médico em entrevista ao G1.

Kemilly foi avaliada pelo cirurgião na segunda-feira (2). Segundo Calil, a criança será submetida a sessões de depilação a laser, pelo menos uma vez ao mês. “Vamos começar com muita cautela para evitar os riscos de lesão na pele. Primeiro será tratada a região da face, que é a que mais incomoda, e depois passaremos para o pescoço e assim por diante. Tudo vai depender de como ela vai reagir”, explicou.

O cirurgião ressaltou que todo o procedimento será feito com anestesia, para que a menina não sinta dor. “Todos os menores de 12 anos que fazer qualquer tratamento a laser no HMI recebem a anestesia inalatória, que além de mais segura não deixa a criança traumatizada com o ambiente hospitalar”, disse.

Calil enfatizou que, logo após a consulta, foi solicitado ao Sistema de Regulação do Sistema Único de Saúde (SUS) a autorização para o tratamento. “Não acredito que haverá qualquer impedimento por parte deles. De qualquer forma, o HMI quer ajudar essa criança e faremos de tudo para tratá-la”, garantiu.

A família de Kemilly mora em Augustinópolis, no Tocantins, e buscou ajuda na capital goiana após inúmeras consultas médicas. Segundo o pai, o eletricista Antônio de Souza, 34 anos, todos estão ansiosos pelo início das sessões a laser. “Isso é tudo o que a gente queria. Não dá para descrever a felicidade que sentimos ao receber a ajuda, pois isso vai mudar a nossa vida completamente”, disse ao G1.

De acordo com o eletricista, antes de ir ao HMI, a menina foi novamente avaliada pelos médicos do Hospital das Clínicas. “Apresentamos os 13 exames que foram solicitados e realmente o caso da Kemilly é genético. Eles disseram que o melhor a fazer mesmo é o procedimento a laser e que não teria problemas ela iniciar agora. Além disso, o médico Calil foi muito bem recomendado e, por isso, não tivemos dúvidas em aceitar a ajuda”, ressaltou.

A família pretende continuar morando em Augustinópolis e virá para a capital mensalmente para o tratamento. “Não temos condições para nos manter aqui. Ainda mais porque tenho o meu trabalho lá e não posso abandoná-lo. Já conversei com meu chefe e ele foi muito compreensivo, dizendo que sempre que eu precisar viajar para o tratamento ele vai me liberar”, explicou o eletricista, que ressaltou que ainda precisará da ajuda do Governo do Estado do Tocantins para o custeio das passagens de ônibus.

Após a primeira sessão a laser, a família pretende voltar para casa. “Ainda na sexta-feira (6), se Deus quiser, iremos embora. Aí, em janeiro, voltaremos de novo para mais uma aplicação”, afirmou o pai.

Segundo Souza, apesar de todo o sacrifício, ver a filha sem pelos como qualquer criança valerá a pena. “Daqui a pouco ela estará na fase escolar e o tratamento fará toda a diferença. Mesmo sabendo que os resultados virão daqui a dois ou três anos, não vamos desistir. Não tenho palavras para agradecer a todos que nos ajudaram de alguma forma a conseguir essa ajuda”, concluiu o pai, emocionado.

Preconceito
A mãe de Kemilly, a dona de casa Patrícia Batista Pereira, 22 anos, conta que desde o nascimento já percebeu que os pelos cobriam todo o corpo da criança, mas que eles foram escurecendo ao longo do tempo. “Já fizemos de tudo o que se possa imaginar para tentar descobrir o que ela tem. Felizmente, ela é saudável e se desenvolve como uma criança normal. O problema mesmo é o excesso de pelo em todo o corpo. Só os pés e as mãos delas não têm”, destacou.

Segundo a mãe, a aparência da menina causa espanto em muitas pessoas e a família já foi hostilizada várias vezes. Com isso, evita sair de casa. "Até o parquinho que tem nas proximidades de casa eu deixo de ir, pois as outras crianças se afastam dela e os pais também não conseguem esconder o espanto. É uma situação muito constrangedora", lamenta.

Ainda segundo a dona de casa, Kemilly ainda não entende de fato o que acontece com ela, mas já percebe que é diferente. “Quando ela vê outra criança fica olhando e se esconde no cantinho. Uma vez ela já me perguntou porque ela tinha tanto ‘cabelo’ e eu disse que era normal. Mas ela insistiu e pediu para que eu os arrancasse. Meu coração ficou partido”, contou Patrícia.

A menina já recebe acompanhamento psicológico na cidade onde mora, mas a mãe teme que o excesso de pelos faça com que ela cresça com traumas. “Já flagrei mais de uma vez a Kemilly tentando arrancar os pelos do braço sozinha. É claro que dói e aí ela para. Por enquanto, eu converso, o pai brinca e ela acaba se distraindo. Mas até quando? Mesmo que não tenha uma cura definitiva, vamos fazer o necessário para que ela possa se sentir igual aos outros”.


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