Saúde

Pesquisa aponta falhas no tratamento da depressão pós-parto

Depressão


11/04/2013

 Pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP concluiu que a depressão pós-parto atinge mulheres de forma duradoura e as desarranja, como um quebra-cabeça. O enfermeiro Hudson Pires de Oliveira Santos Júnior é o responsável pelo estudo, que teve como base entrevistas com mães que ainda sofriam do transtorno e seus familiares.

Santos Júnior iniciou o estudo motivado pela falta de reconhecimento da doença. Segundo ele, o Ministério da Saúde não estabelece estratégias para tratar as mulheres afetadas, portanto, os profissionais das equipes de Saúde da Família não estão preparados para diagnosticar e tratar as mães que sofrem da doença.

Além disso, os serviços de atendimento a doenças psíquicas graves, como por exemplo, a esquizofrenia, muitas vezes não têm atendimento específico para a depressão pós-parto.

Um dos maiores desafios do estudo é que as mulheres e os familiares tiveram dificuldade de identificar a depressão pós-parto. Enquanto as mulheres não aceitavam que isso pudesse acontecer em uma época que é esperada felicidade e satisfação por ter um bebê, os familiares encaravam os sintomas como " frescura" .

O pesquisador já sabia que as mães com depressão pós-parto, em alguns casos, pensam em machucar as crianças, o que dependia de fatores culturais. A pesquisa, feita com famílias de São Paulo, concluiu que " as mulheres que participaram da pesquisa nomeiam isto como pensamentos ruins" .

O enfermeiro identificou que as mães descreveram dois possíveis agentes de agressão contra as crianças. Algumas delas descreveram a si mesmas fazendo algum mal aos seus filhos, sufocando ou afogando, enquanto outras, pensavam que a violência viria de agentes externos, mesmo não descrevendo claramente o que seria.

Esse resultado tem relevância ao diagnosticar a mulher que passa pelo problema, já que aponta para a forma com que, na nossa sociedade, se fala sobre esse sintoma. Assim, o termo " pensamentos ruins" , pode ser usado como recurso auxiliar o rastreio da depressão pós-parto.

Como resposta das mulheres aos pensamentos ruins e de acordo com a disponibilidade de suporte familiar, Santos Júnior revela quatro tipos de maternidade que as mães adotaram na trajetória da doença: transferido, compartilhado, forçado e superprotetor.

Segundo o pesquisador, esse achado chama atenção para repensar nos casos de mães que abandonam ou agridem filhos recém-nascidos, pois a comunidade tem criminalizado as mulheres, quando em alguns casos elas podem estar sofrendo com sintomas de depressão pós-parto, precisando de atenção e tratamento.

O grande tempo de tratamento destas mulheres surpreendeu o enfermeiro. Isto evidencia o que concluiu em sua tese: as mães que sofrem de depressão pós-parto têm o quebra-cabeça de sua vida desarranjado e demoram a remontá-lo.

Mesmo estando com sintomas de depressão, a identidade dessas mães foi negligenciada, pois os sintomas de depressão pós-parto foram ignorados, desde que elas estivessem cuidando da criança.

Ao final, as próprias mulheres e familiares concluem que as peças não se encaixam como antes, pois a experiência depressão pós-parto modificou a forma como percebiam a própria identidade e a forma como percebiam e exerciam a maternidade. Mesmo depois de tratadas, elas possuem medo da depressão, têm sentimentos de ter falhado como mãe, e mencionam que o relacionamento com os maridos/companheiros foi afetado.

O enfermeiro afirma que "pesquisadores, governantes e profissionais da saúde precisam compartilhar o compromisso de montar estratégias e protocolos para promover a identificação e tratamento precoce da depressão pós-parto, evitando assim prejuízos de saúde para as mulheres, seus filhos e familiares" .



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