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Idoso viciado em crack demora mais de 24h para ser internado em SP


22/01/2013



 O primeiro paciente internado involuntariamente após o início do programa lançado pelo governo estadual demorou mais de 24 horas para conseguir uma vaga para o tratamento de dependência química. Apesar de o governo ressaltar que possui 691 vagas espalhadas pelo estado e outras 300 oferecidas apenas na capital, pela Prefeitura, a disponibilidade não é imediata.

O pai da autônoma Ana Paula Mira, de 33 anos, chegou ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) por volta das 12h de segunda-feira (21), quando começou o programa, mas a vaga foi disponibilizada somente às 13h30 desta terça (22). O idoso de 62 anos foi encaminhado para o Hospital Psiquiátrico Lacan, em São Bernardo do Campo, no ABC.

Questionada sobre a demora, a Secretaria da Saúde explicou como os acolhimentos ocorrem. “As vagas são solicitadas a partir das características de cada paciente. É acessada uma central de vagas que vai procurar dentro das vagas do estado”, disse a coordenadora estadual da Saúde Elisângela Elias. “Em muitos casos, a recomendação é ficar por cinco, oito dias. Isso é um espaço de tratamento”, justificou. Na semana passada, a secretaria divulgou a relação das 691 vagas disponíveis.

Localizada na Rua Prates, no Centro de São Paulo, o Cratod é a sede do programa lançado em parceria com a Justiça para “agilizar” os casos de internação involuntária ou compulsória, conforme afirmou a secretária de Justiça, Eloísa Arruda, na manhã de segunda. Internação involuntária é quando o pedido é feito por familiares. A internação compulsória é determinada pela Justiça – nenhum caso desse tipo foi registrado pelo plantão.

Dopado
O paciente de 62 anos precisou ser dopado pela família para ser internado à força. O idoso, que é morador de rua e usuário de crack há mais de dois anos, dizia sentir dores no corpo, ter problemas de audição, não comia bem e sumia por meses sem deixar pistas.

Preocupada com a situação alarmante do pai e com diversos furtos que ele fez em sua casa e na dos irmãos, a filha planejou uma "armadilha": convidou-o para tomar café da manhã. Aproveitando que seu pai queria muito tomar caldo de cana, Ana Paula colocou dois comprimidos de um forte calmante na bebida e o dopou. A caminho do Cratod, ele dormiu no banco de trás do carro, deixando cair um cachimbo que levava no bolso, para a surpresa da família.

“Ele está sedado, acorda para comer e volta a dormir”, disse a autônoma, que trouxe nesta terça-feira roupas e um barbeador para o pai. “Ontem [segunda], o que me passaram é que o estado não tem clínica adequada para esse tipo de internação, pois precisa ser um lugar adaptado”, disse Ana Paula. O idoso deixou o Cratod rumo ao hospital por volta das 16h.

O mesmo problema ocorre com o jovem Denis Navarro, de 18 anos. Ele veio sozinho procurar por ajuda e espera por um leito desde segunda, por volta das 12h. Órfão, ele mora na rua e consome crack há dois anos. Não havia previsão para a transferência do jovem até a tarde desta terça.

O plano de combate ao crack anunciado pelo governo tem sido burocrático, segundo familiares. “Vim até aqui atrás de uma vaga para o meu filho e me mandaram procurar um Caps perto de casa. Ele é violento e precisa ser internado com urgência, mas não arranjam uma vaga logo”, disse a doméstica Marta Silva, de 46 anos. Segundo a coordenadora estadual da Saúde, uma central de regulação indica as vagas do estado, a equipe é avisada e o paciente, conduzido para a internação.


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