Educação

Superproteção aumenta chances de bullying

Criação


30/04/2013

 Os pais podem pensar que o cuidado excessivo com os filhos para mantê-lo a salvo de problemas pode evitar complicações na escola, mas um novo estudo revela que o efeito na verdade é contrário: filhos de pais superprotetores são mais propensos a serem vítimas de bullying. O trabalho foi feito por pesquisadores da Universidade de Warwick, na Inglaterra, e estão publicados na edição de 25 de abril da revista Child Abuse & Neglect.

Foi feita uma análise de 70 estudos incluindo mais de 200.000 crianças e o comportamento de seus pais. Os cientistas descobriram que filhos de pais superprotetores eram alvos mais fáceis de bullying. A análise também constatou que a paternidade negligente ou severa foi associada a um aumento moderado do risco da criança ser um bully – ou seja, intimidar outras crianças – e um pequeno aumento no risco de ser vítima de bullying. Pais carinhosos, porém firmes, reduziram o risco da criança ser intimidada ou praticar o bullying, afirma o estudo.

De acordo com autores, crianças com pais superprotetores podem não desenvolver qualidades como autonomia e autoafirmação, sendo, portanto, alvos fáceis para os agressores. A falta de carinho e o excesso de cobranças, por outro lado, pode tornar a criança mais fria e propensa a descontar suas ansiedades em outras crianças. Segundo os autores, os pais considerados ?na medida? permitem que as crianças sofram alguns conflitos com os colegas para aprender a resolvê-los, em vez de intervir o tempo inteiro.

Segundo a ONG "Learn Without Fear" (Aprender Sem Medo), 350 milhões de crianças e jovens são vítimas de bullying anualmente em todo o mundo. O pediatra e um dos autores do livro "Diga não para o Bullying", Aramis Lopes Neto, aponta que a prática não pode ser encarada como uma brincadeira ou provocação natural entre crianças e adolescentes e merece atenção para ser prevenido e combatido. Conheça quais são as medidas necessárias para diminuir a incidência desse tipo de comportamento.

Tipos de bullying

Há várias formas de manifestar o bullying. A prática pode ocorrer da forma direta, quando a agressão é feita contra o seu alvo por meio de apelidos, exclusão do grupo, agressão moral ou física. O bullying pode ser também indireto, envolvendo furtos, fofocas e até mesmo, o cyberbullying, aquele que usa a internet, celular e outros meios do mundo digital para divulgar as ofensas – sites caluniando as vítimas, vídeos disseminados com situações embaraçosas e fofocas circulam pela rede numa velocidade impressionante. Além disso, as provocações podem começar presencialmente e evoluir para o ambiente virtual.

Consequências duradouras

Dentre as vítimas é comum a ocorrência de baixa autoestima, pensamentos suicidas e dificuldade de se relacionar amorosamente e profissionalmente. Já os agressores, levam a agressividade para a idade adulta em casa e/ou no trabalho, não conseguem estabelecer relações longas e nem regularidade no trabalho.

Reconheça um agressor

Os agressores costumam ser figuras populares na escola, são agressivos com os colegas, professores, pais e, normalmente, trazem consigo um grupo de seguidores. "Eles precisam dessas pessoas que os apoiam e se submetem a eles e, dessa forma, a responsabilidade pela agressão é dividida", ressalta Aramis Neto.

Reconheça as vítimas

Ao contrário dos agressores, as vítimas, geralmente, têm (ou desenvolvem) baixa autoestima, se isolam do grupo e têm poucos amigos. As vítimas também apresentam algumas características físicas que as tornam alvos, como por exemplo: magreza, excesso de peso, timidez, ou outra característica acentuada. "Além disso, as vítimas apresentam sinais de depressão, ansiedade e baixo rendimento escolar", explica o pediatra.

Qual a função da escola e da família no combate ao bullying?

Para o pediatra Aramis, algumas das principais medidas a serem tomadas nas escolas incluem:

1- Admitir que o bullying existe em todas as escolas.
2- Praticar ações que podem reduzir a incidência das agressões com mobilização de toda a comunidade escolar: professores, coordenadores, pais e alunos.
3- Promover o trabalho de compromisso para a redução do bullying saindo da premissa: "Essa escola não vai mais tolerar o bullying".
4- Cada turma ou série construindo sua forma de conviver contra o bullying, admitindo o que é aceitável e o que não é.
5- Trabalhar a amizade, solidariedade, não-violência e amor com atividades em grupo.

O papel da família

Já a família deve valorizar o diálogo. Os pais devem estar atentos se o seu filho tem amigos, se conhece pessoas que sofrem alguma agressão ou se ele mesmo é intimidado na escola. A função da família é permitir que o filho exponha seu sofrimento. A criança muitas vezes tem medo de falar com os pais porque não quer se expor e acha que os pais não vão valorizar os seus sentimentos. "No caso dos agressores, a família deve saber corrigi-los para que eles não continuem com as agressões na escola não pelo medo de serem castigados, mas e sim pelo tradicional método do diálogo aberto e da educação familiar, que é indispensável a qualquer indivíduo que vive coletivamente e de forma respeitosa", ressalta a psicóloga Rita Romaro.



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