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Spider faz 38 anos e pede mudanças para MMA não ficar só na ‘modinha’

MMA


14/04/2013



 Maior ídolo do MMA no Brasil na atualidade, campeão dos pesos-médios do UFC e considerado o melhor lutador peso-por-peso do mundo, Anderson Silva completa neste domingo, 14 de abril, 38 anos de idade, no auge da carreira e da popularidade. Um dos atletas mais disputados por grandes empresas no momento, "Spider" tem uma agenda repleta de compromissos, entre aparições em programas de TV, entrevistas para a imprensa, filmagens de novos comerciais e palestras. No meio disso tudo, ainda treina para manter a forma. Em 6 de julho, será o principal destaque do evento mais importante do Ultimate no ano, o UFC 162, no feriado do Dia da Independência dos EUA, no qual tentará defender seu cinturão pela 11ª vez, contra o americano Chris Weidman.

Apesar disso tudo, Anderson não está satisfeito. A agenda lotada o impede de passar o tempo que gostaria de ter com sua família, e ele admite que isso já afeta sua relação com seus filhos. Por outro lado, mesmo com seu esporte em alta, o lutador se preocupa com o futuro do MMA. O Spider vê um foco desmedido nas rixas entre atletas e pede mais atenção à filosofia da arte marcial, que, na sua opinião, está no centro da modalidade. Em seu apelo, o curitibano deixou um pedido para que a edição do The Ultimate Fighter Brasil – Em Busca de Campeões, reality show que reúne lutadores em busca de uma oportunidade no UFC, mostre mais o lado sério da competição e treinamento e menos as brigas e confusões da casa.

– Hoje em dia, as pessoas assistem porque virou "modinha", mas elas realmente não sabem a essência do esporte. Não é que elas não sabem; elas não estão tendo acesso à essência desse esporte, por conta de a gente, de repente, ter um TUF aqui no Brasil, em que podemos mostrar a essência da arte marcial, a essência do esporte, e acabam mostrando coisas que não têm muito sentido, que é neguinho esculhambando, quebrando coisa. Acho que isso foge um pouco do princípio da arte marcial, da filosofia do esporte. Acho que tem que ter uma mudança, uma forma de mostrar para os atletas e para as pessoas o quanto é importante a filosofia da arte marcial – disse Anderson Silva.

SPORTV.COM: Aos 38 anos de idade, você se sente na melhor fase da sua vida?
Anderson Silva: Acho que a melhor fase da vida da gente é todos os dias, quando a gente acorda. Hoje é minha melhor fase, amanhã vai ser minha melhor fase, e assim vai. Não existe "a melhor fase", existe o melhor momento da vida, o qual você aproveita, e meus melhores momentos estão sendo todos os dias. Tenho filhos maravilhosos, tenho amigos maravilhosos, não encaro muito esse negócio de melhor fase ou pior fase. Acho que você faz sua própria energia.

Dana White disse que você pediu por 10 lutas no seu novo contrato. Partiu mesmo de você esse pedido, ou foi deles?
Foi uma negociação, não foi um pedido meu, nem alguma coisa forçada. Foi uma negociação, na qual eles viram os interesses deles e eu vi os meus, e entramos num comum acordo. Mas está todo mundo feliz agora. Eles estão felizes, eu estou feliz, e vamos continuar fazendo nosso trabalho, como sempre, independente de vitórias ou derrotas.

Essa fase de reconhecimento pelo povo e pela mídia renova sua paixão pelo esporte?
Eu sou apaixonado pela arte marcial, pelo que eu faço desde criança, pelo que me trouxe até aqui. Pelo que me deu condições de me tornar o que sou hoje, como pessoa e ser humano. Sou apaixonado pela arte marcial, pela capacidade que a arte marcial tem de mudar a vida das pessoas, e a arte marcial mudou a minha vida. Mudou a vida não só minha, mas dos meus filhos e de toda minha família. Sou feliz.

Seu próximo oponente é 10 anos mais novo que você. Para lidar com essa nova geração, fica mais importante fazer esse jogo psicológico que você faz? E o quão importante é esse jogo psicológico na luta hoje em dia?
Quando você luta com essa garotada nova, tem que ter consciência que tem que usar a experiência, o jogo de cintura, para lidar com algumas situações que supostamente vão acontecer. Essa molecada nova tem um gás novo, tem os princípios e os sonhos na flor da pele, e é legal isso. A gente tem que trabalhar, tem que fazer a nossa parte para que eles possam fazer o papel deles, e nós, o nosso também.

Sobra tempo com essa sua programação frenética para passar tempo com sua família?
Então, isso é um problema muito sério, cara, porque eu não tenho muito tempo para ficar com a minha família, e isso é uma coisa que afeta muito toda a estrutura. Meus filhos sentem a minha falta, é meio complicado, especialmente porque eles estão numa fase que eles precisam muito que eu esteja ao lado deles, principalmente o Kalyl e o Gabriel, e a gente acaba vendo a resposta daquela coisa de não estar perto deles, acaba vendo os sintomas. Mas eu tento superar o tempo que a gente não passa juntos no tempo que tenho com eles, tendo paciência, dando atenção e carinho, tentando passar valores. Mas não é fácil, é difícil, eu sofro muito com isso. Hoje, por exemplo, foi um dia que eu estava saindo de casa e meu filho Kalyl me perguntou, "’Pô’, pai, que horas você vai voltar?" É uma coisa que eu sinto bastante. Mas, enfim, é trabalho, tem que ser feito, e é assim que é.

Eles estão ficando rebeldes? Estão difíceis de controlar, de responder a você?
Não, eles não estão rebeldes, mas estão numa fase que querem chamar a atenção para ter o pai por perto. É uma coisa normal, a gente, como pai, tem que entender isso. É por conta da falta, que às vezes a gente acaba não suprindo essa falta deles estarem com o pai. É um pouco complicado, mas se resolve.

A abertura da academia Muay Thai College é um sonho antigo seu. É uma preparação para um futuro como treinador?
Não quero ser treinador de lutador, não tenho essa pretensão. Quero ensinar as crianças, quero ensinar quem quiser aprender a filosofia da arte marcial, a filosofia que me foi passada, mas dar aulas para lutadores, formar lutadores, não tenho essa intenção.

Por que você abriu a MTC em Los Angeles em vez de alguma cidade aqui no Brasil? Ainda está difícil de abrir um negócio no Brasil, mesmo para o Anderson Silva?
Acho que Los Angeles é um lugar no qual eu vi uma resposta muito mais rápida e muito mais sincera em relação a esse tipo de negócio. Hoje em dia, aqui no Brasil, você tem muitas academias, mas com pouca qualidade de ensino, qualidade no ensino da filosofia da arte marcial. Hoje em dia, com o crescimento do MMA, as academias estão abrindo, mas todo mundo vai para treinar MMA e ninguém vai para aprender realmente a filosofia, o quanto é importante a filosofia e o ensinamento da arte marcial em si. Então, preferi abrir a academia em Los Angeles. Não é aberta ao público, é mais restrita a algumas pessoas, que realmente querem aprender a filosofia da arte marcial. Quem sabe, no futuro, a gente abre uma academia no Brasil? Mas, por enquanto, quero ficar só lá, com foco nos ensinamentos que me foram passados, para que tenhamos uma academia de qualidade, que crie pessoas de bem, e que essas pessoas formadas nessa academia possam passar essa filosofia a outras pessoas que supostamente precisem disso.

Você se ofereceu para salvar dois eventos do UFC no ano passado – o 151, em uma semana, e o 153, no Rio. Se tivessem te chamado, você teria salvado o UFC Suécia 2 também, no lugar do Alexander Gustafsson?
Eu faço a minha parte como profissional, sempre com muito carinho. Amo o esporte que eu pratico, que é o MMA, embora eu ache que tem muitas coisas que precisam mudar para que as pessoas assistissem muito mais e entendessem que é um esporte de verdade. Enfim, eu, sempre que tiver uma oportunidade e o UFC precisar da minha ajuda, eu vou ajudar. Enquanto eu tiver o contrato com o UFC, enquanto eu tiver esse compromisso e a responsabilidade de passar para o público e para a família UFC o quanto estou com eles, vou fazer minha parte.

Isso significa que, se o Dana tivesse ligado, você pensaria a respeito?
É possível, não é uma decisão que cabe só a mim, mas a toda minha equipe, depende de toda uma estrutura. Mas é possível.

Você fala que tem muitas coisas no MMA que tinham que mudar para as pessoas perceberem e entenderem a arte marcial. O que você sugere de mudança?
Acho que o MMA é um esporte novo, que exige um pouco mais de atenção das pessoas responsáveis para esse esporte crescer no Brasil e no mundo, e tem muita coisa que precisa mudar para que as pessoas encarem isso como esporte, não tenham uma visão totalmente retrógrada do que é esse esporte. Hoje em dia, as pessoas assistem porque virou "modinha", mas elas realmente não sabem a essência do esporte. Não é que elas não sabem; não estão tendo acesso à essência desse esporte, por conta de a gente, de repente, ter um TUF aqui no Brasil, em que podemos mostrar a essência da arte marcial, a essência do esporte, e acabam mostrando coisas que não têm muito sentido, que é neguinho esculhambando, quebrando coisa. Acho que isso foge um pouco do princípio da arte marcial, da filosofia do esporte. Acho que tem que ter uma mudança, uma forma de mostrar para os atletas e para as pessoas o quanto é importante a filosofia da arte marcial, para que elas possam entender isso de forma mais ampla e mais clara.

Você está falando do TUF, não está gostando dessa temporada?
O TUF é uma das coisas que podem mudar. Não estou falando mal, mas acho que o que está passando ali… É um momento importante do esporte, as pessoas terão acesso ao que são os atletas, a disciplina, a filosofia, e não é isso que acaba passando na televisão. Passam coisas que não são legais. O momento da luta é legal, nós temos grandes talentos no Brasil e no mundo, mas essa coisa de, de repente… Bebida não combina com disciplina e com atleta. Tem que ter brincadeira? Claro, tem que ter brincadeira, zoação. Eu gosto muito de zoar e de brincar. Mas acho que o respeito às pessoas que estão assistindo, o respeito à arte marcial, é uma coisa que está faltando um pouco. O sentido da brincadeira acaba extrapolando um pouco. A atitude de alguns atletas que já lutam profissionalmente no UFC não são coniventes ao que o esporte está tentando passar. São coisas que precisam mudar, ter uma mudança radical, para que o esporte não fique como uma modinha que daqui a pouco passe. O esporte precisa ganhar um corpo, o qual as pessoas respeitem e entendam que é um esporte de verdade. Para isso, precisa de mudanças para fazermos de forma correta.

Quando você começa sua preparação para sua próxima luta?
Começo em 30 dias. Começo na Califórnia e volto para o Rio para continuar aqui.



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