Política

Ricardo diz ser vítima de “calúnias sem provas” e insinua que gravações de Daniel Gomes foram “preparadas” para incriminá-lo; veja principais trechos da entrevista


13/03/2020

Ricardo Coutinho concedeu entrevista à Rádio Sanhauá

Por Ângelo Medeiros



O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) falou com a imprensa pela primeira vez, nesta sexta-feira (13), após ter sido preso preventivamente na 7ª fase da Operação Calvário. Em entrevista contundente, concedida por escolha própria do socialista à Rádio Sanhauá, ele comentou sobre as investigações de suposto esquema de desvio de recursos públicos na saúde e educação em seu governo, condenou a falta de provas apresentadas na denúncia formulada pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) ao Poder Judiciário, se se considerou vítima de perseguição e de uma “farsa” para tentar incriminá-lo e cassar os seus direitos políticos.

No decorrer da entrevista, que teve duração de duas horas, Ricardo Coutinho fez duros ataques contra diferentes personagens e instituições, incluindo, o Ministério Público da Paraíba, o governador João Azevêdo, Daniel Gomes da Silva – ex-operador e líder da Cruz Vermelha Brasileira e principal delator da Operação Calvário, e a membros da imprensa.

Ricardo tratou como “desvarios” as acusações impostas nos autos da Operação Calvário, pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). “Não concordamos com convicções substituindo provas. Quero saber onde estão as provas disso, quero saber onde está o dinheiro. Não enterrei dinheiro nenhum. Aliás, não enterrei nem macaxeira”, disse.

O ex-governador ainda afirmou ser vítima do chamado “denuncismo”, preconizado após Operação Lava Jato, que, segundo ele, é uma “doença” que tomou conta do Estado democrático de direito. “O que o Ministério Público tenta, de uma forma inconsistente, caracterizar como organização criminosa se refere a apenas dois contratos com organizações sociais. Não existe superfaturamento”.

Ainda durante a entrevista, o socialista se mostrou arrependido de não ter disputado o Senado Federal e decepcionado por com a conduta do atual governador João Azevêdo, a quem chamou de “traidor”, e por tê-lo apoiado nas eleições de 2018.

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Ricardo Coutinho ainda atacou os delatores da Operação Calvário, a exemplo de Daniel Gomes e da ex-secretária Livânia Farias. Ele desmentiu as versões dadas pelo operador da Cruz Vermelha Brasileira, por meio de delação concedida ao Ministério Público, de que teria sido patrocinada uma viagem sua com hospedagem à Búzios-RJ, com direito a passagem pelo Carnaval do Rio de Janeiro, bem como para assistir ao “Rock in Rio” e também sobre a solicitações de ingressos para os shows de Roger Waters e da banda irlandesa U2. Também negou a acusação da ex-auxiliar, de que manteria sacos de dinheiro na Granja Santana para negociar apoios políticos.

Por fim, Ricardo Coutinho ainda garantiu que não pensa na hipótese de voltar a se candidatar a prefeito de João Pessoa, nas eleições de 2020, mas afirmou que será “um ativo para livrar para livrar João Pessoa das mãos de gente terrível que só quer fazer negócios com a prefeitura”.

Confira trechos da entrevista:

Gravações de Daniel Gomes, ex-líder e operador da Cruz Vermelha Brasileira:

“Sobre o Daniel, daqui a alguns anos quando essa história for contada de verdade, você vai ver que isso foi preparado há alguns anos atrás, no mínimo em 2015/2016, e o alvo eram algumas pessoas, entre as quais eu, porque lutei contra o impeachment, porque tinha posição diferentemente de outros políticos por aí que não dizem nada. Eu lutei contra o impeachment. Eu fui visitar duas vezes o senhor presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba, eu dei declarações, eu trouxe a presidente Dilma aqui dentro do Espaço Cultural, numa grande manifestação para dizer que nós tínhamos um lado nessa história. Nós não concordamos com a quebra do rito democrático, nós não concordamos com essa forma de fazer justiçamento, ao invés de Justiça. Nós não concordamos com convicções substituindo provas, então quero saber cadê as provas disso. Quero saber onde está esse dinheiro. Como alguém pode dizer que eu recebo caixas de dinheiro, ou que recebo mesada. Que conversa é essa?”

“[Daniel] Disse que ele tinha pago um hotel para mim e que eu teria ido para Búzios, mentira, nem conheço Búzios; disse que eu tinha ido para o Carnaval, nunca fui para o Carnaval [do Rio de Janeiro], eu morei no Rio e nunca fui ao Carnaval para se ter uma ideia. É mentira. Agora ele dizer que deu dinheiro é verdade? É simples, tem que mostrar provas, não pode simplesmente caluniar uma pessoa, e não apresentar provas. Não é assim que funciona o Estado de Direito, não é assim que funciona as instituições republicanas”.

Silêncio após a liberdade decretada pelo STJ:

“Passei de dezembro para cá calado porque, primeiro, queria que o Ministério Público e a Justiça não tomassem qualquer pronunciamento meu como uma tentativa de obstruí-la. Segundo, porque tinha companheiros meus presos, teve gente que passou dois meses e meio presos, cujo o único crime foi governar esse Estado daquela forma que governamos, olhando para a maioria, fazendo com que o dinheiro desse para um monte de coisas, que antes não dava. Lembrem-se disso. Essas pessoas passaram dois meses e meio presas, e não foram interrogadas nenhuma vez. Ora, se eu prendo alguém para poder aprofundar a investigação, o que me parece mais normal, interrogar para poder a partir desse interrogatório construir ideias, eu ter provas concretas da acusação. Ninguém foi interrogado. As pessoas vão ficar caladas? Não pode isso. A minha disposição é, respeitando profundamente as instituições, é colocar o dedo na ferida de que, tal qual, a Lava Jato, que hoje está desmoralizada”.

Corrente política divergente:

“Aqui na Paraíba, eu caminhei por uma corrente política que não era a corrente predominante e angariei muitos ódios de poucas pessoas. E estou pagando um preço por isso. Mas, na minha condição de cidadão, defensor do estado democrático de direito, estou aqui pedindo provas concretas acerca de qualquer ato ilícito que eu, por ventura, tenho realizado”.

Delação dos ex-secretários Livânia Farias e Ivan Burity:

“Se alguém confessou algum crime, é preciso pagar por isso. Delação em nenhum país ou lugar no Brasil, serve como prova de nada. Delação pode ser extraída de diversas formas, quem está preso, faz qualquer coisa para sair, portanto, é preciso ter cuidado com isso. Eu não fui o primeiro, e nem serei o último. Vi radialista aqui posar de falso moralista e ser acusado da mesma forma, de ser criminoso em outra operação. Vi um juiz tirar as cautelares de nove pessoas da Operação Cartola, que passou dois anos enxovalhando a vida de muitas pessoas, e no final não tinha prova de nada. Aqueles que fizeram as críticas, não vi nenhum pedir perdão a essas pessoas e nem vou vê-los pedir perdão a mim, quando lá no final não conseguirem nenhuma prova para me incriminar de nada. Meu patrimônio, meu caro, é completamente compatível com a renda que tenho”.

Acusação de Livânia Farias sobre a existência de caixas de dinheiro na Granja Santana para financiamentos de campanha:

“O que se pode fazer? É perguntar cadê uma única prova sobre isso. Zé Ramalho cantava ‘Na tortura, toda carne se trai’. A pessoa está presa por si só, é uma tortura, eu não tenho a menor dúvida de que os depoimentos que ouvi, são depoimentos induzidos, porque se não falasse sobre mim, não teriam a liberdade, isso é óbvio, está claro hoje. Porque como é que pode tantas acusações e não se ter uma prova?”.

“As pessoas estão condicionadas a lerem na internet alguma coisa e darem por uma certa propensão a crer que seja verdade. É mentira isso”.

8ª fase da Operação Calvário:

“Não existe nada, nenhuma prova que me ligue absolutamente a nada, a não ser, desvarios. Antes de ontem fizeram uma oitava fase [da Operação Calvário], aqui vai ficar igual a Lava Jato, não sei quantas fases, para poder alimentar até uma eleição futura. Fizeram sobre a Lotep, eu não temo absolutamente nada, eu não sei quem é o proprietário de ‘um tal de Paraíba de Prêmios’, não sei nem o que esse ‘Paraíba de Prêmios’ vende, eu não tenho tempo para esse tipo de coisa, a minha paixão na vida é fazer política”.

Falta de provas:

“Cadê as provas? Se você é um jornalista, eu, se fosse, iria atrás de perguntar cadê as provas concretas, não é narrativa. É muito bom ser promotor porque você pode, e não são todos que fazem isso, você pode acusar, sem ter nenhuma prova, como foi o caso de outros erros que aconteceram, e depois você fazer de conta que não é com você”,

Ataque aos Poderes constituídos:

“Esse ataque não é a Ricardo Coutinho não, é ao governo operoso que nós fizemos. Esse ataque todo vem na esteira do ataque a Luiz Inácio Lula da Silva, vem na esteira de um ataque a um governo que nunca se dobrou, que respeitou todas as instituições, mas que na crise disse que o prejuízo seria do Executivo como sempre foi, mas também para os demais poderes. É um governo que foi acusado pelo Ministério Público, por incrível que pareça, de mandar nos poderes, não tem coisa mais estapafúrdia do que essa. Toda a população da Paraíba é testemunha dos choques que aconteceram durante oito anos, todos viram, prisões diferenciadas, o autoritarismo. A questão é que eu decidi fazer com que o ônus de medidas amargas fossem compartilhadas, tanto pelo Executivo que comanda a Saúde, Educação, entre outras, como pelos demais poderes, sem desrespeitar absolutamente nenhum. Se você pegar o Poder Judiciário, por exemplo, quando assumi em 2011, o orçamento de 2010 deles havia sido R$ 360 milhões, quando sai deixei com R$ 619 milhões, se pegar o IPCA, que eram as reivindicações dos anos finais, estaria, em R$ 547, e aí? Eu praticamente dobrei em relação à inflação e ao IPCA, eu respeito, agora não sou submisso, e jamais serei”.

Ataques por ter posicionamento de esquerda:

“Derrubaram Dilma sem um único crime sequer de responsabilidade. Derrubaram a presidente da República, prenderam o melhor presidente que esse Brasil já teve, que foi Luiz Inácio Lula da Silva, simplesmente numa lógica de dizer ‘nós, não temos como fazer frente às obras, as realizações e ao pensamento’ dessa gente que relatei, e que estou tentando me acostar nela, porque participo do mesmo pensamento. A melhor forma é atacar por aí e criar uma lógica enorme, uma rede enorme de detratores, e começar a repassar isso adiante. Eu quero ver onde recebi mesada de quem quer que seja”,

Dinheiro enterrado na fazenda:

“Eu não enterrei nem macaxeira! É o desespero da narrativa, quando não se tem o que dizer, diz uma besteira dessa. Estou com 59 anos bem vividos, a minha condição de vida é a mesma de sempre, não mudei absolutamente nada, meu patrimônio é totalmente compatível com minha renda, minhas contas eu pago por dentro de minha única conta bancária, que foi bloqueada, sabe porquê? Por conta de uma acusação estapafúrdia, um negócio sem sentido de que eu teria contratado uma empresa para espionar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. É uma farsa! Fui acusado de ter sido o mandante e de que eu teria marcado uma reunião com os conselheiros para fazer uma chantagem. Essa reunião nunca existiu”

Armação para tirá-lo da política:

“Eles trabalham com duas questões para me tirar da política, primeiro é uma condenação num órgão colegiado, por isso está no Tribunal [de Justiça da Paraíba]. Por isso que Estela Bezerra e Cida Ramos entram aí para garantir esse foro privilegiado, e arrastar todo mundo para lá. A segunda, é poder estimular a vingança de conselheiros para poder rejeitar uma conta minha e me tirar da política. Essa são as questões centrais, é uma farsa, uma mentira isso. Você não pode chegar para uma pessoa e dizer ‘tal coisa você mandou contratar’, quando não houve um diálogo sequer, cadê a gravação? Não existe gravação, isso é uma mentira, é preciso respeitar as pessoas, as instituições”.

Arrependimento de não ter disputado o Senado Federal:

“Deixei de ter o mandato porque eu quis, modéstia a parte eu teria 99,99% de chances de ser eleito senador da República. Fiz uma opção, errada inclusive, porque, infelizmente, as pessoas não tiveram caráter suficiente para poder olhar aquilo que estavam recebendo e tocar o projeto adiante. Mas, fiz aquela opção, eu ando de cabeça erguida por esse Estado, desafio um único empresário desta Paraíba a relatar que eu tenha pedido um real sequer”.

Sem direito a depoimento:

“No dia que a Justiça me chamar e perguntar eu digo, até agora só foi acusação e não me chamou para nada. Eu se tivesse o dom, e o talento para ser um promotor, que não tenho, a primeira coisa que faria seria ouvir a pessoa para encontrar inconsistências nas suas respostas. Nunca fui ouvido sobre absolutamente nada”.

Decepção com a atual administração estadual:

“No caso do Governo do Estado, eu tenho um profundo pesar em falar sobre isso. Em 15 anos nós construímos algo muito poderoso aqui dentro, tão poderoso que gera tanto ódio. Mas, gera muita felicidade para que mais precisa, observa o que era a Paraíba em termos de investimento e o que é hoje. O atual Governo sobrevive dos restos do meu governo, inaugurou ontem uma escola em Santa Cruz, que eu construí. A única coisa que eu queria é que ele continuasse o projeto político, sem medo dos outros, sem se curvar a quem quer que seja, porque foi eleito, e, ao mesmo tempo respeitando os parâmetros que o povo elegeu”.

Arrependido pela escolha de João Azevêdo?

“Total, porque além da questão da escolha tem a questão do caráter. Vou dizer uma coisa que é muito séria, eu li a denúncia de prisão contra mim e outras dezesseis pessoas, encontrei ali na denúncia as digitais do atual governador do Estado. Eu sei e ele sabe disso. Encontrei ali uma afirmação de que eu teria imposto o nome de Cláudia Veras para secretária [de Saúde]. É mentira, a coisa não foi assim, ela foi deturpada. Como ninguém ouviu absolutamente ninguém, essa informação foi passada. Esse diálogo foi entre eu e ele [João Azevêdo] Eu ouvi um parágrafo e fiquei envergonhado. O grande carro chefe de tudo isso seria o superfaturamento, se houvesse superfaturamento, o dinheiro estaria habilitado a voltar a quem o permitiu, essa é a lógica, mas vi um paragrafo envergonhado dizendo que havia superfaturamento porque o atual governo, o senhor João Azevêdo, teria contratado a organização social que substituiu a Cruz Vermelha, o Instituo Acqua por R$ 10,5 milhões, e nós pagávamos R$ 12,4 milhões, acho que era isso, a Cruz Vermelha. Pois, bem, lembro que em maio encontrei em Brasília o atual governador, tinha recebido a notícia da contratação com valor menor naquele dia, e disse ‘mas, como é que você vai operar um hospital com 331 leitos, um hospital que tem todas as equipes, um outro hospital de retaguarda, que era o HTOP’, que ele fechou agora, ‘pois, bem, como é que você vai tratar disso?’, ele respondeu: ‘não, porque estou comprando por fora’; eu respondi: “Eu sei, mas, o povo não sabe, e vai dizer que houve superfaturamento’. Aí quando li aquele parágrafo na denúncia, foi que eu entendi que foi uma forma de dar veracidade, dizer que era verdade que houve superfaturamento, e a prova está aí, o Trauma implodiu, voltou a ter greve, a ter retenção de macas, a ter ambulâncias paradas na frente, o Trauma voltou a ter falta de medicamentos, ou seja, retirou dinheiro durante seis meses, e o Trauma voltou aquilo que estava. Pra mim foi um baque muito profundo, caráter é uma coisa que nós precisamos ter, seja nos piores ou nos melhores momentos. Caráter é fundamental, ninguém me vê com esse tipo de comportamento. Eu não entrego com mentiras absolutamente ninguém. Eu não sou colaboracionista. Eu não faço parte desse time”.

Imprensa

“A maior perdedora desse processo é a imprensa, porque no final ela vai perder uma credibilidade, por ter sida engolida por esses detratores que tomaram conta das manchetes”.

Atacou e pediu a cabeça de jornalistas?

“É tudo bobagem e mentira, o que fiz contra jornalistas foi recorrer à Justiça, quem acredita na democracia faz o que eu fiz, quem acredita na democracia, não faz o que antigamente se fazia, que era ou tapar a boca [dos jornalistas] com dinheiro, porque eu não tapo a boca de ninguém por dinheiro, porque eu não dou dinheiro para aqueles que querem me chantagear. Não quero agradar a todo mundo, quem agrada todo mundo é uma farsa, tem algo errado aí, e porque tem alguém sendo enganado”.

Candidato à prefeito de João Pessoa?

“Vou ser ativo para livrar João Pessoa das mãos de gente terrível que só quer fazer negócios com a prefeitura”.


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