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Quebra de sigilo de envolvidos em fraude no Samu de Ferraz será pedida


26/03/2013

 O depoimento da médica flagrada usando dedos de silicone no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Ferraz de Vasconcelos na Câmara de Vereadores terminou por volta das 12h25 desta terça-feira (26).

Thaune Nunes Ferreira prestou depoimento à Comissão Especial de Inquérito (CEI) criada para investigar o caso. Ela chegou com dois advogados e não falou com a imprensa.

No dia 10 de março, a médica foi flagrada usando dedos de silicone para marcar o ponto de colegas. Com ela foram apreendidos seis dedos de silicone e comprovantes impressos pelo equipamento que controla o horário dos funcionários. Um vídeo foi feito no momento em que ela fraudava o sistema. Ela chegou a ser detida por falsificação de documento público, mas foi solta porque a Justiça concedeu um habeas corpus.

De acordo com o presidente da CEI, o vereador Roberto Antunes de Souza (PMDB), na quarta-feira (27) será encaminhado o pedido de quebra do sigilo bancário e telefônico de Thauane e do ex-coordenador do Samu, Jorge Cury, para a Justiça. Desde o flagrante Jorge Cury é apontado pela médica como o mentor da fraude. Segundo o presidente da CEI, Thauane disse em seu depoimento que o esquema funcionava no Samu desde fevereiro de 2012 e que seis médicos participavam da fraude. Ele disse ainda que a médica afirmou que foi Jorge Cury quem providenciou os dedos de silicone e que os moldes foram feitos dentro do Samu. A médica justificou que participava do esquema para não perder o emprego, disse o vereador.

Segundo a Câmara, Thauane negou que tivesse alguma vantagem financeira com o esquema. A médica entregou à comissão 27 comprovantes de transferências bancárias para a conta de Jorge Cury.

A mãe de Thauane, Eunice Nunes, acompanhou a filha e falou pela primeira vez com a imprensa. “Eu gostaria que vocês falassem com o único culpado.” Questionada sobre quem seria o culpado, ela completou: “Não cabe a mim julgar, existem pessoas mais competentes para isso.”

Próximos passos
O presidente da CEI informou que a próxima etapa dos trabalhos da comissão será ouvir mais dois médicos envolvidos no esquema. No entanto, ele não revelou a identidade dos profissionais. O vereador Roberto Antunes de Souza também confirmou que Jorge Cury será ouvido pela comissão, mas o depoimento ainda não tem data marcada.

Investigação
Em depoimento ao Ministério Público, Thauane contou como era o esquema e apontou que ele seria chefiado pelo então coordenador do Samu, Jorge Cury.

O caso também é investigado pela polícia e pelo Ministério Público, que ouviu Thauane no dia 15 de março. Ela contou que era forçada a participar do esquema com os dedos de silicone. A Polícia Civil também apura o caso. O delegado de Ferraz de Vasconcelos Wagner Lombisani já começou a ouvir alguns funcionários do Samu. O Ministério da Saúde também faz auditoria no serviço.

Na semana em que a fraude foi descoberta, o secretário municipal de Segurança, Carlos César Alves, disse que os médicos do Samu tinham que repassar o valor ganho pelos plantões não trabalhados a Jorge Cury. A vantagem dos profissionais seria a flexibilização da agenda para poder trabalhar em outros locais. “Cada médico que participava do esquema pagava R$ 1,2 mil por turno de 24 horas aos fins de semana para o Jorge Cury”. Alves ainda afirmou que o pagamento era feito por transferência bancária.

Desde que o caso começou a ser investigado, o médico Jorge Cury se manifestou apenas no dia em que o flagrante foi feito. Ele negou envolvimento nas irregularidades. “Isso é um absurdo! Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso. Passo no Samu todo domingo e nunca faltava funcionário. Hoje que não fui aconteceu isso.”

Afastados

Na quarta-feira (20), o prefeito de Ferraz de Vasconcelos determinou o afastamento de mais dois médicos do Samu: Caio José Losito Mantovani e Ronnie Muniz de Oliveira. A identidade deles foi divulgada na terça-feira (19) após perícia feita no cartão de ponto e nos dedos de silicone, localizados com a médica Thauane Nunes Ferreira no dia 10 de março.

A determinação partiu do prefeito Acir Filló, por meio de uma portaria. Segundo ele, os dois serão investigados por meio de uma sindicância aberta pela adminstração municipal. Caso a fraude seja comprovada, os médicos envolvidos poderão ser exonerados.

Além dos médicos que foram afastados, prefeitura já tinha impedido que outros cinco socorristas trabalhassem: a médica Thauane Ferreira dos Santos, que foi flagrada com usando os dedos de silicone para marcar a presença dos colegas, o coordenador do Samu, Jorge Cury e os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes e Aline Cury.

Outro lado

A reportagem do G1 tentou entrar em contato com os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Aline Cury e Thauane Nunes Ferreira, mas não conseguiu. Caio José Losito Mantovani e Ronnie Munis de Oliveira também não foram localizados.

Em nota à produção do Fantástico, enviada no domingo (17), o advogado de Felipe de Moraes disse que o médico "não participou de nenhum esquema de fraude e que nunca recebeu dinheiro sem que tivesse trabalhado nos plantões."



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