Economia & Negócios

Presidente do BNB, Romildo Rolim, revela planos da instituição para ajudar a transformar a economia do Nordeste, em 2021


01/03/2021

Romildo Rolim, presidente do BNB (Reprodução)



A nova edição da Revista NORDESTE, de número 169, já está disponível nas bancas e também para leitura no modo virtual (CLIQUE AQUI para acessar). Um dos destaques da publicação e uma entrevista exclusiva com o presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Romildo Carneiro Rolim, que revela aos jornalistas Walter Santos e Luciana Leão os planos da instituição para 2021.

A entrevista pode ser lida na íntegra, abaixo. Confira:

O IMPACTO ECONÔMICO-SOCIAL DO BNB

Para onde e como se efetivam investimentos para superar efeitos da crise

Por Walter Santos e Luciana Leão

Há desde 2020 um cenário econômico preocupante nos Estados envolvidos com a estrutura territorial da Sudene sob efeitos danosos da COVID – 19 afetando duramente a realidade das empresas e em especial no contexto social de muitos dramas produzidos pelo desemprego e a falta de renda. Esta é a realidade que invoca a importância do BNB – Banco do Nordeste do Brasil – a agir fortemente para arrefecer a grave crise e dar sequência de políticas econômicas voltadas para a superação.

Capa da Edição 169 da Revista NORDESTE

Projeções econômicas recentes apontam que 2021 será um ano de transição, mas de crescimento, mesmo diante de tantos desafios ainda pela frente, por conta da Covid-19. Apesar disso, as expectativas de instituições como Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial (Bird) apontam crescimento que variam de 4,0%(Bird);4,2% (OCDE) e 5,5%(FMI).

No Brasil, a previsão também é de crescimento do PIB, variando entre 2,6% e 3,6%, segundo agências internacionais, e chegando a 3,8% de acordo com o nosso Banco Central.

A Revista NORDESTE traz nesta edição uma entrevista exclusiva com o presidente do Banco do Nordeste, Romildo Carneiro Rolim, que nos revela os planos da instituição para 2021.

Revista NORDESTE –  O que o Banco do Nordeste traçou como linha mestra em 2021 para dar mais capilaridade aos financiamentos aos setores produtivos nordestinos? 

Romildo Rolim – Na missão de atuar como o banco de desenvolvimento da Região Nordeste e do Norte dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, o BNB busca suprir grande parcela da lacuna referente ao crédito, especialmente por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). O objetivo é contribuir para a transformação do cenário econômico regional, favorecendo a redução das desigualdades econômicas, espaciais e sociais. Por isso, as linhas de financiamento setoriais e multissetoriais, no âmbito do FNE, apoiam empreendimentos rurais e urbanos de todos os portes, desde agricultores familiares e microempreendedores individuais até empreendimentos de infraestrutura. Com efeito, todos são fundamentais ao acúmulo de um plano de crescimento e de atração de investimentos à Região, desdobrando-se ao apoio de pessoas naturais, a exemplo de estudantes, por meio da linha FNE P-Fies, de mini e micro geradores de energia fotovoltaica na linha FNE Sol, e até microempreendedores urbanos beneficiários da linha FNE PNMPO (Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado).

NORDESTE – Onde neste contexto conjuntural entra o fator competitividade empresarial?

Romildo Rolim – A partir do desafio de estar aderente à competitividade empresarial e atuante nos nichos mais modernos de crédito, o FNE oferece ainda opções para o financiamento de projetos de inovação (FNE Inovação) e para startups (FNE Startups), bem como para linhas voltadas ao segmento verde (FNE Verde), ao uso eficiente de recursos hídricos (FNE Água) e ao segmento da Saúde (pessoas jurídicas prestadoras de serviços e indústrias contido no Complexo Econômico Industrial da Saúde –  CEIS). A partir de todas essas opções de apoio financeiro por meio do FNE, associadas à atuação de fontes de recursos complementares e por ações e metodologias desenvolvimentistas, a exemplo da atuação do Programa de Desenvolvimento Territorial (Prodeter) e do Agente de Desenvolvimento, inclusive no apoio e na sinergia junto a outras Iniciativas Federais (Agronordeste e Programa Rotas da Integração), do microcrédito orientado no meio rural (Agroamigo) e do Hub de Inovação do Nordeste, o BNB tem mantido sua presença em todos os 1990 municípios abrangidos pela área de atuação da Sudene e elevado, especialmente, em 2020, o seu nível de cobertura em múltiplas operações, por município, com recursos do FNE.

NORDESTE: Em 2020, o Banco do Nordeste investiu R$ 39,8 bilhões na sua área de atuação. Os resultados incluem R$ 25,8 bilhões aplicados com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), por meio de mais de 774 mil operações de crédito, que beneficiaram empreendedores de todos os portes. Qual a expectativa do orçamento para 2021? Haverá cortes no orçamento?

Romildo Rolim – As aplicações previstas no Planejamento Estratégico do BNB para 2021 somam R$ 42,27 bilhões, 5,5% superior ao volume aplicado em 2020, que alcançaram R$ 40,07 bilhões.

Entrevista com Romildo Rolim, presidente do BNB (Reprodução / Revista NORDESTE)

NORDESTE – Do total aplicado na região, R$ 12,1 bilhões chegaram a microempreendedores urbanos por meio do programa Crediamigo. Essa tendência permanecerá, ou o BNB pretende dar mais fôlego a esse segmento?

Romildo Rolim – A tendência de crescimento é permanente. Desde sua criação, em 1997, o Crediamigo registra, ano após ano, sucessivos recordes de aplicação de recursos direcionados a microempreendedores urbanos. Os resultados são fruto da importância fundamental que o Banco dá às microfinanças, o que consolidou o Crediamigo como o maior programa de microcrédito da América do Sul. Hoje, mais de dois terços do saldo aplicado em microcrédito produtivo orientado no Brasil é aplicado por meio do Banco do Nordeste. O BNB opera o microcrédito como ferramenta poderosa de desenvolvimento socioeconômico, e, como banco de desenvolvimento, estabelece o microcrédito como prioridade. Essa priorização está galvanizada em uma das diretrizes estratégicas da Instituição, que prevê ampliar ainda mais sua liderança no setor, levando o microcrédito a um número cada vez maior de microempreendedores brasileiros. De modo que, dessa forma, o BNB pretende dar cada vez mais fôlego a esse segmento. Este ano, por exemplo, o Banco pretende injetar na economia regional mais de R$ 14,5 bi e atender mais de um 500 mil novos empreendedores.

NORDESTE – É de conhecimento que a região do semiárido nordestino sobrevive de ações pontuais dos governos. Como se dará a política para essa região considerada a maior do mundo?

Romildo Rolim – Embora ainda caracterizada por padrão de desenvolvimento inferior a de outros subespaços regionais, a Sub-região Semiárida vem apresentando evoluções em sua dinâmica econômica, especialmente em se tratando de alguns municípios considerados polos irradiadores de externalidades positivas, em virtude de suas influências em outros municípios menores do entorno. A política de crédito do FNE garante algumas situações de direcionamento prioritário ao Semiárido, a exemplo de maiores níveis de alavancagem de projetos de financiamento, maior limite de financiamento para capital de giro, encargos financeiros reduzidos por ocasião da incidência do redutor Fator Localização (FL), do qual é beneficiária parte dos municípios localizados nesse espaço, além de itens de financiamento específicos e exceções a vedações no âmbito dessa fonte de recursos. Destaque-se o direcionamento obrigatório de pelo menos 50% dos ingressos anuais de recursos a essa porção do território regional, o que, em 2020,  representou R$ 5,1 bilhões. Apenas via FNE, o BNB aplicou cerca de R$ 14,1 bilhões no Semiárido, superando a marca mínima em 276,3%, e respondendo por cerca de 54,5% do total financiado por essa fonte. Para 2021, está prevista a aplicação mínima de R$ 7,1 bilhões, esperando-se performance similar à de 2020, para o que contribuirão as ações relacionadas à organização de cadeias produtivas desempenhadas pelo Prodeter, com atuação do Agente de Desenvolvimento.  Sobretudo nos municípios em que não há agências físicas da Instituição, há o advento das agências itinerantes, destacando-se a integração e orientação características dessas ações, aliadas à capacitação, inovação tecnológica, articulação de políticas públicas, estratégias associativas, bem com assistência técnica e gerencial, entre outros fatores imprescindíveis ao Semiárido.

NORDESTE – Os setores de energia renovável (eólica e solar) vêm atraindo grandes investimentos para o Nordeste, pela sua própria e natural vocação, com sol e vento praticamente o ano todo. Quais empreendimentos o BNB vem apoiando e em que Estados?

Romildo Rolim – O Banco do Nordeste opera com linhas de crédito para investimento em Energias Renováveis e eficiência energética direcionadas a empresas (pessoa jurídica), produtores rurais ou a pessoas físicas. O FNE Verde, atualmente, é o programa de referência, atuando desde operações de infraestrutura (FNE Verde Infraestrutura) até a mini e micro geração de energia fotovoltaica a pessoas físicas (FNE SOL). No período de 2016 a 2020, foram aplicados R$ 13,4 bilhões em infraestrutura de Energia Eólica e R$ 5,4 bilhões em Infraestrutura de Energia Fotovoltaica, abrangendo toda a área de atuação do Banco. No mesmo período, foi contratado o montante de R$ 642,9 milhões, por meio de 9.176 operações, para financiamento da micro e minigeração distribuída de energia por fontes renováveis. Somente em 2020, foram investidos R$ 264,1 milhões, por meio de 4.548 operações, o que demonstra a evolução demonstrada pelo apoio do BNB ao segmento.

NORDESTE: O que esperar do setor de Turismo nos nove Estados em tempo de pandemia e como o BNB contribui?

Romildo Rolim – As atividades que mais tiveram o desempenho afetado no setor de turismo são aquelas relacionadas às atividades presenciais e ao consumo das famílias, como bares e restaurantes, serviços de bufê, hotéis, transporte aéreo e rodoviário e locação de automóveis. A perspectiva para o setor, segundo levantamento realizado pelo BNB, por meio do seu Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), que utilizou dados do Relatório da Rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT), é de que baixas financeiras provocadas no contexto da pandemia da Covid-19 podem iniciar a recuperação ainda este ano, conforme a evolução dos controles relacionados à pandemia estiverem em patamares efetivos.

NORDESTE – E como banco age efetivamente?

Romildo Rolim – Para contribuir com o  setor, o Banco do Nordeste opera com as linhas FNE MPE Turismo e FNE Proatur, ambas no âmbito do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, voltadas ao financiamento de bens de capital e implantação, modernização, reforma, relocalização ou ampliação de empreendimentos do setor de turismo (pessoas jurídicas de direito privado e empresários registrados na junta comercial, além de microempreendedores individuais), inclusive capital de giro, de acordo com o porte da empresa.

Entrevista com Romildo Rolim, presidente do BNB (Reprodução / Revista NORDESTE)

NORDESTE – Que inovações o BNB atrai nestes tempos de retração econômica?

Romildo Rolim – Entre as inversões financiadas pelo Banco estão shoppings e outlets nas cidades pertencentes às Rotas Estratégicas do Turismo (MTur), gastos com construção, aquisições de veículos necessários à atividade, embarcações utilizadas no transporte turístico de passageiros, meios de hospedagem, gastos gerais relacionados ao funcionamento desses empreendimentos, dentre outros itens. O Banco formalizou, ainda, o credenciamento no Ministério do Turismo visando ofertar linha de financiamento com recursos do Fundo Geral do Turismo (Fungetur). É mais um apoio ao segmento, na conjuntura da pandemia, de modo a ampliar e facilitar o acesso a mais uma linha de crédito aos empreendedores, garantindo o alinhamento com as iniciativas desenvolvidas no País. As tratativas estão sendo desenvolvidas para efetiva operacionalização no início do segundo trimestre de 2021.

NORDESTE – Qual o volume de aporte total?

Romildo Rolim – Neste exercício, o Banco prevê disponibilizar à demanda setorial do turismo montante de R$ 700 milhões com recursos do FNE e de R$ 500 milhões com recursos do Fungetur, somando a importância aproximada de 1,2 bilhão, distribuídos em toda a área de atuação da Sudene, os 9 estados da região nordeste, norte de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Destaca-se, também, o Programa de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste (Prodeter), com perspectivas de implantar ao longo de 2021 e 2022, ações focadas em diversas regiões vocacionadas para o turismo, trabalhando junto a parceiros na organização e no fortalecimento da cadeia produtiva sob vários aspectos, inclusive com Planos de Desenvolvimento Territorial construídos, onde se trabalha a organização, o planejamento e o conhecimento dos equipamentos turísticos urbanos e sua integração e interação com as atividades do campo. Nesse contexto, importa mencionar exemplo recente no Estado do Ceará, onde a parceria formada com a Câmara Setorial de Turismo e Eventos do Ceará, em 2020, contribuiu de modo exitoso para o incremento das contratações no setor de turismo nesse estado.

NORDESTE – Qual o papel do BNB para impactar mais na área de Tecnologia & Inovação levando em conta os polos existentes na Região, que são referência para o Brasil e para o mundo?

Romildo Rolim – O principal recurso aportado pelo Banco do Nordeste na aceleração do processo de desenvolvimento tecnológico e de inovação das empresas, com ênfase na difusão e na promoção da eficiência e da competitividade, é representado pelos programas de crédito do FNE, a exemplo de FNE Inovação, FNE Sol, FNE Água, dentre outros. Nos últimos 5 anos, o montante de crédito para financiar inovação chegou a R$ 2,8 bilhões, com previsão de R$ 372,6 milhões para 2021.

NORDESTE – Mais especificamente o que tem sido feito na área de TI…

Romildo Rolim – Outra iniciativa relevante do Banco do Nordeste para fomentar a inovação no segmento de startups foi a criação do Hub de Inovação, com três espaços de Coworking em Fortaleza, Recife e Salvador. Mais de 40 startups foram apoiadas pelo Hub de Inovação nos processos de acesso a investidores e a mercado.



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