Esporte

Polícia Civil investiga suspeita de “rachadinha” em venda de Mayke pelo Cruzeiro em 2018

Negociação ocorreu em setembro daquele ano e envolveu empréstimo de empresário ao clube mineiro para pagamento de obrigações trabalhistas com atletas


25/05/2020

Foto: Getty Imagens

GE



Entre os contratos investigados no Cruzeiro pela Polícia Civil de Minas Gerais, com acompanhamento do Ministério Público do Estado, está o contrato da transferência do lateral-direito Mayke ao Palmeiras. A venda, sacramentada em dezembro de 2018 pela Raposa, é alvo de investigação sobre como se deu a transferência dos direitos econômicos do jogador.

A investigação da Polícia Civil ainda não teve uma conclusão, mas é investigado se houve alguma irregularidade no momento da venda do jogador, em 2018. O Palmeiras, clube que recebeu Mayke, não figura como suspeito no inquérito, conforme informado à reportagem.

O pedido do contrato da venda de Mayke foi feito pela Polícia Civil ao Cruzeiro em 5 de fevereiro deste ano, requisitando o acordo realizado pelo clube com eventuais parceiros pelos direitos econômicos do jogador. O pedido veio depois da ADS Engenharia e Construções LTDA, que briga no Tribunal de Justiça de Minas Gerais pelo recebimento de valores em relação ao percentual (30%) de Mayke, entregar o acordo que dividia os direitos entre a empresa e o Cruzeiro. A empresa de engenharia não está sob investigação no caso.

Em documento anexado em 4 de fevereiro deste ano, em que o Palmeiras figura apenas como um terceiro e não como réu no processo, o clube mineiro informou que pretendia produzir prova oral para “elucidar como se deu a negociação da venda do jogador; as partes envolvidas; terceiros interessados; nulidades; eventuais fraudes, que inclusive estão sendo atualmente apuradas pela Polícia Civil”.

Trecho de documento do Cruzeiro na Justiça, apontando "eventuais fraudes" investigadas pela Polícia — Foto: Reprodução

Trecho de documento do Cruzeiro na Justiça, apontando “eventuais fraudes” investigadas pela Polícia — Foto: Reprodução

A investigação sobre este contrato ainda não teve um desfecho, assim como todo o inquérito aberto na Polícia Civil e no Ministério Público de Minas Gerais para investigar irregularidades na última gestão cruzeirense. Entre os crimes apurados no clube, segundo o MPMG, estão falsidade ideológica, de documentos, apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O representante oficial do lateral, Fábio Mello, prestou depoimento dentro do inquérito, mas não foi citado na investigação.

O imbróglio do contrato e da venda

A última decisão na Justiça sobre o pagamento dos 30% de Mayke à empresa de engenharia foi a penhora do valor de R$ 5 milhões, determinado pelo juiz, a ser depositado em juízo. O Palmeiras, alegando dificuldade no fluxo de caixa, requisitou o parcelamento em 10 vezes do valor e teve o pedido deferido. A ADS Engenharia entrou com pedido tutelar requerendo o depósito total, mas a Justiça indeferiu. Três parcelas, cada uma de R$ 500 mil, já foram depositadas. A última foi anexada ao processo na última terça.

O pedido do Cruzeiro para produzir prova oral sobre a negociação havia sido aceito, e a audiência marcada para 27 de maio. Entretanto, por causa da pandemia do novo coronavírus, a sessão foi cancelada e ainda não tem nova data.

Mayke foi vendido ao Palmeiras por 3 milhões de euros (R$ 14.576.100,00), de forma antecipada, em negócio sacramentado em setembro de 2018. Do montante, R$ 8 milhões seriam pagos ao Cruzeiro, que detinha 70% dos direitos econômicos. Entretanto, todo o dinheiro cruzeirense já estava comprometido no momento da venda, por causa de uma dívida do clube com empresário Giuliano Bertolucci.

O valor arrecado pelo Cruzeiro no empréstimo era buscado para quitar obrigações trabalhistas (depósito de FGTS, por exemplo) com o elenco profissional e, assim, evitar que alguns jogadores recorressem à Justiça para rescindir o contrato. Isso em um momento crucial da temporada 2018, com a disputa da semifinal da Copa do Brasileiro contra o próprio Palmeiras.

Segundo apurou a reportagem, na estadia da delegação em São Paulo para a primeira partida da semifinal, o então vice-presidente de futebol da Raposa, Itair Machado, teria procurado Bertolucci para um empréstimo de R$ 8 milhões, dinheiro que seria utilizado para pagar impostos atrasados. O “contrato de mútuo” foi assinado entre as partes em 28 de setembro.



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