Política

Planalto tem dificuldade de retomar diálogo com PMDB após eleição de Cunha

Após eleição


21/02/2015

Apesar de o PT na Câmara buscar articulações com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de olho na relatoria da CPI da Petrobras, o Planalto ainda tenta encontrar uma forma de reabrir o diálogo com o maior partido aliado, o PMDB. Mesmo diante de um novo cenário político, com o PMDB ocupando as principais instâncias no Congresso, a presidente Dilma Rousseff ainda não chamou o vice-presidente Michel Temer para uma conversa, como chegou a ser aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois da eleição da Câmara, a presidente apenas se reuniu com Cunha na semana após sua vitória. No entanto, o clima foi de formalidade extrema de acordo com participantes do encontro. Durante a reunião com Cunha, Dilma fez questão de mandar chamar na sala o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, com o qual Cunha tem dito que não dialogará. Também chamou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Dilma passou ao novo presidente da Câmara o claro sinal de que o diálogo com o Congresso deverá mesmo ser coordenado por Pepe. A irritação de Cunha com Pepe ainda é resquício da eleição para Mesa Diretora. Cunha credita ao ministro a coordenação das articulações para tentar derrotá-lo e eleger o petista Arlindo Chinaglia (SP).

No PMDB, a ordem é esperar o convite para o diálogo. Interlocutores do vice-presidente avaliam que ele poderia ajudar bastante, no entanto, com o passar do tempo, seu poder de amenizar os ânimos com a bancada na Câmara, totalmente rebelde, acaba diminuindo. Para os mais próximos do vice-presidente, a postura adotada por ele é de espera. Temer tem dito que “pode ajudar”, mas que precisa “ser solicitado”.

Embora Dilma adie essa conversa com Temer, o PT da Câmara trabalha para apaziguar as relações com Cunha. O líder do partido na Câmara, Sibá Machado (PT-AC), tem trabalhado para construir uma ponte com o presidente da Câmara. As investidas do petista na direção de Cunha têm dois objetivos de curto prazo, trabalhar para que a relatoria da CPI da Petrobras fique com o PT e também numa forma de romper o isolamento que o partido da presidente tem sofrido na esteira da eleição presidencial e agravado depois da disputa pela Mesa Diretora da Câmara.

Vice desprestigiado

Temer já foi alvo de críticas da bancada do PMDB no passado, que acusava o vice-presidente de somente se preocupar com sua posição palaciana e não ajudar seus correligionários. Hoje, porém, Temer é visto como o interlocutor natural para a reaproximação do governo com o PMDB. Mas apesar de superada essa crítica, a bancada do partido na Câmara mantém outras velhas reclamações em alta. Um delas é exatamente sobre o poder delegado aos interlocutores da presidente responsáveis pela articulação política. A questão é que muitos deles não demonstram autonomia mínima para negociar. “Falta o Temer ser prestigiado pela presidente. Todo articulador é desmoralizado. Então o Temer procura se preservar”, sintetiza o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) em tom crítico.

Na avaliação da bancada, se Dilma quer mesmo apaziguar sua relação com o PMDB e levá-la a outro patamar precisará gastar saliva. Primeiro os deputados do partido apontam que seria muito mais produtivo para a relação se a presidente convidasse os peemedebistas para conversar sobre as medidas que pretende encaminhar ao Congresso. Essa queixa não é nova, mas aparece renovada neste início de segundo mandato. Congressistas do PMDB dizem que se Dilma convidasse o partido a participar desse tipo de processo decisório teria muito mais facilidade de articulação no legislativo e poderia até contar com o PMDB de corpo e alma.

Entra nesta equação ainda a distribuição de cargos de segundo escalão. A bancada do PMDB na Câmara classifica como desastrosa a atuação de Dilma na escolha dos ministros, mas acredita que a montagem do segundo escalão pode ser um chance de corrigir alguns erros. Embora a discussão sobre espaços no segundo escalão possa dar margens a velha prática de troca de apoio por cargos, os peemedebistas consideram mais do que natural que seus filiados sejam convidados a participar da gestão, já que integraram a coligação vencedora na corrida presidencial.

O momento de fragilidade do governo frente a setores da opinião pública, o isolamento do PT na Câmara, os indicadores econômicos e os desdobramentos da Operação Lava Jato podaram muito o poder de articulação de Dilma. Essa é a avaliação de parte da bancada do PMDB que, sob essa óptica, diz que o governo tem pouco a oferecer e muito menos a impor e exatamente por isso, precisa conversar e compartilhar a construção das políticas. Em outras palavras, diante do momento, poucos querem jogar para si o desgaste de ter de defender um governo impopular e que ainda por cima não abriria espaços de discussão para os aliados.

O PMDB também considera que a melhora da relação com o governo também passa pela melhora dos indicativos econômicos. E esse argumento também traz consigo a ideia de que poucos gostariam de colocar o rosto a tapa para defender a gestão petista que patina em alguns indicadores econômicos. Mas essa recuperação passaria por mais uma bateria de diálogos, já que os parlamentares da legenda dizem reservadamente que é responsabilidade do Executivo a situação econômica do país, mas que o governo agora quer jogar para o Legislativo a tarefa de resolver o problema por meio da aprovação das medidas provisórias de ajuste. Por esse raciocínio, se o PMDB não apoiar na aprovação de medidas que não foi convidado a opinar, ainda terá de ser responsabilizado por uma derrota do governo e acusado de rebeldia.


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