Paraíba

OPINIÃO: ‘Jornal Correio – Sangue, suor e lágrimas’, por Giovanni Meireles


04/04/2020

Na imagem o apresentador Giovanni Meireles



JORNAL CORREIO – SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
Por Giovanni Meireles

“A crise existe e não podemos negá-la. Só tenho a oferecer sangue, suor e lágrimas. Nada mais tenho a vos ofertar neste momento, a não ser trabalho.”

(Frase do discurso proferido no Parlamento Inglês – Câmara dos Lordes – pelo então recém-nomeado 1º Ministro Britânico, Sir Winston Churchill, em 1940, quando as tropas nazistas do Fürher Adolf Hitler pareciam querer atropelar o mundo livre e dominar com a força dos tanques-de-guerra alemães das Divisões Panzer, todo o planeta Terra).

Lembro o sangue de Paulo Brandão, em 1984, o meu próprio suor como Editor Geral, de 1992 a 1995 e as lágrimas derramadas agora pelos últimos funcionários do jornal Correio da Paraíba. E o trabalho? Este não existe mais.

Entrei na redação pelas mãos de Walter Santos, em abril de 1992, egresso do também recém-extinto jornal “O Momento”, com a dura missão de substituir o “insubstituível” Rubens Nóbrega e sua equipe de feras do jornalismo escolhidos a dedo, para fazer história na imprensa paraibana.

Seis meses depois puxaram o tapete de WS e ele foi forçado a “pedir pra sair”, só assim mantendo sua postura ereta de homem livre, daquele tipo que é endurecido pelos desafios impostos pela vida profissional, mas que não perde a ternura jamais, parodiando o guerrilheiro argentino-cubano Ernesto “Che” Guevara de La Serna.

Contratei a jornalista recém-formada nos bancos escolares da UFPB, Sony Lacerda, como minha secretária-particular, pois era a única vaga que tinha na redação, a pedido de Pessoa Júnior, meu editor de Esportes. Hoje, Sony aparece na foto com os últimos companheiros de redação, na condição de chefe maior de todos eles. Ela soube subir na carreira, ganhando experiência, chances de ouro e boas oportunidades durante esses 20 e poucos anos, como cantaria Fábio Júnior.

Substituí na coluna política principal Nonato Guedes, que tinha sido convidado pelo então governador Ronaldo Cunha Lima para assumir o cargo de Superintendente do Jornal “A União”, Diário Oficial do Estado e Imprensa Estatal. Apostei em Helder Moura, um “homem rústico”, até então um mero repórter da sucursal de Campina Grande, sem parentes importantes e vindo do interior, como diria o poeta Belchior.

Quando saí do cargo, em dezembro de 1995, convocado pelo então governador José Maranhão para substituir Walter Santos como titular da Secom estadual, indiquei Lena Guimarães como minha sucessora e assim ela permaneceu, até há poucos anos atrás.

Destacaria entre as inúmeras coberturas difíceis, o sequestro do empresário Clodoaldo Soares de Oliveira e sua esposa, Alessandra Camelo, finalmente libertados sãos e salvos na Avenida Brasil, numa noite de sábado, no Rio de Janeiro, após pagamento de um resgate de Cinco Milhões de Cruzeiros (Cr$ era a moeda da época), pondo fim a um cativeiro nas mãos de bandidos cariocas durante dois meses.

Outro parto dificílimo foi cobrir a crise gerada pelo Incidente do Gulliver, tratado como “atentado” pelo jornal “O Norte”, nosso principal concorrente à época, envolvendo os ex-governadores (ambos já falecidos) Ronaldo Cunha Lima e Tarcísio de Miranda Burity.

E a lenta agonia e morte do governador Antônio Mariz? Foram plantões e mais plantões varando a madrugada até o dia amanhecer, esperando um desfecho trágico que mais cedo ou mais tarde chegaria, mas que nos forçou a dar a manchete “Mariz Agoniza” pela manhã, quando de fato ele morreu no início da noite daquele mesmo dia. Foi barra. Foi duro. Num foi brinquedo, não.

Fico por aqui, para não me estender demais, lembrando apenas que passei por duas experiências inesquecíveis, que entraram para a história do jornalismo paraibano:

1) Informatizei a redação e a pré-produção de fotolito, montagem de filmes e gravação de chapas de impressão da nossa gráfica em offset implantando o primeiro projeto de introdução de computadores num jornal paraibano. Era um bicho desconhecido, Coisa de ET’s. Verdadeiro filme de ficção científica.

2) – Passei pela fiscalização e vigilância diária de todas as edições compreendidas pelo período de validade do trabalho de Ombudsman (defensor do leitor e direitos do assinante), feito inicialmente pelos professores universitários do Curso de Comunicação Social da UFPB, Carmélio Reynaldo e Alarico Correia Neto e depois, estranhamente, pelo crivo do próprio Rubens Nóbrega, ex-editor que me antecedera, na ocasião sendo pago com um salário maior do que o meu para criticar o que duramente minha equipe reduzida e com parcos recursos operacionais, produzia durante a semana. Todo domingo levávamos uma página inteira de cacetadas gratuitas. Assim é covardia. Pura sacanagem.

Mas, mesmo assim, aguentei firme as chibatadas no lombo e só larguei o osso quando fui trabalhar no Alto Escalão do Governo do Estado.

Agradeço a Roberto Cavalcanti, José Fernandes e Alexandre Jubert, por terem me forjado um homem mais calejado nas estradas da vida, com nervos de puro aço e sangue quente correndo nas veias.

Repito a frase de abertura: sangue, suor e lágrimas. Lamentavelmente, trabalho hoje já não existe mais.



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