Dolores Duran compôs músicas que se tornaram inesquecíveis. Em 1959 lançou o samba-canção “Fim de caso”, onde relata a constatação de que o romance em que vivia o “eu lírico”, personagem feminina, está desgastado e caminha para o seu fim.
”Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar/Há um adeus em cada gesto, em cada olhar”. O relacionamento com o tempo foi perdendo o sentido de união, dependência um do outro, característico de pessoas apaixonadas. Previa que estava se deteriorando, próximo de uma separação. Estava fácil perceber na própria convivência diária. A comunicação entre eles já não demonstrava os sentimentos de amor que os unia.
“Mas nós não temos nem coragem de falar/Nós já tivemos a nossa fase de carinho apaixonado/De fazer versos, de viver sempre abraçados/Naquela base do só vou se você for”. Ficam sem saber como tocarem no assunto. Têm receio de provocarem conflitos que culminem num rompimento traumático. Afinal de contas viveram momentos de intensa paixão e isso tem que ser considerado. Tudo o que faziam era combinado entre os dois. Estavam sempre unidos, na dependência um do outro.
“Mas de repente, fomos ficando cada dia mais sozinhos/Embora juntos cada qual tem seu caminho/E já não temos nem coragem de brigar”. O sentimento que os tornou enamorados minguava e isso fazia com que se sentissem cada vez mais distantes, mesmo que continuassem habitando o mesmo teto. Desaparecidos os desejos, as atrações recíprocas, a relação tornava-se tão fria que nem “vontade de brigar” tinham mais. Todo mundo sabe que uma história de amor se constrói também com brigas provocadas por ciúmes e inseguranças, e nem isso existia mais entre eles.
“Tenho pensado, e Deus permita que eu esteja errada/Mas eu estou, eu estou desconfiada/Que o nosso caso está na hora de acabar”. Difícil aceitar de maneira resignada o fim do caso, e torce para que esteja errada na percepção do desenlace. Mas os sinais são muito fortes de que o relacionamento caminha para o final, “está na hora de acabar”. Lamenta que não haja outro desfecho.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
