Política

‘O triste fim da Operação Lavajato’, por Éder Dantas


27/03/2021

Portal WSCOM



Em novo artigo, o professor Éder Dantas, da UFPB, analisa o julgamento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal -STF que apreciou o pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, concluído com placar de 3 a 2 a favor do habeas corpus do ex-presidente Lula.

Ele avalia também a destruição da imagem da Operação Lava Jato, tida anteriormente como a maior ação anti-corrupção da história, envolta em escândalos e que trouxe sérios prejuízos econômicos ao país.

 

O triste fim da Operação Lavajato

Éder Dantas*

 

Ao encerrar, na noite de ontem, o julgamento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal -STF que apreciava o pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, no caso do triplex do Guarujá, que tinha como réu o ex-presidente Lula e que pode se estender aos demais processos que a ele envolvem, concluído com placar de 3 a 2 a favor do habeas corpus do ex-presidente, o ministro Gilmar Mendes ajudou a destruir a imagem da Operação Lava Jato, tida anteriormente como a maior ação anticorrupção da história do país.

O ocaso da Lava Jato começou em 2019, quando começaram a aparecer as denúncias da Vaza Jato, expressão pela qual ficou conhecida, na imprensa brasileira, a série de vazamentos de conversas/tramóias, realizadas através do aplicativo Telegram, entre o ex-juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol (que se portaram omo adversários pessoais e políticos do ex-presidente Lula), além de outros componentes da força-tarefa de Curitiba. Essas conversas foram  inicialmente divulgadas pelo jornalista estadunidense Glenn Greenwald, do portal The Intercept e obtidas pela ação de hackers. Um deles, inclusive, Walter Delgatti Neto, após um ano e dois meses de prisão, revelou ter sido fã do Lavajatismo, coisa da qual se arrependeu.

Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese analisou o impacto da operação Lava Jato para a economia brasileira e apontou que cerca de R$ 172,2 bilhões deixaram de ser investidos no país entre 2014 e 2017. A pesquisa foi encomendada pela Central Única dos Trabalhadores – CUT. Ali se denunciou a ação do ex-herói nacional, um herói de araque, cuja imagem foi artificialmente construída por segmentos da mídia, conforme revelado no livro Moro – O Herói Construído Pela Mídia, de Tarcis Prado Junior.

O estudo do Dieese teve como objeto a Petrobras e o setor da construção, com base em um mapeamento de obras paralisadas e de valores não investidos pela empresa estatal. Como resultado, o país perdeu um investimento potencial equivalente a R$ 172,2 bilhões (a maior parte da Petrobras), que poderiam levar à criação de 4,4 milhões de postos de trabalho, durante o período, como desdobramento da operação. Do total, 1,1 milhão são do setor da construção civil. O estudo aponta para uma perda de 3,6% no PIB, com as ações lavajateiras. além de R$ 47 bilhões em impostos, recursos que poderiam ser muito úteis para melhorar a nossa educação básica e universidades, combater a fome ou ampliar as ações do Sistema único de saúde – SUS.

O valor de investimentos que o Brasil perdeu com a operação Lava Jato foi 40 vezes superior aos valores recuperados. Os dados mostram que a operação, propagandeada com uma das maiores de todos os tempos no combate a corrupção, na verdade, foi a principal responsável pela crise econômica e social que o país enfrenta. Ao invés dos lavajateiros focarem nas pessoas que cometeram malfeitos e preservarem a empresa, a Petrobras, assim como outras grandes empresas, tornaram esta um dos principais alvos da operação. Enquanto isso, as concorrentes estrangeiras fazem a festa, gerando riqueza lá fora.

A desastrosa Operação colaborou diretamente com a queda de uma presidenta legitimamente eleita e comprovadamente honesta, Dilma Roussef, fragilizou nossa democracia e ajudou na ascensão de um governo incapaz, autoritário e negacionista.

O Ministério Público Federal – MPF já dissolveu a força-tarefa da Lava Jato no Paraná, principal braço da operação. Parte dos investigadores passaram a integrar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal. Inúmeros processos foram abertos contra ex-membros da operação. De investigadores, viraram objeto de averiguação, enquanto o ex-presidente Lula, com a ficha-limpa, se prepara para viajar pelo Brasil no intuito de conversar com o povo sobre o enfrentamento à pandemia e a crise econômica e social que atinge o país e infelicita os cidadãos e cidadãs, diante da inércia do governo central.

 

*Professor da UFPB.


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